Foi inesperado e constrangedor o escândalo póstumo ocorrido no governo Tarso Genro, do PT, mas não foi surpreendente. O inédito caso da localização do comissário Nilson Aneli na cena do crime que resultou na execução do traficante Xandi, poderia até passar como mais um episódio policial inaceitável, mas ganhou relevância política quando os jornalistas descobriram que ele trabalhou até o dia 31 como homem de confiança do gabinete do secretário da Segurança, Airton Michels, e que além disto, por interferência de Michels, que é promotor, foi cedido no apagar das luzes do governo para o Ministério Público. Foi o último ato do secretário em relação ao seu chefe de segurança. O penúltimo foi elogiá-lo publicamente em ato divulgado no Diário Oficial. O episódio levanta suspeitas sobre o que aconteceu na área durante os quatro anos do governo do PT. Michels não falou. O ex-governador Tarso Genro, que tem usado o Twitter como arma política para fustigar o governo Sartori, também não usou 142 toques por mensagem para falar no assunto.
. Leia a nota do jornal Zero Hora:
Um policial civil que até quinta-feira era lotado no gabinete
do então secretário da Segurança, Airton Michels, está sendo investigado por
suposta ligação com otraficante executado em Tramandaí, no domingo.
Conforme apurado até o momento, o comissário Nilson Aneli
estaria participando de um churrasco na casa do traficante Alexandre
Goulart Madeira, o Xandi, no momento em que o criminoso foi morto com um tiro
de fuzil por uma quadrilha rival.
Ainda no domingo, durante as primeiras apurações, Aneli,
que está há 33 anos na corporação, se apresentou ao delegado Paulo Perez, de
Tramandaí, e afirmou que chegou à casa do traficante minutos após o tiroteio,
depois de saber que um sobrinho estava no local e fora baleado.
Depoimentos de suspeitos e de testemunhas, no entanto,
contradizem a versão. Três pessoas presas em flagrante por posse do arsenal
apreendido na casa do traficante disseram que Aneli estava lá na hora do
tiroteio e mais: que algumas das armas pertenciam a ele.
Além disso, testemunhas disseram que logo depois do
ataque, dois homens saíram da casa revidando os disparos. Um seria grisalho. Ao
ver fotos de Aneli, as testemunhas o reconheceram. Também um policial militar
que chegou ao local cerca de dois minutos depois do tiroteio encontrou Aneli já
no portão da casa onde havia um morto e dois baleados.
A Corregedoria da Polícia Civil abriu procedimento para
verificar se Aneli trabalhava fazendo segurança para Xandi, considerado um dos
maiores traficantes da Região Metropolitana. Zero Hora apurou que, com a troca
de governo, Aneli havia sido cedido para o Ministério Público a pedido de
Michels, que retoma o cargo de promotor depois de comandar a Segurança por
quatro anos.
No Diário Oficial desta segunda-feira, Aneli foi elogiado
por Michels em uma portaria de louvor por serviços prestados: "Louvar os
Comissários de Polícia Nilson Aneli (e outros dois policiais) considerando que,
com grande zelo, competência, abnegação e espírito público, que transcenderam
suas obrigações funcionais, sendo essenciais no desempenho de suas atividades
junto ao Gabinete da Secretaria da Segurança Pública do Estado do Rio Grande do
Sul."
Aneli era chefe da segurança do então secretário.
Michels, que desde domingo está tratando do problema de saúde de um familiar,
disse na tarde desta segunda-feira que tem as informações iniciais do caso e
aguarda a investigação da Polícia Civil. Michels confirmou que a seu pedido
Aneli fora cedido para atuar no MP.