Artigo, jornal Valor - Mundo de incertezas (A tempestade perfeita em 2013)

- O artigo a seguir, "Mundo de incertezas", que desenha a possibilidade de uma "tempestade perfeita" para a economia mundial em 2013, integra uma série de outras análises e reportagens, que trabalham sob o título geral "Brasil depois do Carnaval", material disponibilizado pelo caderno de fim de semana do jornal Valor. A seguir, trechos selecionados pelo editor e o link com o artigo principal completo:

Mundo de incertezas
Autor(es): Por Alex Ribeiro | De Washington
Valor Econômico - 20/07/2012

O economista Nouriel Roubini, que ficou famoso por ter previsto a crise imobiliária americana, precisou de apenas 140 caracteres do Twitter para descrever a tragédia econômica que, segundo ele, vai acontecer no ano que vem. É a "tempestade perfeita": piora da crise na Europa, pouso forçado da China, recessão nos Estados Unidos, desaceleração adicional nos emergentes e uma guerra no Irã.

Roubini já havia traçado esse cenário soturno no começo do ano, mas poucos prestaram atenção, já que ultimamente ele tem errado mais do que acertado nas suas previsões. Venceu o prazo de validade, por exemplo, dos alertas que ele fez sobre o iminente estouro da bolha do mercado de "commodities" e de uma crise devastadora no mercado de ouro.

Do começo do ano para cá, porém, uma sequência de dados econômicos negativos passou a sustentar pelo menos parte da tese da "tempestade perfeita". As economias desenvolvidas, que já iam mal, deram novos sinais de debilidade, na Europa e Estados Unidos. A grande surpresa é a desaceleração das grandes economias emergentes, sobretudo China e Brasil, em torno das quais houve uma certa euforia dos mercados nos últimos anos.

Roubini não está sozinho na suas previsões catastróficas sobre os emergentes.

 FMI chama a atenção para o risco de uma crise financeira causada por excesso de crédito, no Brasil, na China e na Índia

Para o FMI, o Brasil também passa por uma desaceleração econômica deliberada, a exemplo do que ocorre com a China. As autoridades brasileiras adotaram uma série de medidas a partir de fins de 2010 para esfriar um crescimento que, naquele ano, chegou a 7,5%. O objetivo foi combater sinais preocupantes de superaquecimento, aceleração inflacionária, ritmo insustentável de expansão de crédito bancário e supervalorização de imóveis. A receita incluiu regras regulatórias para conter o crédito, juros mais altos, controles no ingresso de capitais e aperto fiscal.

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Os economistas passaram a se perguntar se havia algo errado. "Houve alguns questionamentos sobre a eficácia dos mecanismos de transmissão do relaxamento monetário", disse Thomas Helbling, consultor do departamento de pesquisa econômica do FMI, na entrevista de divulgação do Panorama Econômico Global.
BloombergNouriel Roubini descreve a “tempestade perfeita” em 2013: piora da crise na Europa, pouso forçado da China, recessão nos EUA, desaceleração nos emergentes e guerra no Irã

A questão é se o corte de juros não chegava à economia porque uma das suas artérias de transmissão estava meio entupida - o chamado canal de crédito. Juros mais baixos, em tese, devem baratear o crédito, estimulando mais famílias e empresas a tomarem empréstimos. Mais crédito, por sua vez, deve ajudar a ampliar o consumo e o investimento, movendo a produção e bens e outras engrenagens da economia.

O problema é que, depois de o volume de empréstimos ter duplicado em menos de uma década, as famílias ficaram muito endividadas, e isso levou ao aumento da inadimplência. Numa situação dessas, há menos gente disposta a tomar empréstimos, e os bancos ficam mais relutantes para conceder empréstimos.

Os bancos vêm limpando suas carteiras de crédito, e agora é uma questão em aberto se esse canal de transmissão da política monetária já foi restabelecido. O FMI acha que foi, sim, em boa medida. "A maior parte desse problema já está sob controle", disse Helbling. "
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 No cenário traçado pelo FMI, a economia brasileira já estará crescendo a uma velocidade de 4% no último trimestre. No conjunto de 2012, o PIB terá crescido apenas 2,5%, porque a expansão nos trimestres anteriores foi mais fraca. Para 2013, a aposta do Fundo é um crescimento de 4,6%. O mercado financeiro vê uma trajetória mais ou menos parecida, embora com magnitudes diferentes - crescimento de 1,9% em 2012 e de 4,1% em 2013.

E se os estímulos não funcionarem? O FMI, no seu Panorama Econômico Global, chama a atenção para o risco de uma crise financeira causada pelo excesso de crédito dos últimos anos, não só no Brasil, mas na China e na Índia. O cenário do desastre é uma desaceleração econômica que leve a um aumento mais forte da inadimplência.

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"A questão no Brasil é menos o risco de uma crise e mais o risco de uma trajetória de crescimento mais baixo", afirma Wood, da EIU, ecoando receio expressado por vários economistas. A teoria é que, nos últimos anos, o Brasil cresceu num ritmo mais acelerado porque surfou numa onda favorável, criada, entre outros fatores, pelos altos preços de matérias-primas exportadas e pelo ciclo de expansão de crédito. Nesse período, deixou de fazer as reformas necessárias, como também não cuidou de aumentar a produtividade e do investimento. Mais recentemente, piorou as coisas com uma política econômica do tipo "stop and go", alternando superaquecimento e expansão medíocre. A indústria manufatureira encolheu, diante da alta dos custos de mão de obra, e o setor de "commodities" investiu demais, acreditando num ciclo favorável de preços infinito.

"O problema é que o apetite global por commodities está começando a cair", escreveu o economista-chefe para países emergentes do banco Morgan Stanley, Ruchir Sharma, num comentado artigo publicado na revista "Foreign Affairs" (ver pág 8). "E, se o Brasil não tomar as medidas para diversificar e impulsionar seu crescimento, em breve vai cair junto com as commodities." Num cenário sombrio, o país teria que se contentar em crescer algo como 3% ou 3,5%, em vez de 4,5% ou 5%. Essa é uma teoria a ser testada - e muitos economistas dizem que a prova do pudim será quando o ciclo de estímulo monetário chegar a todo vapor na economia. Se houver inflação alta e crescimento medíocre, a tese terá sido confirmada. Se a economia crescer bem sem acelerar a inflação, vai para a lata do lixo.

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4 comentários:

Anônimo disse...

Pode até cair os "comoditess" mas não em 2013,porque em 2012 os EUA está tendo a maior seca dos ultimos anos, tanto que o preço da soja está nas alturas.

Anônimo disse...

E o voo da galinha continua.

Anônimo disse...

Fosse eu não torceria pra grnde crise em 2013,pois,quanto pior estiver lá fora,o povo tende a se contentar com qualqer coisa aqui dentro. Sem contar que com grande crise batendo à porta,na hora de eleição presidencial,o bolsa família pesa ainda mais no voto. Ninguém quer trocar o certo pelo duvidoso quando se atravessa uma tempestade,assim sendo,tanto o eleitorado do bolsa família,quanto o da nova classe média vão querem,no mínimo,assegurar suas conquistas e não se aventurarem numa mudança.

Justiniano disse...

O quadro das commodities agrícolas estão num patamar histórico, quando do inicio do plano real a saca de soja valia U$ 6,00 e sonhavamos naquela época com um preço de U$ 10 a 11, e agora vale U$ 35,00, preço que deverá ser mantido até maio do ano que vem (período do plantio da soja nos EUA). O mesmo está ocorrendo no milho que agora segue cotação em dolares porque o país irá exportar volumes significativos de milho, porque os americanos não terão condição de fornecer milho aos chineses e europeus. Estados onde o plantio inicia em setembro haverá um plantio da área total de soja e depois concentrará estas áreas no final de janeiro para o milho safrinha, que já passou a ser a safra normal. Somente em junho com as primeiras previsões do Departamento de Agricultura sobre a safra americana poderá rever os preços da soja e milho. Até lá a euforia vai continuar.
Isso vai refletir no preço do frango, do suino (que consomem volumes enormes de farelo de soja) e também no setor de óleos. Já dá para ver a fumaça do dragão da inflação lá no final do tunel.
Quem viver verá...

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