O economista José Roberto Mendonça de
Barros, 71, sócio da MB Associados, concedeu entrevista para a repórter Raquel Landin, publicada na Folha de S. Paulo deste domingo, e avisou que o Banco Central exagera no
aumentos de juros e agrava a recessão.
Leia toda a entrevista:.
Folha - Por que a economia brasileira está em recessão?
José Roberto Mendonça de Barros - A economia
brasileira está caindo em degraus, e não desacelerando devagar. Tivemos uma
combinação de crise política e ajuste fiscal. Logo no primeiro mês do mandato a presidente perdeu o
poder de determinar a agenda do país para o Congresso. Isso jamais aconteceu e
teve um efeito imediato nas expectativas para a economia. No fim de janeiro, já estava totalmente claro que
tínhamos grandes problemas em grandes setores.
Que setores?
Houve uma parada súbita de vendas no setor automotivo e
no mercado imobiliário. Além disso, temos a crise na Petrobras e em seus
fornecedores. Com esses três setores paralisados, está configurado um grande
problema de PIB. A crise da Petrobras ajudou a paralisar o mercado de
crédito e consolidar a virada no mercado de trabalho. No início do ano, a Petrobras suspendeu contratos com
fornecedores, que desativaram obras no país inteiro: as refinarias no Nordeste,
o Comperj, a fábrica de fertilizantes em Mato Grosso. Quando desmancha um
canteiro de obras desse porte, é a rádio peão ao vivo dizendo que o mercado de
trabalho virou de forma definitiva.
O desemprego vai aumentar?
O desemprego vai subir continuamente até o fim do ano e
chegar a um patamar de 9%. Como a taxa estava em apenas 5%, será um aumento
significativo. As demissões vão continuar ocorrendo porque nem todas as
empresas perceberam rapidamente que o mercado tinha virado. O comércio ainda estava vendendo bem. Na construção
civil, chega a um ponto em que a obra não pode parar. No setor automotivo, os
acordos com sindicatos são muito cheios de regras. Por isso, demorou para o
ajuste no mercado de trabalho ocorrer.
Existe algum setor da economia que vai bem?
A rigor, só agronegócio, tecnologia da informação e um
pouco da área de saúde. É insuficiente para gerar uma recuperação da atividade. Construção civil, indústria de máquinas, setor
automotivo, petróleo, setor elétrico --todos os grandes setores pararam de
investir. E, com o desemprego, os consumidores vão reduzir a demanda, o que
afeta o comércio. Poucas vezes na economia vimos tantos setores piorarem
tão fortemente ao mesmo tempo. Também não podemos contar com a exportação,
porque demora uns dois anos para as vendas reagirem. Ou seja, hoje não temos fonte de crescimento do PIB.
Há alguma perspectiva de recuperação da economia neste
ano ou no próximo?
Estamos estimando queda do PIB de 1,5% a 2% neste ano. Em
2016, um crescimento nulo será o teto. É ilusão achar que o pior já ficou para
trás. Esse autoengano circulou pelo governo em Brasília, mas não vejo isso em
nenhuma hipótese. A prisão dos presidentes da Odebrecht e da Andrade
Gutierrez na sexta-feira reforça a percepção de que os investimentos podem cair
8% neste ano e 4% no ano que vem. O deserto que teremos que atravessar em 2015
e 2016 será ainda mais quente.
O que o governo pode fazer para estimular a economia?
O papel do governo é prosseguir no ajuste fiscal e
complementá-lo com uma política monetária menos esticada e com reformas de
longo prazo. A questão central é a Previdência e, por isso, é tão grave acabar
com o fator previdenciário. Além disso, é preciso colocar na rua ações construtivas
que permitam uma recuperação de demanda no futuro: investimentos em
infraestrutura, aumento de produtividade e uma política comercial que dê
suporte à exportação industrial. Isso é que daria um horizonte para a economia, o que
todos nós queremos, mas muito pouco tem sido feito.
Você disse que a política monetária está muito esticada.
Na sua opinião, o BC está subindo demais os juros?
O Banco Central foi reconhecidamente leniente com a
inflação por três anos consecutivos e de repente encasquetou --e a palavra é
essa mesmo-- que as estimativas para o IPCA têm que convergir para a meta de
4,5% no fim de 2016. A mensagem do BC é que não vai parar de aumentar os juros
enquanto isso não acontecer. Não acho que isso seja o mais adequado, porque a
inflação vai cair em 2016 por causa da recessão e porque o grande impacto do
reajuste da energia já terá passado. Forçar a mão nos juros é destruir a demanda, o que vai
quebrar muita gente. E, se isso acontece, a arrecadação diminui e atrapalha o
ajuste fiscal. É um meio tiro no pé.
O BC está pagando o preço dos erros passados? O banco
pode parar de elevar os juros sem perder credibilidade?
Querem recuperar três anos em três meses. É a mesma coisa
de quem está com excesso de peso tentar resolver o problema correndo três horas
no sábado. Vai ter um ataque do coração. Hoje não existe mais essa alternativa de parar de subir
os juros, porque o BC caiu numa armadilha depois de tudo que já disse. Com esses juros altos, o BC está atraindo capital
especulativo e afundando o câmbio. Se o dólar ficar abaixo de R$ 3, o único
sinal positivo para os empresários também se tornará uma dúvida.
2 comentários:
Empresário inteligente e sem rabo preso, reduz tudo e fica só se mantendo.
Lógico que é preciso coragem e já ter deixado de lado "elogios" que no fundo mesmo só servem para alguem de algum modo levar alguma coisa.
A função de todo govermo comunista é esta mesma. Todos pensam ser Nero, para depois re-construir do modo delles.
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