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Ele é também presidente da Fundação de Economia e Estatística do RS.
Novamente venho aqui comentar sobre as contas fiscais no
Brasil. Os números de julho chancelam a outrora percepção de que a situação
atual não é boa e atinge Governo Federal, Estados, Municípios e as empresas
estatais. A melhor forma de te explicar essa “bomba relógio” é a variável
necessidade de financiamento nominal. Dito de outra forma: “quanto que faltou
de recurso para o setor público fechar as contas, inclusive para pagar juros de
dívida”. Somente no mês de julho o déficit foi da ordem de R$ 72 bilhões,
ficando a maior parte a cargo do Governo Federal, com R$ 61 bilhões. Os Estados
entraram na dança, e a conta ficou deficitária em R$ 9,1 bilhões. E isso não é
um resultado pontual, vem aumentando a cada mês e assim deve continuar em um
ambiente de economia fraca, baixa confiança e na dificuldade dos gestores
públicos em produzir ajuste fiscal pelo lado da despesa. Para o leitor ter uma
ideia, a falta de caixa em todo o setor público no Brasil, para honrar esses
compromissos, atingiu a marca dos R$ 502 bilhões em 12 meses terminados em
julho. Sim, nunca na história desse país experimentamos uma situação parecida,
e que representa estratosféricos 8,8% do PIB. O que você tem com isso? Tudo.
Seremos nós a pagar essa conta, seja com mais impostos ou com piora da situação
social. E porque essa conta não fecha? Porque o Estado não consegue parar de
gastar. Boa parte disso é nossa culpa, que quer tudo de graça, desde remédios
até transporte público, passando por shows, cursos universitários e muitos
outros produtos e serviços subsidiados. E porque essa conta continuará a não
fechar no futuro? Porque esse déficit presente está virando dívida nova,
contribuindo para o estoque aumentar e, com ele, o total de juros que deverão
ser pagos no futuro, realimentando o processo. E porque teremos problemas
sociais? Porque em cenário de juro alto, os investimentos produtivos e o
consumo são menores, resultando em menor geração de empregos e renda. Além
disso, o juro elevado resulta em ganho de capital para quem tem capital, e as
classes mais baixas não o possuem e, portanto, não terão complemento de renda
do trabalho. Aliás, o passivo das classes de renda mais baixas é maior que o
ativo, ou seja, elas têm dívidas, resultando em desencaixe que só tende a
piorar com juros maiores. Ao final de alguns anos veremos, com certeza, a piora
na distribuição de renda.
É difícil reverter esse processo no curto prazo. Estamos
diante do ciclo de acúmulo de dívidas, principalmente por parte do Setor
Público. Para se ter uma ideia da velocidade em que ocorre essa piora nas
contas do Governo Central, que envolve o Governo Federal e o Banco Central,
somente nos sete primeiros meses de 2015 a dívida já aumentou em R$ 432 bilhões
e atingiu os R$ 3,68 trilhões (64,6% do PIB). E não bastasse todos os problemas
fiscais, ainda tem o impacto de R$ 55 bilhões da desvalorização da taxa de
câmbio sobre esse estoque de dívida. É uma deterioração muito rápida e que não
irá passar despercebida pelos analistas internacionais (leia-se agências de
classificação de risco). Mas, o que teremos pela frente? Com a economia fraca,
a arrecadação de tributos irá limitar a capacidade de o ajuste fiscal estancar
esse cenário negativo. Claro, não estou contando com corte de despesas. Mas não
acho que esteja cometendo uma heresia diante das últimas notícias de liberação
de verbas para o Congresso, reajustes de salários e diversas outras “bondades”
com o teu dinheiro. Então nos resta assistir de camarote a escalada da dívida,
mês após mês. E a próxima rodada importante será em outubro, quando vencem R$
142,9 bilhões de títulos prefixados. Certamente o Tesouro Nacional irá emitir
nova dívida para rolar essa que está vencendo. O problema é que há uma grande
diferença de custo nessa rolagem. Quando essa dívida foi emitida no passado, os
juros estavam em 9%, 8% e até 7,25%. Agora está em 14,25%. Por hora, as contas
fiscais não irão sentir esse diferencial de juro. Mas apenas essa parcela que
será rolada irá custar, para o brasileiro, cerca de R$ 8 bilhões ao ano. As
perspectivas para 2016 também não são das melhores, pois estão programados
vencimentos de R$ 419 bilhões em dívida do Governo Central, dos quais R$ 326
bilhões são prefixados. Ou seja, continuaremos a substituir dívida emitida no
passado com juro mais baixo por outra com juro maior, aumentando ainda mais o
custo financeiro para carregar o Estado. Se o Governo começar a agir de forma
séria, mostrando que realmente está comprometido com o ajuste das contas
públicas, o custo dessa trapalhada econômica dos últimos anos, será pago apenas
por essa geração. Caso contrário, teu filho não irá gostar muito do que vai
receber de herança.
Um comentário:
Câmara dos deputados gasta no primeiro semestre R$ 55.000.000,00 com horas extras. Isto é crise.
Cada senador pode ter 55 CC's. Alguns tem mais. Isto é crise.
Dilma tem 39 ministros. Se hospeda nos hotéis mais caros do mundo. Gasta fortunas com limousines. Fora os boatos de que manda comprar aparelho de chá/café novos quando considera que a louça servida não está sua altura. Isto é crise.
Judiciário com auxílio moradia, penduricalhos infindáveis. Isto é crise.
Funcionários públicos pleiteando 30 horas de trabalho. Isto é crise.
Enquanto isto, a população aguarda pelos constantes aumentos de impostos.
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