Depois de confirmar que ele é dono de um tríplex reformado e
mobiliado pela OAS, empreiteira punida no escândalo do petrolão, promotores
enquadram o ex-presidente numa das modalidades clássicas do crime de lavagem de
dinheiro. É o que revela hoje a revista Veja em reportagem de capa assinada pelo repórter Robson Bonin.
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Um truque recorrente na carreira política do
ex-presidente Lula é reescrever a história de modo a exaltar feitos pessoais e
varrer pecados para debaixo do tapete. Mas os fatos são teimosos. Quando se
pensa que estão enterrados para sempre, eles voltam a andar sobre a terra como
zumbis de filmes de terror. O mensalão, no plano mestre de Lula, deixaria de
existir se fosse negado três vezes todas as noites antes de o galo cantar. O
petrolão, monumental esquema de roubalheira na Petrobras idealizado, organizado
e consumado em seu governo - e, segundo testemunhas, com reuniões no próprio
gabinete presidencial -, entraria para a história como mais um ardil dos
setores conservadores da sociedade para impedir o avanço dos defensores dos
pobres. Nem o mais cego dos militantes do PT ainda acredita nessas patacoadas
que afrontam os fatos. Sim, os fatos, sempre eles. O tríplex de Lula no Guarujá
é outro desses fatos que o ex-presidente esperava ver se dissipar no meio do
redemoinho. Mas o tríplex está lá com seu elevador privativo e linda vista para
o Atlântico, e vai continuar. De nada adiantou a pregação de Lula, na semana
passada, para seu coro de blogueiros chapa-branca muito bem remunerados com o
dinheiro escasso e suado do pobre povo brasileiro: "Não tem uma viva alma
mais honesta do que eu. Pode ter igual, mas eu duvido". Pode até ser que a
alma não veja o que o corpo faz e se entretenha no engano, mas a opinião
pública há muito tempo não se ilude mais com essas mandingas autolaudatórias de
Lula.
Pelo tríplex que queria manter clandestino, Lula será
denunciado pelo Ministério Público por ocultação de propriedade, uma das
modalidades clássicas do crime de lavagem de dinheiro. A denúncia contra o
ex-presidente decorre da investigação de fraudes em negócios realizados pela
Bancoop, cooperativa habitacional de bancários que deu calote em seus
associados enquanto desviava recursos para os cofres do PT. A Bancoop quebrou
em 2006 e deixou quase 3.000 famílias sem seus imóveis, enquanto viam, inermes,
petistas estrelados receber seus apartamentos. Em abril do ano passado, VEJA
revelou que, depois de um pedido feito por Lula ao então presidente da OAS, Léo
Pinheiro, seu amigo do peito condenado a dezesseis anos de prisão no petrolão,
a empreiteira assumiu a construção de vários prédios da cooperativa. O favor
garantiu a conclusão das obras nos apartamentos de João Vaccari Neto, aquele
mesmo que, até ser preso pela Operação Lava-Jato, comandou a própria Bancoop e
a tesouraria do PT. A OAS assumiu também a reforma do tríplex de 297 metros
quadrados no Edifício Solaris, de frente para o mar do Guarujá, pertencente ao
ex-presidente Lula e a sua esposa, Marisa Letícia.
A OAS desempenhou ainda o papel de "laranja" de
Lula, passando-se por dona do tríplex. A manobra foi cuidadosamente apurada
pelos promotores do Ministério Público de São Paulo, que trabalham a apenas
quinze minutos de carro da sede do Instituto Lula. Durante seis meses, eles se
dedicaram a esquadrinhar a relação entre a OAS e o patrimônio imobiliário dos
chefes petistas. Concluíram que o tríplex no Guarujá é a evidência material
mais visível da rentável parceria de Lula com os empresários corruptores que
hoje respondem por seus crimes diante do juiz Sergio Moro, que preside a
Operação Lava-Jato.
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