Já passa da hora de vermos a questão cubana além do limite da ótica ideológica. É visível o incômodo de setores, que se dizem democráticos, de reconhecer o autoritarismo do regime cubano, como se existissem duas Cubas: a real, que muitos preferem não enxergar, e a outra, da fantasia, que cada um constrói no seu imaginário como quer. Não podemos mais ver o país e o regime dinástico dos irmãos Castro como se a ilha fosse o último enclave da Guerra Fria. Precisamos, isso sim, mobilizar as melhores energias da nossa diplomacia e da comunidade internacional na direção da única realidade que, de fato, interessa: o povo cubano.
São 11,2 milhões de pessoas submetidas ao cotidiano cruelmente caricato das cotas de alimentos, esse malfadado regime das cadernetas, a uma carência crônica, ao desabastecimento histórico, que desmentem, há muito, a fantasia do socialismo igualitário. Ao mal-estar econômico agrega-se o pior que uma sociedade pode vivenciar: a falta de horizonte para as novas gerações. A imensa maioria da população nasceu pós-Fidel e, portanto, desconhece o usufruto da palavra liberdade, o direito de ir e vir, de discutir, de recusar, de dissentir. "Me sinto como um refém sequestrado por alguém que não escuta nem dá explicações", diz a blogueira Yoani Sánchez, proibida pela 19ª vez de viajar a outros países.
No entanto nem mesmo o isolamento forçado tem conseguido impedir que, pelas frestas da fortaleza do castrismo, infiltre-se a brisa que dá notícia aos cubanos da mais simples equação da vida política de uma nação: não há dignidade possível numa ditadura. Recordo o ainda nebuloso episódio do asilo-não-asilo aos boxeadores cubanos durante os Jogos Panamericanos do Rio, em 2007. Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara abandonaram a delegação, mas foram recambiados a Cuba pelo governo do PT. Lá os atletas sofreram retaliações. E pensar que o Brasil é tão pródigo em acolher até mesmo criminosos comuns
Os silêncios e os temas evitados na viagem da presidente Dilma a Cuba agridem as consciências democráticas. O mal disfarçado flerte com regimes fechados e totalitários, como o de Cuba e o do Irã, entre outros, expõe publicamente a tentação autoritária que o PT tenta dissimular e que, no entanto, parece estar inscrito no DNA do partido. A ambiguidade explode em episódios como este. Quem no passado foi perseguida por defender ideias, deveria identificar-se com os perseguidos de hoje, e não sentir-se tão confortavelmente à vontade ao lado de dirigentes de um país onde não há resíduo de democracia há mais de meio século. Volto a Yoani: "Dilma foi a Cuba com a carteira aberta e os olhos fechados". Foi pouco.
* Artigo publicado na Folha desta segunda.
9 comentários:
Vai lá Aécio, é hora de pegar pesado com essa escumalha.
ah, isso eh só no discurso...
se for eleito presidente, o que duvido muito, vai adotar a linha puxa-sacos daqueles velhos carniceiros...
ou vai fazer o que?
romper relações com o regime dos açougueiros?
ai eh que nunca mais veremos a cor da grana que os petralhas estão enterrando por la...
Fácil opinar sobre obvio e sobre tema batido, né? Aécio.
Até parece que ninguém escreveu sobre isso.
LOBOS MANDAM COMO NUNCA
OS PETRALHAS CONTINUAM LOBOS COM A PELE DE OVELHA,SÓ QUE AGORA APÓS CELSO DANIEL,MENSALÃO ONGS DA FAMÍLIA DO LULA,E TODA A BARBARIDADE QUE PRATICAM,JÁ MOSTRAM DESAVERGONHADAMENTE AS UNHAS AS PRESAS,JÁ SE SABE O QUE SÃO.
FALTA A VERGONHA PARA APEÁ-LOS DO PODER EM OPORTUNIDADE PRÓXIMA.
Um belo discursos, mas inócuo, educado demais. A cabeça dos eleitores do PT convive muito bem com essa falta de coerência. Há um contingente de 24 milhões que ganham o Sal. Mínimo e 20 milhões de famílias beneficiadas com as diversas bolsas, no mínimo uns 40 milhões de votos comprados. Um discurso desses não muda o voto dessas pessoas. Infelizmente. As camisetas do che guevara continuarão desfilando em nossa ruas por muito tempo.
Porque nao deixam o Aecio Cunha (Neves e nome artistico...) descansando no Leblon? O Aecinho nunca foi dado ao trabalho. E dado, isto sim, ao trago, a praia, a boa mesa e as noitadas. Este vai ser mais facil que o Serra e que o Geraldo Gerente.
Acabei esquecendo de lembrar que o Aecio Cunha nao fez qualquer alusao alguma ao apoio que o ele, seu partido e o sociologo moreninho, deram ao Fujimori e ao Strossner. Talvez seja amnesia. Ou falta de coerencia.
Verdade, anônimo (17:16)!
Com as exceções de praxe, o povo brasileiro não presta!
'Aécio nunca foi dado ao trabalho'. Nove dedos foi???
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