Crônica de sexta - Regando a vida, por Vítor Bertini

Na janela do meu estúdio, quem diria, mora uma flor. Discreta, me assiste trabalhar.

Ontem, triste de dar dó, olhando sem ver, notei seu galho seco, e comecei a sonhar.

Abri a janela, e o vento, velho rabugento, espalhou folhas pelo chão.

Reparei no vaso, pelo acaso, a vida teimosa. Na terra dura, rachada, o broto e o texto nascendo:

"E Deus fez as flores, ainda sem nomes, no terceiro dia da criação."

– Essa é uma begônia. Valente. Tadinha, seca de dar pena. Parece a gente.

Constrangido, reguei a plantinha. Pouco depois, fui embora. Fui pra casa, fui deitar.

Hoje, alegre de só ver, trouxe um pequeno regador. A vida, na janela, tem o rosa da minha flor.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Que linda essa crônica Políbio. Precisamos regar as flores todos os dias. Algumas, dependem de nós.

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