Entrevista, Armínio Fraga, Folha - Temos hoje um país que está morrendo de medo

Nesta entrevista para a repórter Raquel Landim, o ex-presidente do Banco Central e assessor econômico de Aécio na campanha, diz que é preciso discutir o tamanho do Estado.

Leia toda a entrevista, publicada neste domingo pela Folha de S. Paulo:

Principal assessor econômico do candidato derrotado à Presidência Aécio Neves (PSDB), o economista Armínio Fraga diz que hoje o Brasil está morrendo de medo de tudo: recessão, inflação, desemprego.

"A campanha foi um show de mentiras. Agora o custo é este: um país morrendo de medo", disse à Folha.

Na época, a presidente Dilma foi acusada de disseminar entre a população o medo de crise e arrocho se houvesse vitória da oposição.

Ele afirma que Dilma expõe o ministro Joaquim Levy (Fazenda) ao escalá-lo para discutir o ajuste fiscal com o Congresso.

"Mandaram o general para a linha de frente com uma espada na mão", comparou.

Para o economista, que presidiu o Banco Central no governo FHC e hoje é sócio da Gávea Investimentos, o governo deveria ter optado por uma meta de superavit primário (receitas menos despesas) menor neste ano. A seguir, trechos da entrevista.

Folha - A economia brasileira amargará 1,5% de recessão neste ano. O que está ocorrendo?
Armínio Fraga - O governo chutou o pau da barraca [do gasto público] nas eleições e agora paga a conta. Isso já tinha acontecido no início do primeiro mandato da presidente Dilma. A situação hoje é pior porque o país entrou muito torto na história. A evolução da dívida é assustadora, e a recessão morde firme. É possível ver isso na indústria, no setor imobiliário.Hoje o quadro está sendo tratado de maneira mais razoável, mas ainda insuficiente. O ajuste fiscal não vai resolver tudo. É preciso cortar mais o gasto, que é rígido.

Os empresários reclamam que o governo cortou investimentos, mas não reduziu gastos. Qual é a sua opinião?
O ajuste fiscal requer um debate profundo sobre o tamanho do Estado. Não vou nem discutir qual é o tamanho do Estado ideal. Alguns países deram certo com um Estado grande, como os escandinavos. Outros funcionam com um Estado menor, como os EUA. Só que o Estado precisa ser funcional e hoje temos um Estado meio capturado. Sem essa discussão, o ajuste está sendo feito do jeito que dá. Algumas medidas são boas, mas há problemas. Surgiu essa história de acabar com o fator previdenciário [que desestimula a aposentadoria precoce], que considero uma loucura.

O PSDB votou contra o fator previdenciário. O que você acha da posição do partido?
Não falo pelo PSDB. Tenho simpatia pelo partido e gosto de trabalhar com o ex-presidente Fernando Henrique e com o Aécio. O partido foi infeliz no tema do fator previdenciário, mas tem agido bem. O PSDB tem que ser o bastião de grandes ideias e princípios. Nessa confusão toda, não é fácil.

Qual é o efeito da crise política na economia?
A situação política é caótica. O país tem 32 partidos, 29 representados no Congresso e quase não existe discussão de programa de governo. Há essa percepção de que a política está terceirizada para o PMDB, mas claramente o PT não está satisfeito. A oposição tenta se posicionar, mas ainda não engrenou o ritmo.

Por que o governo não faz reformas estruturais?
O Levy lida com muitas restrições, inclusive da chefe dele, que é responsável por tudo isso que está aí. É uma situação muito constrangedora. Ele está muito exposto [negociando com o Congresso]. Mandaram o general para a linha de frente com uma espada na mão, algo que não se via há 500 anos. É da época de Alexandre, o Grande.

Na sua opinião, o governo deveria reduzir a meta de superavit primário?
O superavit de 1,2% do PIB foi planejado com estimativas muito otimistas para a economia. Desde o início, o governo deveria ter optado por uma meta menor no primeiro ano e mais ambiciosa nos dois anos seguintes. Agora, mexer na meta não é fácil.

Mas a arrecadação não está correspondendo às expectativas. Não é melhor assumir que não dá para cumprir a meta?
Não sei o que eles vão fazer. A minha opinião é que deveriam ter colocado uma meta menor neste ano e deixado claro qual é o pagamento das "pedaladas" passadas. Classificar direito o que é uma conta do passado e o que é um ajuste permanente.

O governo tem armas para combater a recessão?
A capacidade de reação do governo está prejudicada pela inflação alta e por um Orçamento muito precário. Portanto, as ferramentas anticíclicas tradicionais não estão disponíveis em razão de uma herança que Dilma deixou para ela mesma. É uma situação muito difícil, e quem vai pagar o pato, como sempre, é a população.

Até quando vai a recessão?
É preciso não confundir. Vivemos um ciclo de curto prazo provocado pelo aquecimento da economia antes das eleições e temos um problema de médio prazo. Daqui a um ano ou um ano e meio, podemos até sair do ciclo de curto prazo, mas teremos questões estruturais. Agora, se ficar claro que existem respostas para as questões estruturais, ajuda a quebrar o ciclo porque as empresas se animam a investir. 

O governo está tentando estimular investimentos com o programa de concessões de infraestrutura.
Sim. Mas tem tido uma imensa dificuldade de executar os projetos. E vão utilizar esse dinheiro para vencer as contas do ano, enquanto deveriam abater dívidas. Na campanha eleitoral, você foi criticado por dizer que o país entraria em recessão, e hoje isso se concretizou. Como você se sente? Aquilo foi um grande teatro, um show de mentiras. O Aécio e o Fernando Henrique falaram isso o tempo todo. O custo é este: temos um país morrendo de medo.

Com medo de quê?
De tudo: recessão, desemprego, inflação. Não sou político, vivo de administrar o dinheiro dos meus clientes. Se for pessimista, estou acabado, mas tenho que ser realista. A situação não está boa.

As empresas estão demitindo. A situação vai piorar?
Infelizmente, acredito que não chegamos ao fundo do poço. Espero estar errado, mas analiticamente não estamos nem perto disso. Havia um represamento de demissões em razão das incertezas que as eleições geram. Agora a situação ficou clara e as empresas demitem.
Esse ciclo, no entanto, ainda mal começou.

Qual é o impacto do aumento do desemprego?
As centrais sindicais, que sempre foram a base do PT, já estão reclamando. Existe uma briga no próprio governo. Pode gerar mais manifestações de ruas e mais dificuldades para aprovar o ajuste fiscal. Governar nesse contexto não é fácil.

O BC exagerou na alta de juros para atingir a meta de inflação de 4,5% no fim de 2016?
É uma meta muito ambiciosa. Dá para chegar a esse resultado em dois anos, mas vai exigir disciplina e um pouco de sorte. Talvez fosse mais fácil deixar para 2017.O problema é que a inflação está acima da meta há bastante tempo, as contas públicas se deterioraram e o país ameaça perder a classificação de risco. Se o governo tivesse mais credibilidade, poderia ser mais gradual.

8 comentários:

Anônimo disse...

É o legado da COPA DO MUNDO (entre outras) !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! E o povao bateu palmas é o mesmo que uma familia sem condicoes financeiras fazer a festa de casamento em Paris uma hora a conta vem.

Anônimo disse...

Armínio Fraga: 'guru anticrise' ou 'vassalo dos mercados'?

Ruth Costas - Da BBC Brasil em São Paulo

17 outubro 2014

Arminio Fraga (DIvilgacao - PSDB)

Ex-presidente do Banco Central conquistou prestígio e reconhecimento, mas também detratores ferrenhos

O ano era 1999 e o economista Armínio Fraga, participava de uma sabatina no Congresso antes de assumir a presidência do Banco Central (BC).

"Então quer dizer que você é o 'gênio do mal'?", perguntou o senador Saturnino Braga. "Não sou gênio, mas sou do bem", garantiu o economista, com a calma fria que lhe é característica.

Na época, Fraga era a aposta do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para tentar evitar uma volta à hiperinflação, após a desvalorização do real e abandono do regime de câmbio fixo.

Seus críticos, porém, destacavam o fato de ele ter trabalhado nos Estados Unidos com o investidor George Soros – que ganhou fama por especular com moedas estrangeiras.

"Será uma raposa tomando conta do galinheiro", diziam uns. "Um vampiro guardando o banco de sangue", atacou o senador Lauro Campos, do PT.

Quinze anos depois, a reputação e as propostas de Fraga voltam ao centro do debate nacional.

O candidato do PSDB a presidência, Aécio Neves, já anunciou que, se vencer, o ex-presidente do BC será seu ministro da Fazenda. Ou seja, nesse caso recairá sobre seus ombros a tarefa de retomar o crescimento da economia.

O anúncio, porém, também fez com que Fraga se tornasse alvo da campanha da presidente Dilma Rousseff, do PT, que o retrata como um inimigo dos programas sociais e do pleno emprego, ou um "vassalo" do mercado financeiro.

"Com ele no comando do BC, as taxas de juros chegaram a 45% ao ano, a inflação passou dos 12% e o Brasil foi duas vezes de joelhos pedir dinheiro ao FMI", diz uma propaganda petista, antes de arrematar: "Armínio Fraga: Aécio quer, mas ninguém merece."

(...)

No Banco Central

No Banco Central, a passagem de Fraga foi marcada por turbulências. Em 1999, quando ele foi convidado para assumir o cargo, o governo havia acabado de permitir a flutuação da moeda, o que provocou sua desvalorização.

O real circulava há apenas cinco anos e até então o câmbio fixo fora usado como garantia de sua estabilidade.

O sistema, porém, começou a ruir em função de problemas na balança comercial e da redução das reservas – sucumbindo na esteira das crises provocadas pelas moratória da Rússia (em 1998) e de Minas Gerais (início de 1999).

(...)

Anônimo disse...

Alguem poderia informar quanto era os juros no Brasil, na época que Arminio Fraga era Presidente do BC, quando o Presidente era FH, do PSDB?

Anônimo disse...

Alguem poderia informar quanto era os juros no Brasil, na época que Arminio Fraga era Presidente do BC, quando o Presidente era FH, do PSDB?

Anônimo disse...

VASSALO DO BRADESCO/LULA/DILMA as 10:52!

Emmanuel disse...

As papagaíces dos petistas contra Armínio Fraga ...
Seja como for, é curioso perceber que até ele - acusado de ser defensor do capital, dos especuladores e coisas assim - não vai direto ao ponto: o estado é grande demais, é intervencionista e onipresente. Com esse péssimo background, o estado chama o seu corolário inerente: a corrupção!
O estado é necessariamente um mal! Não que o estado seja um mal necessário; é pior: só a sua existência já é o mal, de sorte que precisa ser limitado, controlado, fiscalizado ... e, colocado no seu lugar quando extrapola. E, convenhamos que no Brasil, nos últimos quinhentos anos, o estado extrapola demais ... e a corrupção? A maior da história! E vivam os comunistas, porque, dialetos daqui e dali, e o resultado é sempre o mesmo: o povão pagando a conta.

Anônimo disse...

AVISO DE UTILIDADE PARA PETRALHAS:
O Brahma avisa que é MENTIRA, intriga DAZELITE que vai faltar PIXULECOS para a cumpanherada, houve pobrema de troca de endereço da tesouraria, tão logo resolva o pobrema todos vão receber, vai
haver um pixulecamento como de costume, TULIPA?
Assinado-Brahma, mulher sapiens e vacca

Anônimo disse...

Resumindo: vá ao super mercado e veja a mudança no preço de gêneros de primeira necessidade, do início do ano até hoje! Isso explica tudo ou querem mais!

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