Artigo, Celso Ming, Estadão - A tempestade adiada

Mais em menos área
As safras serão recordes não só em volume de produção, mas também em produtividade por área de plantio. Nas contas divulgadas nesta sexta-feira pelo IBGE, a produção crescerá 8,8% numa área plantada de 57,7 milhões de hectares, apenas 2,0% maior do que a de 2014. Também nesta sexta, a Conab divulgou a sua primeira projeção para a safra de 2016. O volume total deve variar de 210,3 milhões a 213,5 milhões de toneladas, um aumento de até 1,7% sobre a safra estimada para 2015

O adiamento do início do processo de alta dos juros nos EUA é fato positivo para o Brasil, mas há uma outra tempestade, exclusivamente nossa, por aqui

O Brasil trocou de tempestade, mas as consequências são mais ou menos as mesmas. Pior, duas tempestades perfeitas podem cruzar o território e aí é possível que falte cinto de segurança.

Há alguns meses, certos analistas econômicos pesos pesados advertiam que era iminente o início do processo de alta dos juros nos Estados Unidos. Seria um movimento que pegaria a economia brasileira no contrapé, o dólar se valorizaria em todo o mundo, seria inevitável uma fuga de capitais do País e os juros para a rolagem da dívida estrangeira também subiriam. Além disso, a alta do dólar puxaria para baixo os preços das commodities, produtos que alcançam quase 50% das exportações brasileiras.

Isto posto, de todo mundo – e não só os do Brasil – os olhares voltavam-se para o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) à cata de sinais que pudessem apontar quando afinal começaria a retirada de dólares da economia e, com ela, a alta dos juros.

 Para quem chegou agora, esses dólares a serem drenados do mercado fazem parte de um descomunal estoque de US$ 3,5 trilhões que o Fed despejou a partir de 2008, por meio da compra de títulos, para enfrentar a escassez de moeda produzida pela crise financeira. O despejo foi suspenso em outubro de 2014 e, de lá para cá, o Fed procura o momento certo para iniciar o enxugamento.

A Ata da última reunião do Fed, divulgada quinta-feira, avisa que a autoridade monetária dos Estados Unidos só está à espera de um aumento da inflação, que persiste excepcionalmente baixa, em torno do 0,5% ao ano. Explicando melhor: o Fed opera o volume de moeda na economia procurando conjugar dois objetivos: baixo nível de desemprego e inflação em torno dos 2% ao ano. O desemprego caiu de acima de 7,0% para 5,1% (dado de agosto), mas a inflação segue teimosamente perto do zero por cento. Retirar moeda da economia tenderia a rebaixar ainda mais a inflação, o que poderia resvalar para a deflação, que ninguém quer, porque leva o consumidor a adiar as compras, aumenta o valor das dívidas e tende a reduzir a arrecadação.

É verdade que o principal fator que derrubou a inflação nos Estados Unidos e nos demais países avançados foi o mergulho dos preços do petróleo. Daí não se espera mais pressões baixistas, mas alguma coisa nova parece acentuar a tendência ao achatamento dos preços. Pode ser, por exemplo, o uso ainda mais intensivo de Tecnologia de Informação ou a redução generalizada dos estoques.

Se a justificativa do Fed tem toda essa importância, então pode-se trabalhar com a hipótese de que a operação de enxugamento de dólares não acontecerá neste resto de ano e pode não acontecer antes de meados de 2016 – a depender das surpresas e dos imponderáveis que sobrevierem na economia mundial. Ainda assim, não basta saber quando o processo será iniciado. É preciso, também, saber qual será sua intensidade.

O sucessivo adiamento do início dessa tempestade é fato positivo para o Brasil. Mas a outra tempestade, a exclusivamente nossa, continua aí, castigando a economia e a população. Se esta não for debelada logo, o risco é o de que tenhamos de lidar com as duas juntas.

.

3 comentários:

Anônimo disse...

P.Q.P.!

Unknown disse...

Ola , até onde eu sabia a alta do dolar aumenta o preço das commodities e baixa???

elias disse...

Isso já era esperado(FED) há algum tempo

Incrivel é que ninguém fala do banco central da china, com o mesmo problema!
E pior - o nosso BANCO CENTRAL - que , por cima, tem uns 3 trilhões para desovar das intervenções feitas e mal feitas, inclusive no BNDES para financiar tudo - menos nosso crescimento!

Podem esperar, mas haverá a desova. Não existe, nunca existiu e nunca existirá almoço grátis. Só para a nomenklatura daqui e de lá.

https://api.clevernt.com/e46a5348-350f-11ee-9cb4-cabfa2a5a2de/https://api.clevernt.com/e46a5348-350f-11ee-9cb4-cabfa2a5a2de/