Artigo, Fernando Gabeira, Estadão - Banqueiros, empresários e colunistas

Os ventos legais conduzem ao impeachment, assim como os clamores da rua. O impeachment, dizem alguns, seria traumático: instrumento muito raro e já aparece duas vezes numa jovem democracia. Mas que outra maneira tem a jovem democracia senão aplicar a lei?

Banqueiros, empresários e colunistas têm se pronunciado contra o impeachment de Dilma. Faltam elementos, dizem alguns. Ainda faltam, dizem outros mais cautelosos.

O próprio New York Times chegou a essa conclusão, com o mesmo argumento: não há motivo. Creio que essa convicção possa evoluir quando analisarmos todas as pontas da investigação.

O quadro geral desenha um governo que utilizou um esquema criminoso para se manter no poder. Mas quadros gerais não bastam. O ministro Gilmar Mendes foi o primeiro a juntar as pontas que revelam o caminho do impeachment: contas de campanha. A vulnerabilidade de Dilma fica clara quando o turbilhão de informações fragmentadas começa a tomar corpo.
"Descendo um pouco mais a escada, Gilmar Mendes encontrou inúmeros indícios de ilegalidades na campanha de Dilma. Só uma empresa que tem um motorista como sócio recebeu R$ 24 milhões da campanha de Dilma. A empresa chama-se Focal. Está sendo investigada e parece que uma cirúrgica troca de letra, pode definir melhor a natureza de seu negócio"...
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De fato, não basta ver a Petrobrás em ruínas, destroçada pelo governo petista nem saber que o partido recebeu milhões das empreiteiras da Lava Jato. O senso comum ligaria as propinas à campanha milionária de Dilma. 

Mas é preciso mais. Um dos empreiteiros, Ricardo Pessoa, da UTC, doou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma, por intermédio do tesoureiro, Edinho Silva. E não foi por amor à causa, mas medo de perder seu negócio milionário com o governo.

Nas anotações de Marcelo Odebrecht há menção às contas na Suíça que poderiam aparecer na campanha de Dilma. As contas existem e eram usadas para pagar propinas.

Descendo um pouco mais a escada, Gilmar Mendes encontrou inúmeros indícios de ilegalidades na campanha de Dilma. Só uma empresa que tem um motorista como sócio recebeu R$ 24 milhões da campanha de Dilma. A empresa chama-se Focal. Está sendo investigada e parece que uma cirúrgica troca de letra, pode definir melhor a natureza de seu negócio.

Por que todos esses fatos encadeados ainda não motivaram uma investigação do Ministério Público? 

Talvez fosse impossível para Rodrigo Janot viver a contradição de investigar Dilma e, simultaneamente, colocar sua própria confirmação como procurador-geral nas mãos dela. Como possivelmente será difícil investigá-la depois de ter seu nome confirmado por ela. Mas agora é diferente.

Janot está sendo acionado por um ministro do Supremo que, como o senso comum, acha que existe uma relação entre o assalto à Petrobrás e a campanha de Dilma. Só que Gilmar, como outros observadores, acha isso a partir de indícios, depoimentos, que só não convencem porque ainda são tratados fragmentariamente. Gilmar é ministro do TSE e aponta o caminho real, unificando os indícios, mostrando a leviandade de ignorar os dados da Lava Jato num julgamento desses.

Os ventos legais conduzem ao impeachment, assim como os clamores da rua. O impeachment, dizem alguns, seria traumático: instrumento muito raro e já aparece duas vezes numa jovem democracia. Mas que outra maneira tem a jovem democracia senão aplicar a lei?

Outro argumento é que duas quedas num curto espaço de tempo deformariam o eleitorado, que passaria a votar de forma irresponsável, contando sempre com o impeachment. É uma tese discutível. Ela serviria também para anular a utilidade do instituto do recall político, que existe desde o início do século 20 nos Estados Unidos.

A base legal do impeachment sairá da análise cruzada das contas de Dilma com os dados da Lava Jato e toda essa indústria de notas frias de gráficas inexistentes e empresas de fachada. Os fatos estão aí e a história de que foram doações legais não resolve o problema. Tornar legal dinheiro obtido em esquema de corrupção é pura lavanderia.
..."O El Niño não tem o peso das questões urgentes do momento. Mas os analistas, quando Dilma assumiu, disseram que ela enfrentaria uma tempestade perfeita. Ainda não contavam com o El Niño, a tempestade das tempestades"....

Quando todas as peças se encaixarem e a evidência emergir, pode ser ainda que muitos prefiram a continuidade de Dilma. Mas aí será outra discussão.

Estamos no auge de uma crise econômica e política. A realidade exterior nos surpreende com notícias negativas, como os sobressaltos na China, com possível repercussão aqui. E se olharmos para um quadro mais amplo, o clima, veremos que se espera-se um El Niño intenso este ano. Isso significa grandes problemas, como os que tivemos em 1988. Incêndios no Norte, inundações no Sul. O El Niño não tem o peso das questões urgentes do momento. Mas os analistas, quando Dilma assumiu, disseram que ela enfrentaria uma tempestade perfeita. Ainda não contavam com o El Niño, a tempestade das tempestades.

Diante de um quadro econômico, político e climático tão adverso, supor que uma presidente detestada pela maioria, sem apoio no Congresso, é a mais indicada para conduzir o País é a opção pelo imobilismo. E em termos nacionais é hora de se mover, não de ficar parado.

Não se fala mais que impeachment é golpe. Apenas que não há motivo para o impeachment. É positivo, porque esse debate popularizou o texto da Constituição, que prevê o impeachment.

O argumento de agora tem uma outra natureza: o impeachment é um instrumento legal, mas não há motivo para ele. Quando se der a ligação das evidências esparsas, o argumento de que não há motivo dará lugar ao medo de traumas para a estabilidade dos negócios. Aí talvez debate seja mais fácil. 

Nossa experiência histórica mostra que não dói tanto assim. Os que pedem um Fiat Elba de Dilma vão se deparar com verbas que dariam para comprar muitas Ferraris e Lamborghinis.

Será uma discussão simples: aplicar ou não aplicar a lei. A escolha de não aplicá-la, essa, sim, pode abalar os alicerces de nossa convivência democrática. E nos afundar numa crise desesperadora. O ministro Celso de Mello tem razão quanto aponta uma delinquência institucional mascarada de política. Conviver com a impunidade nesse nível é humilhante para os brasileiros. Eles saberão voltar às ruas, nos momentos adequados.

Nesta semana Dilma e Lula foram lembrados com frases de protesto no rodeio de Barretos. Não aprovo os termos do protesto, mas eles revelam como se espalha a rejeição.

Quem valoriza o equilíbrio no Brasil de hoje tem de perceber, como um ciclista, que ele depende do movimento. Parados, vamos todos cair no chão, embora uma queda de banqueiros e empresários seja suavizada pelos bolsos acolchoados.

*** * *Fernando Gabeira*- é escritor, jornalista e ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro. Atualmente na Globo News.

5 comentários:

Anônimo disse...

Faço apenas uma pergunta: como poderemos aguentar mais 3 anos do Lullismo vendo a destruição em massa que está provocando em nossa democracia? Vamos esperar o Câncer desenvolver metástases para aí combatê-lo? É uma questão dupla, de sobrevivência e de inteligência acabar com o lullismo o qual está para o Brasil como o nazismo esteve para a Alemanha, e olhem no que deu permitir que os ovos da serpente gerassem seus frutos.

Anônimo disse...

Pensar só no impeachment é desviar o foco do verdadeiro gangsterismo político que grassa o Congresso Nacional, há muito tempo. Não adianta substituir um dirigente máximo por outro, sem considerar as "forças ocultas" dos agentes econômicos e sociais que, de fato, mandam no Brasil, e mexem os bracos, pernas, e as cabeças dos mandatários políticos, como marionetes a serviço de seus próprios interesses.

Anônimo disse...

IMPEACHMENT,NÃO SÓ PODE COMO DEVE!

ORA, COM TODOS OS DADOS DAS FALCATRUAS DE DILMA,PETROBRÁS, E CAMPANHA BILIONARIA CHEIA DE MARACUTAIAS,COMO É QUE NÃO PODE?E POR INCOMPETÊNCIA NÃO PODE?COM O COLLOR PODE, E POR MUITO MENOS.ORA, ORA, TEM LINGUIÇA NESSE PIRÃO, TEM BATATA NESSA CHALEIRA DIRIA O LEONEL.

SE DESMORALIZARMOS AS LEIS, SE RESOLVERMOS OPTAR POR APLICAR A LEI POR CONVENIENCIAS PESSOAIS OU PARTIDARIAS , ENTÃO QUE SE RASGUE A CONSTITUIÇÃO!

A HERMENEUTICA JURIDICA, O ESPÍRITO DAS LEIS NÃO IMPORTA? PARA QUE AS LEIS EXISTEM? PARA BALIZAR OS PROCEDIMENTOS, E QUANDO FOREM NEFASTOS, CRIMES ,DEVEM,DEVEM,AS LEIS DEVEM SER APLICADAS.

OMISSÃO DA APLICAÇÃO DAS LEIS NESTE CASO TRANSFORMA EM BARBÁRIE,VIOLÊNCIA,SAÚDE HORRIVEL,EDUCAÇÃO ZERO,DEFORMAÇÕES SOCIAIS DE TODOS OS TIPOS, INACEITÁVEIS.

PARA ARRUMAR DE NOVO, SÓ AQUELE SISTEMA DE DISCIPLINA,DO QUEPE E DA CONTINÊNCIA.VÃO SE QUEIXAR PARA O BISPO, POIS OS OMISSOS ESTÃO A NOS CONDUZIR A INSOLVÊNCIA SOCIAL CIVILIZADA.JÁ ESTAMOS QUASE NISTO.JÁ É QUASE TARDE.

IMPEACHMENT, NÃO SÓ PODE COMO DEVE!

DIZER QUE NÃO TEM MOTIVO É MERA DESCULPA E OMISSÃO.

FICAR NO SOFÁ É MELHOR.SÓ AGORA, PORQUE DAQUI A POUCO SUA PORTA PODE SER ARROMBADA PELA AUSENCIA DO IMPÉRIO DA LEI,REINARÁ A BANDIDAGEM TOTAL.EM GRANDE PARTE DO PAÍS JÁ ACONTECE.

QUEM SAI TRANQUILO PARA A RUA,ASSALTOS A RESTAURANTES, ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS DE TODOS OS TIPOS,ASSALTAM ÔNIBUS DELEGACIAS QUARTÉIS,JÁ É QUASE TARDE PARA CONSERTAR.



DS disse...

Rodrigo Janot já negou o pedido do Ministro Gilmar Mendes afirmando que não a indícios o suficiente para se fazer uma investigação.
Ou seja esta debochando de nossa cara.

Anônimo disse...


E pensar que esse cara sequestrou o embaixador, cuja situação deu fuga a alguns zezinhos, hoje presos, outros mortos quando tentavam voltar de cubacana.

Acho que mesmo ele se arrependeu do que fez, e quando foi se desfiliar do PT, no começo da bandalheira e tomou um PT chá de cadeira do zezinho, na antesala do palacio.

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