Dica de leitura, Leo Iolovitch - Liberdade era uma calça azul e desbotada

Antes de tudo o "Julinho" era um extraordinário laboratório social.

Na minha turma da 1ª série do ginásio havia até aluno arrecadador do jogo do bicho. Alunos ricos, classe média, pobres, muito pobres, brancos, pretos, mulatos, todos freqüentavam a mesma escola.

Vivíamos intensamente a política estudantil. Fiz greve, por motivos que nem lembro mais. Fui presidente de aula, secretário do Grêmio Estudantil e meus ídolos eram o Che Guevara e os Beatles.

No turno da manhã estudavam os alunos da 1ª e 2ª série ginasial e as alunas do clássico e científico. O grande programa era subir as escadas perto do corrimão, olhando para o alto, para ver as pernas das gurias. Elas sabiam disso e evitavam andar na beira da escadaria. Mas, com sorte, sempre havia uma desatenta para nossa alegria.

Quando estudávamos à tarde, a onda era se corresponder por bilhetinhos, colocados embaixo das classes, com as alunas que ocupavam a mesma sala no turno da manhã. Cada um tinha a "sua".

Ao chegar à sala íamos logo procurar a correspondência recebida. Era uma grande curtição. Não chegava a ser um namoro. Elas, em geral, eram bem mais velhas do que nós. Ah, como era bom desdobrar aqueles bilhetinhos, com letra feminina bem caprichada e frases românticas. Sempre havia uma perspectiva de conquista. O curioso é que não conhecíamos as nossas correspondentes. Sabíamos apenas os seus nomes e como eram suas caligrafias.

CLIQUE AQUI para ler tudo, com música de Milton Nascimento.

Nota do editor - O "Julinho" é o principal colégio estadual gaúcho, o Júlio de Castilhos. 

6 comentários:

Luiz Vargas disse...

Vivi este tempo. Tempo bom em que o PoliTicamente correto não vigia e ninguém morreu causa disto.
Tempo em que o verdadeiro era mais verdadeiro, tanto em termos de sentimento quanto em termos de caráter.

Anônimo disse...

Talvez à época o Léo não tenha se apercebido, mas a menina do corrimão não era desatenta ! Mas exibida mesmo, pra "alegria" dela !!

Anônimo disse...

Talvez à época o Léo não tenha se apercebido, mas a menina do corrimão não era desatenta ! Mas exibida mesmo, pra "alegria" dela !!

Anônimo disse...

Liberdade era uma calça azul e desbotada e ser marxista! Como nós eramos idiotas!

Anônimo disse...

Este cara é digno de um prêmio dada a "sofisticação " do texto. É um grande escritor. A que ponto chegamos.

Anônimo disse...

Pois é: esses foram os "anos de chumbo", que a "companheirada" que não viveu aquela época fica inventando coisas, como o anônimo das 08:34!

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