O ano de 2016 pode acabar sendo, por força das
circunstâncias, um importante divisor de águas para a organização da gestão
pública no Brasil, em todas as instâncias, de abandono definitivo do modelo
populista genérico, que gera custos crescentes e uma grande dificuldade de
gestão.
A crise está colocada, a oportunidade é concreta. Na
persistência do problema, todos perdem
A situação financeira crítica da União, estados e
municípios é a face mais aparente de um colapso institucional, gerado
principalmente por uma procrastinação de 30 anos, pelo menos, na busca de um
modelo institucional mais apropriado a um país de renda média e com maior
inserção tecnológica, e do fim de um aumento descoordenado das estruturas, em
todas as instâncias. O resultado desse crescimento vegetativo e da noção das
estruturas e atribuições do Estado como infindáveis levou a operações que se
tornaram impagáveis e difíceis de se administrar. A perspectiva de tornar-se
gestor público, de cidade média ou estado no Brasil, pode aproximar-se de um
pesadelo. A maioria das estruturas municipais e estaduais do Brasil cresceu de
30 a 50% nos últimos dez anos.
A grande questão é que as necessidades e a capacidade de
suporte da nação brasileira em relação ao tamanho e funções da sua gestão
pública estão totalmente desajustadas. A falta de direcionamento estratégico
nas organizações que sejam efetivamente colocados em prática, tanto no estágio
municipal, quanto estadual e federal, talvez tenha um reflexo tão grave quanto
o crescimento desordenado de sua estrutura, e seja também uma de suas
principais causas.
O ano de 2016, a partir do agravamento das crises
financeiras e institucionais, poderá ser o início da busca por um modelo de
gestão pública mais adequado às reais necessidades da sociedade brasileira, em
seus diversos segmentos de população, e na abertura de alguns tabus
regulatórios que são anacrônicos e inviáveis já no curto prazo. Este tema deve
ser alvo de debate nacional, e de incorporação de melhores práticas e novos
modelos institucionais, e desvalorização de práticas populistas e soluções
“mágicas” por parte de agentes políticos em torno da noção de que gestão
responsável também gera votos, e do crescimento da noção de que uma gestão mais
profissional se dará com a perda de privilégios corporativistas. Configura-se
uma inédita situação potencialmente geradora de um pacto diante do colapso de
todo o sistema. Os limites para se repassar os custos através de ajustes
fiscais convencionais com aumento da carga tributária já foram atingidos.
Portanto, o ajuste precisa avançar do outro lado da conta. De forma sistêmica,
e não emergencial.
A crise está colocada, a oportunidade é concreta. Na
persistência do problema, todos perdem. Na possibilidade de uma solução, o
início de um avanço institucional de 50 anos.
* O autor, Gustavo Grisa é gaúcho, economista e especialista do Instituto
Millenium. Ele escreve esporadiamente para esta página, normalmente a convite.
3 comentários:
Concordo, é o momento: o ponto de virada. Mas a pergunta é como e com que força, já que para o Governo e politicos o ideal é até aumentar o extrativismo. Até já falam no ressucitamento da CPMF.
em tempo ao comentário já feito: extrativismo tributário
É a mudança depende da quebra de paradigma da gestão pública.
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