O porta-voz Paulo Fona (foto) pegou bem: a partir de agora, nenhum integrante do governo estadual se sentirá à vontade em conversar com o vice-governador Paulo Afonso Feijó - o "Juruna dos pampas". "Vai saber se ele não gravará a conversa", diz Fona. O jornalista comenta que nenhum integrante do governo se sentirá mais à vontade na presença de Feijó.
. O cacique Juruna (a saber, Mário Juruna foi o primeiro e único índio a se eleger deputado federal), para quem não lembra, eleito deputado federal, andava com um gravador pelo Congresso Nacional gravando a conversa que tinha com seus pares. Explicava dizendo que não dava pra acreditar no que branco falava. E por isso gravava tudo para ter como prova.
. Uma grande diferença entre Feijó e Juruna é que o índio andava com um gravador à mostra e avisava seus interlocutores antes de apertar o play. Feijó, ao contrário, esconde equipamentos mínimos sabe-se lá onde.
Saiba quem foi Juruna
(fonte: Jornal da USP, matéria de MARIA EUGÊNIA DE MENEZES)
Mário Dzururá, ou Juruna como era conhecido, foi o primeiro e único índio brasileiro a se tornar deputado federal. Eleito pelo PDT do Rio de Janeiro em 1982, cria política de Leonel Brizola e do antropólogo Darcy Ribeiro, que na época militava nas fileiras do partido, Juruna foi o maior representante indígena nas esferas do poder federal. Vítima de diabete crônica, o ex-cacique xavante morreu no dia 17, depois de passar 15 dias internado no hospital Santa Lúcia em Brasília. A doença já o debilitava há muito. Preso a uma cadeira de rodas, Juruna andava esquecido pelos políticos e pelos índios, mas sua atuação foi um marco histórico. "A presença de um índio no Congresso foi importante para defender os interesses indígenas e para barrar projetos que os prejudicassem", explica a antropóloga Fany Ricardo, coordenadora do ISA (Instituto Socioambiental).
Como deputado federal, Juruna foi uma espécie de embaixador das nações indígenas e sua atuação no Congresso serviu para sensibilizar setores sociais para os problemas que os indígenas enfrentavam. O cacique xavante chegou a Brasília no final dos anos 70 e logo ganhou notoriedade por andar, para baixo e para cima, com um gravador debaixo do braço registrando as promessas dos políticos.
Mesmo depois de eleito deputado, Juruna continuou sendo considerado por muitos apenas como uma figura folclórica, com hábitos e idéias extravagantes. Contudo, aos poucos, foi se impondo como analista da situação indígena no Brasil e como ator político. Logo no seu primeiro ano de mandato, conseguiu criar a Comissão do Índio, da qual foi o primeiro presidente. Com a função de assegurar os direitos indígenas, a comissão passou a funcionar como um órgão permanente da Câmara dos Deputados.
O segundo grande passo do ex-cacique foi a aprovação do projeto que alterava a composição da diretoria da Funai. Ele queria que a Funai fosse administrada por pessoas apontadas pelas comunidades indígenas — índios ou indigenistas reconhecidos. Reconhecido por sua atuação, ele nunca deixou de ser polêmico. Recusou-se a usar terno e gravata, como exige o protocolo da Câmara, quase perdeu o mandato por dizer que "todo ministro é ladrão" e teve sua imagem bastante desgastada quando confessou ter recebido dinheiro do empresário Calim Eid, para votar em Paulo Maluf no colégio eleitoral. Pressionado por seus colegas de partido, ele acabou denunciando o suborno, devolvendo o dinheiro e votando em Tancredo Neves. O gravador é arco e flecha Líder dos xavantes, Juruna saiu da sua tribo, na reserva de São Marcos no Mato Grosso, e foi para Brasília tentar ser ouvido pelo presidente. Depois de enganado muitas vezes, Juruna decidiu usar o gravador que tinha comprado em Cuiabá para registrar as "mentiras" que lhe diziam e as promessas falsas que lhe eram feitas.
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