Nas últimas 48 horas depois que a governadora Yeda Crusius anunciou no portão de embarque que não viajaria mais para os Estados Unidos, temendo um golpe, os políticos – inclusive governantes – e a mídia permaneceram em silêncio sepulcral sobre o assunto. Aparentemente ninguém esteve e está interessado em responder duas questões vitais para o futuro da crise política no RS: como ocorreria o golpe e quem seriam seus protagonistas ?
. Em busca desta resposta foi o editor, que narra a seguir o que ficou sabendo:
. A governadora Yeda Crusius embarcou no final da tarde desta sexta-feira no King Air do governo do RS para São Paulo, de onde apanharia o vôo internacional que a levaria aos Estados Unidos. Nos EUA, uma programação de uma semana esperava por ela. A principal agenda era uma reunião com o Banco Mundial, destinada a apressar a liberação dos US$ 650 milhões que ainda faltam para completar o empréstimo de US$ 1,2 bilhão destinado a repactuar parte da dívida pública do RS. O empréstimo é o maior do gênero jamais concedido a qualquer ente público da América Latina pelo Bird.
. A viagem de Yeda custaria algo como US$ 40 mil, segundo cálculos de uma jornalista local de oposição (“Ainda bem que o dinheiro foi poupado”, arrematou na sua pequena nota, ignorando os benefícios que o RS teria com o desembarque dos US$ 650 milhões da segunda tranche do empréstimo de US$ 1,2 bilhão, que só no ano passado produziu ganhos de R$ 100 milhões aos cofres públicos gaúchos, decorrentes da repactuação de parte da dívida pública e resultado dos juros menores (0,35% ao ano contra 10% cobrados pelo governo Lula) e do alongamento da dívida. Este ganho pode ser investido no setor público do RS – e o novo também será).
. Quando saiu de Porto Alegre, no final da tarde de sexta-feira, Yeda já dispunha de sinais inquietantes sobre novas ações subversivas destinadas a desestabilizar o seu governo, pela ordem:
1) O Ministério Público Federal já tinha alcançado cirurgicamente para a RBS TV, um vídeo de uma hora e meia, contendo uma patética e inédita delação não premiada do vice Paulo Feijó ao MPF, repetindo pesadas denúncias, novamente sem provas, contra Yeda, empresários gaúchos e líderes do PSDB.
2) Consolidou-se como golpista a declaração feita no meio da semana por Feijó, segundo a qual atacaria qualquer membro do governo que estivesse em ato público representando Yeda, já que seria ele o representante.
. Ainda assim, a governadora resolveu viajar para o exterior, porque a Constituição do RS permite que o governador se afaste do RS e do Brasil pelo período de até 15 dias, sem passar o cargo.
. Assim que desembarcou do King Air, em São Paulo. Yeda passou a atender sucessivos e intranqüilizadores telefonemas disparados desde Porto Alegre. O cenário político local, protagonizado pelo Eixo do Mal, passou a apresentar conformação golpista.
. Eis a sucessão de eventos:
Terça-feira – Feijó declara que não respeitará representante do governo que não seja ele mesmo.
Quarta – Denúncias desarquivadas sobre compras para a segurança e a casa da governadora, são apresentadas como escândalo político do dia, visando desestabilizar a votação do relatório inocentando Yeda na Comissão Especial do Impeachment. O rebate era falso. A denúncia durou apenas 24 horas.
Quinta-feira – O deputado Raul Pont ameaça a relatora Zilá Breitenbach, por pouco não inviabilizando a votação do relatório favorável a Yeda.
Sexta-feira – A RBSTV recebe o vídeo completo com a delação não premiada de Feijó. O MPF liberou o vídeo com exclusividade para a RBS, que se apressou a colocar tudo no ar, armando nova tempestade política. O material circula pelo Estado e pelo País como um rastilho de pólvora. O vídeo comprova denúncia do editor, segundo a qual a deputada Stela Farias forçara uma montagem grosseira da fala de Feijó na semana retrasada. Basta compara-los.Os deputados Sandro Boka e Iradir Pietroski querem que Stela se explique e pedirão perícia sobre o falso vídeo.
- Durante o dia, ganharam corpo as informações de que Yeda poderia ser golpeada durante sua ausência. Ao desembarcar em São Paulo, a governadora recebeu novas informações. Ela abortou a viagem. No dia seguinte, denunciou tudo via rádios de Porto Alegre. Yeda não contou o enredo e nem deu nomes aos bois. Ela não quis meter fogo no circo.
. A versão mais corrente sobre o enredo criminoso, recolhida pelo editor em várias fontes:
. No caso deste golpe, o protagonista seria o Fórum dos Servidores Públicos, uma espécie de MST dos sindicatos aparelhados pelo PT. O Fórum é presidido por Rejane de Oliveira, presidente do Cpergs e ativista do PT. Foi a entidade quem pediu o impeachment.
1) Seria o Fórum dos Servidores o autor da ação com pedido de liminar, que resultaria na posse de Feijó.
2) Concedida a liminar (“Um juiz de plantão” faria isto, segundo escreveu a editora de Políica de Zero Hora, nesta segunda-feira), Feijó poderia apresentar-se no Piratini com um oficial de justiça.
3) Ato contínuo, o presidente da Assembléia, Ivar Pavan, do PT, poderia convocar extraordinariamente a Assembléia e declarar a vacância do cargo de governador, dando posse a Feijó.
. Os jornais de sábado, que já dava Yeda nos EUA, na capa, contou parte do plano, exatamente a trama para o ajuizamento da ação em favor de Paulo Feijó por parte do Fórum dos Servidores Públicos.
. Durante o domingo, Rejane Fernandes, a presidente do Fórum dos Servidores Públicos, negou (o golpe) a intenção de ajuizar a ação para beneficiar Feijó, desmentindo a nota dos jornais. Em Punta, o vice Paulo Feijó apressou-se a avisar que não tinha nada a ver com a trama. A ação do Fórum seria a legítima “litigância de má fé”, porque a Constituição do Estado do RS é clara sobre ausências de governadores. Uma liminar, neste caso, não passaria de um golpe de Estado.
- O editor desta página considera que o cenário político gaúcho chegou ao fundo do poço. O RS virou um novo Nordeste. O que ocorreu neste final de semana é uma trama diabólica que exige amplas explicações. Não estão em jogo apenas os interesses de Yeda, mas também os da sucessão no Estado e suas implicações nacionais. Lula e o PT não ganham eleições presidenciais há oito pleitos no RS. Existem outros sinais inquietantes ocorridos entre quarta-feira e domingo, atingindo gravemente os interesses de pessoas ligadas ao governo ou à defesa das instituições republicanas no RS. A sociedade gaúcha não merece conviver com o tipo de macartismo que se instalou no Estado. O cenário local atemoriza os atores políticos atacados pelo Eixo do Mal. O próprio governo vai sendo asfixiado. Burocratas de vários escalões travam decisões com receio de que seus atos, mesmo os mais legais, sejam conduzidos ao pelourinho público, já que o denuncismo macartista não escolhe vítimas. O Rio Grande é exibido em redes de TV e de Web como terra de bandidos políticos. Pais de família que se colocam ao lado de Yeda são ameaçados fisicamente, grampeados e intimidados.