O fator previdenciário foi uma alternativa encontrada
para reduzir os efeitos das aposentadorias precoces nos cofres da
previdência, no caso das aposentadorias por tempo de contribuição. Ele
não é adotado nas aposentadorias por invalidez e nas aposentadorias
por tempo de serviço, exceto quando beneficia o aposentando.
As
aposentadorias por tempo de contribuição corresponderam a 29,3% da quantidade
desse benefício em fevereiro do corrente. É uma modalidade que
praticamente só existe no Brasil.
Segundo Fabio
Giambiagi, em Reforma da Previdência o encontro marcado, p. 110, no resto
do mundo, na maioria dos países, o normal é as pessoas se aposentarem aos 65
anos, podendo a partir dos 60 anos pleitear a aposentadoria antecipada,
mediante desconto de 8% ao ano. Isso quer dizer que as pessoas perdem aos
60 anos 40%.
Alguém poderá
dizer que nesses países vivem muito mais do que aqui. Isso é verdade em parte,
porque a expectativa de vida no momento da aposentadoria, o que interessa neste
caso e não a expectativa ao nascer, é de dois a três anos maior nos
países desenvolvidos.
É claro que o
fator não é bom do ponto de vista daquela que se aposenta. O bom mesmo é que
não exista o fator, nem idade mínima e, se possível, nem contribuição. Mas
entre o desejo e a possibilidade há um abismo, às vezes, intransponível.
Alguém poderá
dizer, mas no serviço púbico não há fator previdenciário. É uma pena,
porque deveria existir, até para beneficiar os servidores que, como dizem
muitas vezes, não aguentam mais o serviço. Estes sairiam mais
cedo, mas recebendo menos e sua vaga seria suprida por outro servidor
com maior produtividade.
Mas vamos à
aritmética que em muitos casos só serve para “atrapalhar” a ideologia,
segundo um pensador desconhecido.
Em primeiro
lugar, é preciso dizer que existem dois regimes principais de
previdência: o de repartição simples e o de capitalização. Neste último, o
beneficiário faz a sua própria previdência, contribuindo para uma poupança que
conta com a participação do empregador e rende juros e correção monetária. No
final da vida laboral seus proventos são pagos com recursos dessa poupança. Tem
duas variantes que não cabe aqui comentá-las, que são o benefício definido e a
contribuição definida.
O regime
de repartição simples, ou corrente ou solidariedade entre as gerações, os
atuais trabalhadores pagam para os que atuais aposentados recebam, esperando o
mesmo tratamento quando estiverem na condição de aposentados. Está
sujeito aos efeitos do crescimento e transição demográficos, nas mudanças
da legislação previdenciária, no ritmo do crescimento econômico, entre outros.
O regime de
repartição simples é o adotado no INSS, até porque seria demasiado caro migrar
para um regime de capitalização. Mais de dois PIBs nacionais, segundo
alguns cálculos.
Nesse regime,
um trabalhador que contribua com 11% e o seu patrão com 20%, somará uma
contribuição total de 31% de sua remuneração mensal ou anual. Se trabalhar 30
anos terá gerado 9,3 anos de contribuição (31% x 30). Tomando uma expectativa
média de vida no momento da aposentadoria de 81 anos (está em 80,5 aos 55 e
81,6 aos 60 anos), a pessoa que se aposentar aos 55 anos terá, em média,
26 anos de recebimento do benefício, quase o triplo do valor contribuído.
Quem se
aposentar aos 60 anos terá 21 anos e quem se aposentar aos 65 anos terá
16 anos. Tudo isso, na média, porque a duração da vida é variável de pessoa
para pessoa. Em 35 anos de contribuição formará 10,85 anos.
Se os proventos
dos aposentados não saírem da contribuição, eles saem dos impostos gerais
recolhidos pela população, porque o governo não gera riqueza, apenas
distribuiu e, muitas vezes, de forma errada o que retira da sociedade.
É claro que
havendo receita suficiente para o pagamento dos benefícios o sistema estará em
equilíbrio, que não é o caso do INSS que tem menos de dois
contribuintes para um beneficiário e só não tem um déficit maior por que a
remuneração média que serve de base da contribuição é muito superior ao valor
médio dos benefícios, em que quase 70% recebem um salário mínimo.
Aposentadorias
precoces
O que está pro
trás de tudo isso é a precocidade das aposentadorias, cuja idade mínima na
maioria dos países é 65 anos e, em alguns, 67 anos, tanto para homem como
para mulher. E nos casos em a mulher tem idade mínima, nunca baixa de 60 anos.
A Tabela abaixo
mostra algumas simulações com o fator previdenciário, para um homem e para uma
mulher. O homem que começar a trabalhar com 21 anos, após 35 anos estará com
56. Como terá 25 anos de expectativa de sobrevida, recebe uma aposentadoria
menor, de 72,7% da média.
Mas se ele
ficar 40 anos e sair com 61 anos, terá um acréscimo na média de 2,4%. Nessa
idade nos países europeus, como vimos, ele perde 32% (4 x 8% ao ano).
Pelo fator, um
homem com 35 anos de serviço e 60 anos de idade perde 15%. Com a
adoção da fórmula 85/95, o INSS perde 17,6%. Mas ele ficar até os 65
anos, ganha 21,5%, é claro trabalhando 40 anos.
O mesmo
raciocínio se aplica à mulher. Se passar de 60 anos de idade, mesmo iniciando a
trabalhar aos 21 como aos 25 anos, ele ganhará um fator superior a 1. É
verdade que terá que trabalhar 40 anos no primeiro caso e 35 no segundo.
Atualmente uma
mulher com 30 anos de contribuição e idade de aposentadoria perde pelo fator
30%. Mas se aplicar a fórmula 85/95 ela ganhará aposentadoria
correspondente à média de julho/94 para cá. Nesta hipótese haverá uma
perda para o INSS de 43%.
Resumindo,
mesmo que as mudanças aprovadas na Câmara tragam benefício aos aposentados,
elas representam um prejuízo de 17,7% para o INSS, no caso do homem e de 43% no
caso da mulher.
Quando se sabe
que o INSS teve um déficit de R$ 18 bilhões no primeiro trimestre do corrente
(R$ 72 bilhões anualizado), mesmo que o grande déficit seja na aposentadoria
rural, a mudança em causa está a contramão dos fatos.
A precocidade
das aposentadorias e permissibilidade na concessão das pensões deve ser
modificada, tanto no INSS como no serviço público. Neste último a
necessidade ainda é maior, devido a difícil situação financeira dos
Estados.
15 comentários:
Não entendi nada, que confuso, explique melhor com um exemplo claro!
Joel
Uma premissa está errada, existe, sim, diferença na expectativa de vida do Brasil e os países desenvolvidos.
Brasil = 74 anos
Itália = 83, diferença de 9 anos !
França = 82, diferença de 8 anos !
Alemanha = 81 anos, diferença de 7 anos!
Resumindo, o brasileiro está sendo assaltado pelo estado na hora de se aposentar.
Outra conta, R$ 1.000,00 ao mês, durante 35 anos, rendendo 0,5 % ao mês, quando dá no total ?
Pois é, façam o cálculo e se assustem com o resultado !
E o efeito da garfada que Juscelino deu nos fundos de Previdência em 1956/7/8/9, para construir Brasília? Foram mais de 500 bilhões (em valores de hoje) que a União NUNCA devolveu)!!!è, mas os culpados pelo rombo (fajuto) na Previdência são as viúvas..... @fitzca
O autor erra ao afirmar que não existe fator previdenciário no serviço público. Existe sim. Como existe o dever de cumprir as leis que ele mesmo gerou através dos anos. Seria legal arrecadar por 35 anos e na hora de pagar, dizer que a regra agora é outra. Seria como o direito de propriedade, mas o governo resolve suprimi-lo depois de alguns anos em bem do povo.
Outra questão injusta é misturar contribuinte com não contribuinte pelo "espírito" cristão. Espírito não gera renda e receita. O que era uma contribuição compulsória foi transformado em imposto e tungado nos seus direitos. Se o governo queria aposentar quem nunca contribuiu, que fizesse separado e por outro regime. Por isto que não tem uma relação entre trabalhadores e aposentados sadio. Foi colocado nas costas do contribuinte para a previdência todo o tipo de não contribuinte. De gente que jamais contribuiu. O Bolsa aposentadoria que dispensava recolher para a previdência.
Análise clara. Só não entende quem não quer. Precisaríamos repensar todo o sistema, inclusive o dos funcionários públicos, afinal quem paga são todos que contribuem para o Tesouro.
Minha dúvida: e as aposentadorias dos deputados após APENAS 8 anos de mandato, e a dos governadores, de quais cofres saem???
Aplicaram o fator previdenciário sobre o RGPS-Urbano que não é deficitário. Apesar das Renúncias Previdenciárias (Copa, Simples nacional) que de 1995 até agora já renunciaram a R$ 383 bilhões, apesar do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros ter afirmado que nos anos 70 a 90 o governo retirou do caixa da previdência R$ 400 bi, apesar do o Balanço da União, em 2011, informar dívida ativa de R$ 246 bilhões (e vamos deixar de fora a construção de Brasília, CSN, criação da Petrobrás e “otras cositas mas”), ainda assim, no ano de 2014 o RGPS do setor urbano apresentou superávit de R$ 25 bi. Na verdade, o governo está usando o setor urbano para financiar o setor rural, que nada contribui. Só os números acima citados deixariam o caixa da previdência com R$ 1 trilhão mais juros e correção. Daqui a alguns anos o governo e analistas vão dizer que o FGTS também foi deficitário e vão querer aplicar um redutor para os saques. Ninguém fala, por exemplo, que a contribuição do empresário é sobre toda a remuneração, inclusive a que ultrapassa o teto. A previdência já teve regime de capitalização até o governo JK. No Brasil, praticamente ninguém consegue se manter no emprego até os 65 anos. O profissional vai bem, com sorte, até os 50 anos, depois não arruma mais emprego, acaba trabalhando pelo salário mínimo ou biscates, sua renda cai, a aposentadoria cai, apesar do vivente ter contribuído boa parte da sua vida sobre valores maiores que aqueles que serviram de base para o cálculo da aposentadoria. As empresas que optam pelo simples pagam menos previdência, mas os seus trabalhadores tem os mesmos direitos que os demais, indicando que os trabalhadores das empresas fora do Simples tem sua aposentadoria diminuída para “ajudar” os que contribuem menos. O governo administrou mal, usou os recursos da previdência para outros fins e, a sociedade, na época, foi beneficiada e, agora que chegou a conta, acha injusto pagar. Está tudo errado ...
O INSS é uma grande Petrobras. Os políticos brigam para indicarem seus Gerentes.
Ora, e porquê?
Porque é ali que se faz todo o Coronelismo nas pequenas cidades brasileiras, que falidas, agora são sustentadas pelo auxílio doença. Ali o Assistencialismo dos gerentes campeia. Eles têm prazer em divulgar o aumento crescente do número de de beneficiados com o bolsa-INSS..
São milhões e milhões de beneficiados que nunca contribuíram, e que o Governo pressiona para que sejam agraciados com todo tipo de auxílio, o que os médicos peritos têm que barrar no peito e na raça.
Privatizem a Previdencia e sobrará dinheiro para os aposentados.
F. Gambiagi fala de coisas que o governo quer ouvir e não pesquisa para saber REALMENTE dos fatos. Vergonhoso é ver e ler pessoas que citam essa pessoa como se fosse um 'expert' e não um conveniente. F.Gambiagi não serve de referencia, exceto quando aquele que escreve sobre o tema previdência a ele se refere porque sabe menos ou apenas não pesquisou/estudou realmente sobre o que acontece. Um trabalho detalhado sobre a realidade da previdência, certamente irá mostrar que tudo o que o governo tem demonstrado não passa de uma falácia e conveniência para poder continuar a desviar recursos dos que para um sistema contribuiram. Sabe-se perfeitamente, infelizmente, que o governo não é honesto, confiável e sempre que precisa de dinheiro lança mão do que a ele não perfence. Tirou dinheiro da previdência para as mais loucas finalidades, desde a construção de Brasília, reforma na CSN para após privatizá-la a renúncias que beneficiam o Simples. Os urbanos que contribuem durante anos, geram riqueza, sustentam o governo são levados à miséria quando se aposentam, mas não vemos nenhum parlamentar, ex de qualquer nível da federação que por muito menos ganham muito mais. Será que vale ser da iniciativa privada? Acredito que não! Esse é o pais dos corruptos e setor público.
Complementando o comentário anterior: Se a Previdência não tivesse sido vítima da administração incompetente dos governos e tivesse, efetivamente, os R$ 1 trilhão em caixa, será que os analistas diriam que ela é "deficitária" e perigosa para as Finanças Públicas? O que deveria ser dito é que o fator Previdenciário deve ser mantido para mascarar a administração ruinosa do RGPS Urbano. Enquanto o governo desviava os recursos previdenciários para outras finalidades ninguém falava, os analistas/imprensa ficaram bem quietos, agora que o esgoto explodiu, todos querem dar sua opinião. Aguardem, o FGTS vai pelo mesmo caminho, o futuro dirá.
TA AI FALAVAM DOS SERVIDORES PUBLICOS QUE SE APOSENTAVAM INTEGRAL...AGORA O REGIME GERAL TAMBÉM APOSENTA....FICOU TUDO IGUAL...COMO SERVIDOR PUBLICO CONTRIBUI IGUAL AOS OUTROS E TIVE QUE TRABALHAR 38 ANOS SOMAR MAIS IDADE PARA FAZER 95 E APOSENTAR-ME COM INTEGRALIDADE DE VENCIMENTOS....PRONTO CHEGA DE CHORO TODOS IGUAIS.
UMA INFORMAÇÃO PARA QUEM ESCREVE SEM CONHECIMENTO DE CAUSA....SERVIDOR PUBLICO TAMBÉM DESCONTA PARA SE APOSENTAR E NA HORA TIRAM HORAS EXTRAS MESMO DESCONTANDO EM CIMA DAS MESMAS.
NÃO EXISTE aposentadoria por salário integral na iniciativa privada. O que chamam de teto é para CONTRIBUIR e nunca, jamais para receber como benefício. Salário integral seria o que o trabalhador recebe na ativa e ao aposentar-se manter o que até então recebia. Impressionante como as pessoas não sabem diferenciar as coisas, aliás importantes. Deve ser por isso que o governo faz gato e sapato dos brasileiros.
Em 1º lugar um cumprimento ao anônimo das 22:53 por mostrar onde foi desperdiçado o dinheiro da previdência em seus anos de bonança. Faltou citar os inúmeros prédios, vilas operárias, hospitais que os IAPs pagaram e não foram ressarcidos. Lembro, ademais, que pagamos sobre 20 salários durante anos a fio mas acabamos recebendo sobre 8 ou menos.
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