Eliseu Santos não era um semeador de tempestades

O jornal Zero Hora é o principal jornal do RS e o jornalista Marcelo Rech, diretor-Geral de Produto do grupo RBS, ex-diretor de redação, é reconhecido pela enorme competência profissional, mas ambos se equivocaram drasticamente na cobertura que fizeram na edição deste sábado sobre o assassínio do ex-secretário municipal da Saúde, Eliseu Santos.

. A cobertura é até desespeitosa, além de dramaticamente equivocada.

. O artigo principal das quatro páginas de reportagens é justamente de Marcelo Rech, intitulado “Os semadores de tempestades”. Ele armou a tese em cima de circunstâncias apressadas, elaborando um roteiro de conspirata política tosca, e a RBS toda foi atrás e não mudou até as 13h deste sábado. A hipótese mais provável é a mais comum: assalto e morte. Não é a que mais emociona e nem a que mais interfere na sucessão estadual. A tese da execução tem componentes políticos que ajudam Tarso Genro e prejudicam José Fogaça. Só não vê isto quem não quer ver nada. O jornal só faltou chamar o xerife (Gaspareto) para apurar o caso.

. A comparação com o Caso Daudt é consequência do equívico e é inapropriada. Mesmo que o caso fosse de execução, as duas situações são incomparáveis. Afinal de contas, Daudt construiu sua carreira jornalística e política em cima do confronto, da polêmica continuada e até de ataques pessoais, sem contar os aspectos ligados à sua homossexualidade.

. É até aceitável que o jornalista José Antonio Daudt seja tratado como um semeador de tempestade, mas este definitivamente não é o caso de Eliseu Santos. Os entreveros políticos dos quais participou, foram escassos, nunca resultaram de desforços pessoais e jamais tiveram qualquer componente sexual.

. No RS, somente políticos desfibrados não semeiam tempestades.

. O jornalista Marcelo Rech e o jornal Zero Hora, além disto, não deixam claro que semeadores de tempestades – reais ou imaginários – não podem ser abatidos a tiros pelos adversários contrariados.

. A análise fria do assassínio de Eliseu Santos é tão cínica quanto a declaração de Lula sobre a morte de Zapata:
- Zapata morreu porque fez greve de fome. Caso quisesse continuar vivo, bastaria não fazer greve de fome.

. No caso dos semeadores de tempestades, para continuarem vivos, bastaria não se envolverem em polêmicas.

. Para os familiares e amigos que conviveram estreitamente com Eliseu Santos, como é o caso do próprio editor, que não o conheceu apenas em arroubos de santas e justas indignações, a sua morte precisa ser bem apurada. A tese menos aceita pela RBS (os bandidos queriam o carro e tirotearam com o proprietário dele) é a que mais parece verdadeira, por duas razões elementares: 1) assassinos de aluguel não emboscam a vítima na frente de todo mundo. 2) Santos, ao atirar por sete ou dez vezes seguidas, obviamente só fez isto porque ainda estava vivo - atirou ao ser abordado ou no decorrer do tiroteio (assassinos de aluguel não dão chance de reação à sua vítima).

CLIQUE na imagem acima para ler o artigo de Marcelo Rech, de Zero Hora.

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