Deputados gaúchos da Lista de Janene poderão cobrar explicações de Zé Otávio

Os cinco deputados do PP do RS da Lista de Janot querem saber do colega Zé Otávio como é que eles foram parar na Lista de Youssef, porque o doleiro identificou José Otávio no "grupo hegemônico" liderado por Janene (morto em 2010), Negromonte, Nelson Meurer (PR) e João Alberto Pizzolatti (SC), justamente o que seria encarregado de repassar as propinas dentro do Partido, depois de ficar com a parte do leão. Foi Janene que apadrinhou Costa na Diretoria de Abastecimento, onde empreiteiras pagariam comissão de 1% sobre os contratos assinados.

A bancada gaúcha do PP nega ter recebido qualquer valor. A respeito dela, Youssef, na delação, nada conta em decorrência de contatos indiretos, alegando que os nomes vinham através do chamado grupo hegemônico. Suas informações erma por ouvir dizer. 

O PP teria ficado com 60% do valor arrecado em diversas obras, a exemplo da Refinaria Abreu e Lima. Os líderes levariam mesadas entre R$ 250 mil e R$ 500 mil, enquanto Germanoanca estaria na lista de 25 deputados com repasses que variavam de R$ 30 mil a R$ 150 mil mensais, conforme a força política de cada um - os demais gaúchos entrariam neste grupo. Segundo Costa, José Otávio não participava das reuniões que tratavam do suposto esquema, que teria se estendido entre 2005 e 2012.
Este grupo hegemônico, segundo depoimento de Youssef encaminhado ao STF por Rodrigo Janot, teria sido afastado quando Mário Negromonte caiu do ministério de Dilma.

Junto com o deputado Luiz Fernando Faria (PP-MG), José Otávio é investigado em outro inquérito da Lava-Jato pela suspeita de intermediar o pagamento de R$ 200 mil a Costa, realizado em um hotel de luxo no Rio de Janeiro. O repasse seria um "agrado" enviado pela Fidens Engenharia por ter vencido licitações na Petrobras.

Faria é um dos melhores amigos de José Otávio em Brasília, ambos figuram na Comissão de Minas e Energia da Câmara. Youssef disse na delação que presenciou os dois juntos retirando valores de propina em apartamentos dos líderes do PP.

O doleiro informou que o grupo que controlava o partido mantinha listas com os nomes dos deputados e os respectivos valores da mesada. Ele diz ter visto as relações quando Pizzolatti era o líder (em 2010), sendo que a composição era repetida em reuniões da cúpula da legenda. As listas eram elaboradas nos períodos de escolha de líder na Câmara com os nomes dos parlamentares que votariam a favor do indicado pela ala de Janene e Negromonte.

Youssef ainda explicou que, para "comprar" a bancada, era preciso arrecadar de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões por mês na Petrobras. Os valores seriam repassado em doações oficiais ou entregues em espécie, transportados em voos comerciais, com o dinheiro junto ao corpo dos emissários, ou em aeronaves fretadas.


As delações indicam que o eventual sistema de mesada teria assegurado ao grupo de Janene e Negromonte a vitória nas escolhas de liderança do PP na Câmara até 2011, quando uma rebelião deu à ala de Ciro Nogueira, Arthur Lira e Aguinaldo Ribeiro (todos investigados na Lava-Jato) a liderança e o controle da propina. A troca ampliou o racha do PP. Para conter a briga interna, Costa teria orientado Youssef a manter pagamentos ocultos ao antigo grupo hegemônico da legenda.

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