Pérola do moderno pensamento petista, na boca autorizada de Dilma Roussef:
"A coprrupção é uma velha senhora", ontem, em entrevista coletiva, Brasília.
É véi para lá. Véi pra cá. Fala aí, véio! No pobre
linguajar que se instala na nossa população o vocativo "Véi" virou
uma daquelas pragas - de gíria e de muleta oral e verbal - que ninguém sabe
onde começou nem quando vai acabar. O problema é que a rapaziada não sabe nem
que o tal Véi/ véio que eles chamam significa velho: dito com uma certa
preguiça, sarcasmo e ironia característica da geração net, velho virou véi.
Todo mundo é véi hoje, sem lembrar que vai mesmo ser véio um dia e precisar de
alguém, de algo
Antes era tia/tio. Vá lá, mas se usam para me chamar já
levam pernada. Agora é Véio, isso, Véio, aquilo. Eles - os velhos, os idosos,
os anciões - portanto, estão na boca do povo. Não dá para dar um passo sem
ouvir o Véio em alguma boca por aí, até nas entrevistas. Mas, véio, seria legal
que também estivessem nas suas cabeças, com mais gente pensando sobre isso,
cuidando disso, falando sobre isso. O Brasil tem mais de 20,6 milhões e já
outros muitos quebrados de idosos, 13% da população. Em 50 anos, quando creio
que não estarei aqui para contar e ser mais um neste número ao qual logo logo
pertencerei, serão mais de 58 milhões de idosos. Cada vez mais vivendo mais,
causando, consumindo, querendo votar, podendo ser votado. (Aqui eu estou
tentando valorizá-los nesse aspecto, mais junto aos políticos, para que se
voltem ao assunto, já que gostam de dinheiro, poder e ...de votos! para ter
dinheiro e poder).
Os velhos são fontes de luz e conhecimento, e podem
colaborar com a sociedade até o finzinho de suas vidas, desde que ajudados,
mais preservados, respeitados. E pode ter certeza: é o que querem fazer; até
tentam, mas ainda são desprezados. Vejo casos de arrepiar de destratos,
abandono e desinteresses por mais velhos, violência contra eles (outro dia um
babaca universitário de merda quase matou um de porrada porque reclamou do
barulho). Não há políticas públicas, atendimento. A maioria dos analfabetos
vive no Nordeste e é idosa. Grande parte sem uma moradia adequada, sem recursos
básicos e infraestrutura sanitária decente. Muita gente querendo beliscar seus
caraminguás.
É difícil envelhecer. Sem dinheiro, então, mais ainda.
Sem apoio, quase impossível. E estou afirmando com isso que não é só para eles
que não há atenção. Cada vez é mais difícil para as famílias cuidarem de seus
idosos. Remédios pela hora da morte. Planos de saúde sádicos e caros, muito
caros. Mais fácil escalar uma montanha no Nepal do que poder pagar por um. Sem
investimentos em casas de repouso, clínica para os que sofrem de males
incuráveis, cuidadores bons, raros, caros e disputados, inflacionados. Não têm
calçadas seguras para caminhar, equipamentos disponíveis, políticas públicas,
orientação social, proteção legal, não têm, não têm, não têm também. É preciso
tudo, mas principalmente com agilidade. O tempo urge. Carimba URGENTE no
assunto.
Vivemos, nós, familiares, filhos ou filhas - e estou
falando de muitas pessoas da minha geração que estão passando por esse dilema,
um momento particularmente difícil, o fim, já que ninguém fica para semente e
não inventaram a tal poção da juventude e nem ninguém aí tem pai ou mãe
vampiro, imortal. Para nós, cada dia é uma surpresa, uma aventura, um compasso,
um passo à frente na madeira do trampolim. A gente assiste (e ouve) dores,
reza, sopra aqui e ali, ama, protege, chega a pedir a Deus que pare as tais
dores, ou até, que se possível fosse, as transfira todas para nós. Por que não
se fala nisso? Por que não somos notados? Nem os véios de verdade, nem nós, os
que estamos com eles. Parecemos invisíveis, e muitos de nós cuidamos de idosos
que já não sabem nem mais quem somos, ou são mais frágeis que louça fina.
Sempre há um que fique com a responsa, carregue mais, se sacrifique mais, tente
segurar o relógio do tempo.
Essa semana meu pai fez 97 anos. 97. Tem noção? 35 mil,
405 dias. 849 mil e 720 horas. Começo do século passado, uma guerra mundial,
várias revoluções e rebeldias, proibições e liberações, ganhos e perdas. Não,
ele não fala sobre isso, porque o que passou de dificuldades para sobreviver
desde a infância, vindo de paragens até hoje esquecidas do Amazonas, pulando de
cidade em cidade, não mais o interessa. Ou prefere esquecer, o que compreendo
porque foi uma vida toda difícil. O pouco que sei são informações esporádicas
-só gosta de lembrar que comia jacaré e tartaruga, essa inclusive fornecia o
prato com o seu casco. Da família, dos muitos irmãos, nada sobrou, que eu
saiba. Minha avó, índia com nome dado de pedra preciosa, Esmeralda, morreu
dando à luz a mais um caboquinho, que seria um tio se o tivesse conhecido, num
barquinho no meio do Rio Negro. Do avô, o português, nada sei.
Com algumas capenguices, lúcido, mas com dores em todo o
corpo e o constante lamento delas que não há como contornar a não ser com
analgésicos paliativos. Trabalhou até os 90 anos de idade, desde os 10 anos,
mas recebe hoje - e com toda sorte de obstáculos e dificuldades impostas por
INSS e bancos - um salário mínimo. O mesmo que as parideiras do Bolsa Família
recebem e, em geral, só começando nove meses antes pela parte boa.
Vivo o que falo. Mantenho meu pai vivo, da melhor forma
que posso, me renegando outros prazeres; assim tentei manter minha mãe até o
fim. Sobre o assunto, fui olhar o que o governo está fazendo e encontrei um
mundo cor de rosa, cheio de cargos com nomes quilométricos, tipo
"Coordenadora do Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de
Políticas do Idoso", fora burocratas declarando que estão fazendo algo.
Tive um ataque de riso quando li um desses burrôs do aparelhamento festejando
estarmos na 31ª posição no ranking dos países que oferecem melhor qualidade de
vida e bem-estar a pessoas com mais de 60 anos, segundo o Global AgeWatch. E
enjoei de vez quando li um outro falando no programa de atendimento domiciliar
e cuidado hospitalar garantido. Em qual país? - por favor, me diga!
Deus tá vendo. Deus tá vendo. E, como logo gírias e
expressões são rapidamente substituídas e essa semana, Véi!, apareceu mais uma,
acho mesmo que no geral, ainda, quando pensam nos mais velhos, pensam mesmo só
como aquela fala do comendador no último capítulo da novela, ao balear seu
inimigo:
- "Morre fela da pota!"
4 comentários:
Excelente artigo do Reinaldo:
Divorciado do povo, PT e suas franjas pressionam para que reforma política seja feita no tapetão do Supremo.
Aqui: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
Esta tal de velha Senhora não é mais uma autorreferência inconsciente da própria Dilma?
Ela sem querer se referiu a ela mesma que sendo uma idos, deveria ter dito; a corrupção é da velha "senhôra" , como diria o Janio Quadros. Alias se fossem vivos Janio, Enéas, Brizola, Ulisses, Golbery; o que diriam disso tudo?
Joel
Na Tibuna da Câmara dos Deputados Bruno Araújo,de Pernambuco terminou seu discurso dizendo que " A Corrupção é uma Velha Senhora e os filhos Traquinas são os petistas".
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