Crônica de sexta, Vitor Bertini, Cuco

No meio do campus universitário, o centro do mundo. No centro do mundo, uma cafeteria.

A cafeteria da faculdade de arquitetura era ponto obrigatório para estudantes de todos os cursos: pela suposta qualidade do café - única que dizia ter grãos de origem, pela temperatura da cerveja, pelas conversas interdisciplinares e, forçado reconhecer, pela beleza das alunas.

– Todas as tribos passam por aqui – explicava Antonela, Antonela Matteo, enquanto apresentava as dependências da escola para uma caloura, filha de amigos da família. Depois, à tardinha, em horário de casa cheia, devidamente instalada com duas colegas em uma das mesas, ainda com a novata à tiracolo, sofisticou o discurso:

– Acolher bem é reconhecer o outro… e a melhor arquitetura faz isto! – Ensinou, elevando o tom de voz e exemplificando, com um giro de queixo empinado, o que queria dizer.

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Vitor Bertini: https://ahistoriadasexta.substack.com/ https://vbertini.blogspot.com/ bertini.vitor@gmail.com

Um comentário:

Armando Arruda Lacerda disse...

Tchô Cuco.

Um caso do inesquecível amigo Henrique de Carvalho Rostey.

Era o tempo de vendedores e caixeiros viajantes. Num congraçamento em São Paulo, um representante de um grupo de indústrias informou que faria uma viagem a certa capital de um grande estado do Centro Oeste.

Do meio da roda, um colega advertiu-o : " Prepare-se, pois o povo dessa cidade é muito crítico e gozador, ninguém vai lá e consegue voltar sem um apelido irônico."

Nosso herói contestou:"- Já me avisaram, e não vai acontecer comigo, passarei por lá tão rápido que não vai dar tempo!"

O xiste circulou no ambiente e dado ele ser tido como sagaz, fecharam-se várias apostas se ele voltaria com ou sem apelido.

Chegando à cidade, imediatamente contratou um taxista, foi ao comerciante que seria o representante local, explicou o catálogo de produtos, senhas e códigos para os pedidos e faturas, desincumbindo-se da missão antes do final do dia.

Hospedou-se num Hotel da principal avenida, combinou com o atendente que queria o café da manhã levado no quarto, de onde não pretendia sair até o horário do avião.

Foi informado que logo mais a noite, no cinema e na praça ao lado haveria muito movimento sendo ali o principal ponto da vida noturna da cidade, e que o Hotel dispunha de cadeiras na calçada para que os hóspedes pudessem apreciar o footing.

Rígido em sua disposição de não dar oportunidade a ser apelidado, dispensou a gentileza e trancou-se no quarto.

Durante a noite, seja para aproveitar a brisa noturna ou atraído pela alegria que reinava embaixo, assomou várias vezes a janela...

De manhã, após o desjejum no quarto, enquanto fazia hora para ir para o aeroporto, foi atraído varias vezes à janela, pela agitação dos vendedores apregoando mercadorias, funcionários apressados e o entra e sai dos clientes dos bancos.

Quando desceu para o saguão, a recepção estava vazia e só o carregador de malas com um espanador limpava os móveis do local, com voz séria, informou que estava deixando o Hotel e como queria fechar a conta que imediatamente fosse chamado o Gerente.

O carregador de malas, olhou-o de cima em baixo e arrastando os pés foi até uma porta e gritou cantado para dentro: "- Tchôo Nhonhôo , Tchôo Nhonhoô, vem pra portariiaa!
Tchôo Cuco, Tchôo Cuco do quarto 11 djá qué imbora!"

Capisbatxo, o catchero viadjante vortô pra Sum Paulo c'o a aposta perdida e o bem pregado apelido de Tchô Cuco, sua infelicidade permanente até o fim de seus dias...

Armando Arruda Lacerda
Porto São Pedro
Julho de 2021

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