Um dos primeiros empresários a apoiar o PT, nos anos
1980, Lawrence Pih, 72, diz que, na época, não imaginou que o "modus
operandi" de se fazer política fosse universal. Hoje, ele avalia que, embora Lula tenha maior talento
político e seja mais pragmático do que Dilma, ambos representam um mesmo
modelo, que está errado.
Está tudo na entrevista a seguir. Pih alinhou-se durante muitos anos ao grupo de empresários paulistas que deram sustentação ao PT e só agora, depois que vendeu sua empresa, resolveu abrir a boca.
Leia tudo:
Pih, que acaba de vender o Moinho Pacífico (um dos
maiores importadores de trigo e processadores do cereal do país), diz que, no
momento, não vislumbra solução definitiva para a crise econômica do Brasil e
que é preciso cortar gastos e melhorar a eficiência da máquina estatal.
Folha - O caminho que está sendo adotado para solucionar
a crise é o correto?
Lawrence Pih - Atualmente, não há um caminho. O que está
havendo é uma tentativa de equacionar um problema enorme com medidas
paliativas. Não se vislumbra solução definitiva —nem a possibilidade de uma.
O sr. concorda com o ajuste como está colocado? Mudaria?
O que o Joaquim Levy [ministro da Fazenda] está fazendo
não é suficiente. Reconheço que politicamente já é difícil, mas eu faria algo
mais drástico. O ônus que o setor público impõe à Previdência é muito alto. Há
tantos lugares em que é possível cortar gastos. Como é possível a nossa carga
tributária bruta ser quase igual à de países desenvolvidos da Europa?
O que mais o governo Dilma deveria fazer?
Cortar gasto. Apertar o cinto, tornar a máquina
eficiente. Já que gastamos mais do que poderíamos, agora é a hora de consertar
nosso balanço como país.
O investimento no Brasil é baixo. Se você não investir e
tiver um universo de consumidores aumentando, vai preencher a distância entre
produção e demanda pela importação, ou seja, gerando empregos fora do país.
O governo pode impor qualquer custo sobre as empresas.
Aí, o empresário vai fazer o cálculo de custo, margem, risco do país e preço de
venda. Ele pensa: tem demanda? Não. Segurança jurídica, previsibilidade,
estabilidade cambial? Não. Tem juros estratosféricos? Tem. Custo trabalhista?
Enorme. Conclusão: não vou investir.
Como se chegou a tal crise?
Dois fatores possibilitaram o crescimento do Brasil desde
que o PT assumiu o governo. Houve a explosão dos preços de commodities e o país
conseguiu equacionar a dívida externa. Depois disso, o mundo estava crescendo
em média 5% ou 6% ao ano. Tudo isso possibilitou investimento externo no
Brasil.
Também teve muito mérito do governo FHC, que estabilizou
a moeda. O Brasil entrou no vácuo do crescimento mundial e possibilitou o
aumento do crédito. Com desemprego caindo e economia crescendo, a população se
sentiu confortável em assumir mais dívida.
O Estado começou a gastar mais do que podia e sua
participação no PIB cresceu muito, com gastos maiores do que o crescimento do
PIB.
E o que é essa participação? Imposto. A carga tributária,
que nos últimos anos do governo FHC estava em torno de 28% ou 29% do PIB, hoje
está em 36% ou 37%. No cenário atual, é insustentável. Não estou analisando
qualidade de gastos e importância da questão social. É importante ajudar os
mais carentes. Entretanto, tem que lembrar se o auxílio é sustentável.
É tudo culpa da gestão Dilma ou tem raízes no passado?
Não é questão de culpa. A população escolheu Lula em 2002
porque o governo de FHC não era popular naquele momento. Houve uma mudança de
modelo, do Fernando Henrique, um pouco mais ortodoxo, para o modelo mais
heterodoxo do PT. Esse modelo novo seguiu um pouco a linha do antigo para
depois começar a implantar aquilo que lhe é caro ideologicamente e ter um tipo
de socialismo keynesiano.
Os petistas têm admiração pela China. De fato, a China
tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza, é a segunda maior economia do
mundo. Só que o modelo de lá é totalmente diferente.
Na China não tem greve, não é democracia. É um partido
só. O povo chinês está disposto a trabalhar 14 horas por dia. Aqui, achamos que
oito horas é muito. O Brasil quer adotar algumas coisas do modelo chinês e
outras do americano. Não funciona.
O que mudou de 2002 para cá?
Surfamos uma onda de crescimento mundial, tiramos milhões
da pobreza, gastamos mais do que podíamos para perpetuar o modelo socialista
keynesiano.
Dilma chegou à Presidência simplesmente pela escolha de
Lula. Imagino que Palocci e Dirceu eram candidatos antes do mensalão. Lula
achou que o gestor eficiente, como era a imagem que se projetava da Dilma,
seria adequado.
Mas a história dela é um pouco diferente da do Lula. Ele
é um sindicalista, negocia com o setor patronal e entende um pouco do outro
lado do balcão. Lula tem um talento político raro.
E se ele voltasse depois dela?
Voltar ou não voltar não é o caso. Eu acho que o modelo
está errado. O Lula é esse modelo. É um pouco mais pragmático, mas é esse
modelo.
Ele andou falando em baixar a taxa de juros.
Você não baixa juro por decreto. A Dilma fez isso. E deu
no que deu. Economia tem lógica própria. Não se sujeita à vontade de um
político ou outro. O mercado é soberano. Ele determina o sucesso ou o fracasso
de uma economia.
Foram essas intervenções na economia que nos levaram à
situação em que estamos?
Exatamente. Você não pode rasgar, decretar a inexistência
das leis da economia. Você até pode baixar os juros. O Tombini baixou para
7,25% a pedido da Dilma. Agora está em 14,25% e vai subir mais.
A saída de Dilma é o caminho ?
Impeachment é traumático. Pensam que se remove presidente
do dia para a noite, mas não é tão simples. Não sou especialista, mas dizem que
pode haver afastamento devido a pedaladas ou financiamento irregular de
campanha. Essas coisas ocorreram no passado, mas nunca foi apurado. Os dois
pontos são suficientemente graves? Essa primeira pergunta é técnica.
A segunda é política: ela tem condições de continuar
governando sem levar o país ao caos? Quando o câmbio quase dobra em um ano,
está instalado um grau de confusão grande.
Com ela na Presidência até 2018, como ficará o país?
Se
as coisas começam a se deteriorar no ritmo em que isso acontece desde janeiro,
estamos em maus lençóis. Não é só uma questão técnica. É também política, sob o
aspecto da governabilidade.
O sr. foi um dos primeiros empresários a apoiar o PT nos
anos 1980. O que pensa hoje?
Naquele momento, eu era visceralmente contra a ditadura.
Via na elite brasileira um atraso, sentia que ela precisava de uma chacoalhada.
E acreditei que o PT seria um caminho. Eu acreditava que eles tinham uma
ideologia, consistência. Eram o único partido que tinha plataforma.
Eu achei que um novo modelo tinha de ser instituído. Não
percebi que esse novo modelo tinha um viés tão fortemente socialista. Acreditei
quando o Lula disse que tem 300 picaretas no Congresso. Não imaginei que o
"modus operandi" fosse universal.
Com Aécio Neves estaríamos em melhor situação?
É provável, porque o mercado o aceitaria melhor. E o
Aécio perdeu por muito pouco. Se o PT não tivesse feito o marketing que a gente
chama de "propaganda enganosa", o Aécio teria vencido.
Quem deve ser o próximo candidato do PT?
Fora o Lula, não há neste momento outro candidato, a meu
ver. O andamento das questões que poderiam ou não envolver o ex-presidente Lula
vai determinar se eles têm ainda fôlego para ressuscitar.
Mas fico lembrando do Fernando Collor, que foi afastado e
voltou como senador. E o Paulo Maluf? Está aí. O eleitor tem memória curta.
O sr. acaba de se desfazer de um investimento histórico
no país. Quer investir de novo?
Meu destino é no Brasil. Já enfrentei muitas crises aqui.
O país é muito maior que essa crise e que o governo.
Governo é transitório. Quando as coisas vão de mal a pior, mudam o governo e a
orientação política. Neste momento, precisamos fazer reformas estruturais:
trabalhista, tributária, previdenciária, encolher o Estado, tornar o setor
público mais eficiente.
Ou fazemos conscientemente ou o mercado determinará que o
façamos. A Grécia é um bom exemplo. Não adianta essa ideologia socialista
populista porque o modelo socialista populista, mais tempo menos tempo, começa
a degringolar para um autoritarismo.
O modelo perfeito disso é a Venezuela, que, como o
Brasil, tem recursos naturais enormes.
Pretende mesmo investir aqui? É teimosia ou resiliência?
Sempre há oportunidade. Tenho três setores em foco:
educação, saúde e infraestrutura. A população está envelhecendo e não vai parar
de crescer. Vai demandar saúde, educação, moradia. Precisa de infraestrutura. O
Brasil não vai desaparecer.
O sr. pensa em atrair investidores estrangeiros?
É possível. Teremos caixa robusto. Eu te garanto: os
investidores estrangeiros vão olhar risco e retorno. Os ativos no Brasil estão
depreciados e vão se depreciar mais ainda.
É atrativo para o investidor entrar no Brasil com o dólar
a R$ 4,22. O risco já é bem menor agora. Não que o risco de a situação piorar
não exista. Existe. Mas boa parte já está precificada no câmbio.
3 comentários:
NÃO É EMPRESÁRIO!
Empresário que se mete em politica irá falir ou responderá processos na PF.
Está errado pra nós, mas não pra eles. O objetivo é a venezuelização do país, e isso eles estão conseguindo rapidamente.
E o pt vai ter candidato? Ainda tem coragem? MEUS DEUS!
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