A entrevista foi autorizada pelo juiz Eduardo Oberg,
titular da Vara de Execuções Penais do Rio.
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Folha - Por que o sr. decidiu denunciar o mensalão?
Roberto Jefferson - Decidi dar a entrevista porque tinha
sido vítima de uma matéria que deflagrou o processo da minha cassação. Aparecia
um funcionário dos Correios, Maurício Marinho, recebendo R$ 3 mil e dizendo que
era para o PTB. Era uma pessoa com quem eu não tinha nenhuma relação.
Virei o grande vilão nacional por R$ 3 mil. A matéria foi
feita por encomenda da Casa Civil [então chefiada por José Dirceu]. Nós
identificamos imediatamente de onde veio.
O governo tentou algum acordo para silenciá-lo?
Quando eu estava sob tiroteio, vai à minha casa o líder
do governo, o [Arlindo] Chinaglia, e propõe um acordo. "Roberto, você
renuncia à presidência do PTB, o governo designa um delegado ferrabrás para o
processo, ele arquiva e tudo se acerta".
Eu disse: "Não aceito. Eu entrei pela porta da
frente e vou sair pela porta da frente. Só que eu vou carregar um bocado de
caras comigo. Vocês não vão me ver de joelhos, eu vou enfrentar vocês".
[Chinaglia nega o relato.]
Dez anos depois, o PT diz que não se comprovou o
pagamento de mesada a deputados.
Havia mesada. A Lava Jato agora clareou isso. Por
respeito à decisão do ministro [Luis Roberto] Barroso, eu só posso falar do passado.
Mas o [Alberto] Youssef fazia pagamento mensal para vários deputados de
partidos da base. Era aquilo que havia na época. As malas chegavam com R$ 30
mil, R$ 60 mil, R$ 50 mil. Não se comprovou porque não fotografaram.
Por que o sr. não aceita ser chamado de delator?
Isso me deixa chateado. Delator é quem está dentro. Eu
não deixei o PTB entrar no mensalão, não aluguei minha bancada. Quando o juiz
me propôs a delação premiada, respondi: "Excelência, delação premiada é
conversa de canalha. Quem faz delação premiada é canalha".
O sr. afirmou que Lula era inocente. Mantém essa versão?
Eu avisei o presidente [sobre o mensalão]. A reação dele
à época me deu a impressão de que ele não soubesse. Quero crer que ele não
sabia.
Seu advogado disse ao STF que Lula chefiou o esquema.
Aí foi a liberdade do advogado. Eu dizia: "Para de
bater no Lula, pelo amor de Deus. Você tá contrariando o que eu disse, tá me
deixando de mentiroso". Foi quando ele renunciou [à defesa].
Ele é convencido de que o Lula tem culpa, de que não se
faria uma coisa dessa envergadura sem o presidente saber. Ele é meu amigo, é um
grande advogado, mas não obedece o cliente (risos).
Qual a maior consequência de sua denúncia para o país?
Caiu aquele véu que havia sobre o PT, de partido ético,
moralista. O PT posava de corregedor moral da pátria. Ali caiu a máscara. O PT
a vida inteira deblaterou contra os adversários, mas "blatterou" a
prática política padrão Fifa. O PT impôs ao país o padrão Fifa da corrupção.
Dirceu era cotado para suceder Lula. Considera que mudou
a história do país?
O Dirceu saiu da fila. Se fosse ele o presidente, nós já
estaríamos vivendo aqui a Venezuela. A Dilma é o Maduro (risos). O Chávez é o
Dirceu. Com ele, teria cerceamento das liberdades democráticas, perseguição à
imprensa livre, cadeia para opositor. Não ia ter papel higiênico.
O que o levou a aparecer na CPI com o olho roxo?
Foi por causa de uma discussão com a [ex-deputada] Laura
Carneiro sobre o Lupicínio Rodrigues e a música 'Nervos de aço'. Ela dizia que
era de outro autor. Eu fui pegar o CD. Era uma daquelas estantes antigas,
estava solta da parede. Quando fui me apoiar, o móvel veio.
Parecia que eu tinha apanhado. Essa história não adianta
[repetir]. Nem minha mãe acreditou. Se mamãe não acreditou, como é que as
pessoas vão acreditar?
O sr. foi condenado por receber R$ 4 milhões do PT. O que
fez com o dinheiro?
Foi gasto nas eleições municipais do PTB em 2004, em
campanhas de prefeito no Rio, em Minas, São Paulo. Isso ficou no passado. O
partido no poder é que tem dinheiro para fazer eleição. O pequeno não tem, ele
recebe o repasse do grande.
Quem fez o acordo no PT?
O Dirceu, na Casa Civil. Fechamos ali naquele prédio da
Varig [em Brasília]. Financiamento de R$ 20 milhões à eleição do PTB, em cinco
parcelas de R$ 4 milhões. Esse acordo não foi cumprido, só foi paga a primeira
parcela. Foi um desastre para o PTB.
Há quem acredite que esse é o verdadeiro motivo de sua
briga com Dirceu e o PT.
Se mamãe não acreditou que a estante caiu em mim, não
quero convencer ninguém. É minha versão. Quem não acredita, paciência.
O sr. também foi acusado de usar órgãos do governo, como
o Instituto de Resseguros do Brasil, para financiar o PTB.
O Lídio Duarte nos procurou para ter aval para ser
presidente do IRB, fez um acordo conosco. Ele colocaria cinco brokers,
operadores de mercado, recebendo R$ 60 mil de cada um. Conseguiria fazer um
caixa de R$ 300 mil para ajudar o partido. Coisa que ele nunca cumpriu.
Era dinheiro de caixa dois?
Sim.
Isso é diferente do que foi descoberto no petrolão?
Não é diferente. Infelizmente, as estatais são braços
partidários. As empresas públicas ainda funcionam no financiamento dos
partidos. O cara briga para fazer diretor da Petrobras. É para fazer obra positiva,
a favor do povo? Não existe isso.
As estatais são as grandes promotoras da infraestrutura
do país. Elas é que são fortes. Não tem empresa privada no Brasil. E tem as
paraestatais, que são as empreiteiras. Funcionam em função do governo.
O que acha da proposta de financiamento público?
O Brasil não tem financiamento privado. O financiamento é
público de segunda linha, mas é. Quem financia campanha no Brasil são as
empresas que têm grandes contratos com BNDES, Banco do Brasil, Petrobras.
Eu acho uma graça isso: "Temos que acabar com o
financiamento privado". Não tem financiamento privado, é estatal. Os
empreiteiros não são privados, são braços das estatais. É aí que está o caixa
de toda eleição.
Então não seria melhor proibir as doações?
Se proibir o financiamento privado, vai tirar dinheiro da
saúde, do transporte e da educação para fazer campanha. É um absurdo. O
político vai ser linchado na rua. E proibido o financiamento privado, você
dificilmente derrotará o partido oficial.
Depois de ser cassado e preso, o sr. se arrepende por ter
denunciado o mensalão?
Eu sabia o que ia acontecer e estava preparado. Não tenho
nenhum arrependimento. Zero. Só não gostaria de fazer de novo, de sofrer isso
tudo outra vez.
9 comentários:
E MP APROVA MAIS INSEÇÃO TRIBUTÁRIAS AS IGREJAS E ANULA MAIS DE 300 MILHÕES DE IMPOSTOS E MULTAS.
AJUSTE FIASCAL.
Folha: demora do mensalão tucano ultrapassa tolerável:
Em editorial neste sábado, o jornal comandado por Otávio Frias Filho afirma que "depois de anos, o chamado mensalão tucano conhece pequeno avanço processual" ao convocar o ex-senador Clésio Andrade para depor na Justiça mineira; "Só resta esperar que não se interponham novos obstáculos no caminho desse processo --mesmo sem atrasos adicionais, já terá atrasado muito mais do que o tolerável", diz o texto......
E qual o PADRÃO do mensalão TUCANO que, ao que parece, NUNCA vai ser julgado? Já o mensalão do PT o STF condenou até quem não tinha foro privilegiado com base na Teoria do domínio do fato.
Jeferson: Baita ladrão que somente agora saiu da cadeia.
Vai devolver o que roubou do Brasil, seu vagabundo
Petralha 10:44 Insista, periga ter!
Jefferson, o único réu confesso do Mensalão, botou no bolso com cerca de 4 milhões de repasses que eram para o Partido do PTB.
Este de corrupção sabe udo e mais um piuco e é amigo do editor quando vinha ao RS eram par e passo.
Roberto Jefferson, do PTB, amiguinho do editor anônimo das 07:27? É justo aplicar a Teoria do Dominio do Fato ao editor? ops.....o editor é intocável, fala mal do PeTe até pelos cotovelos, semeia o ódio e não dá nada, se esconde atrás do diploma de jornalista.
Falar de teus colegas ladrões (e tu és suspeito, sério candidato a larápio ) petralha 13:41, é dever de jornalista, assim como ladrão ou candidato a ladrão defende ladrão.
Apesar de tudo o Jeferson é um grande cara, pois teve a coragem de dar o pontapé inicial. Depois veio o resto.... No final o PT é o Partido da Trapaça!
Grande jeferson!
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