Como um morto se tornou o sócio generoso de Leonardo
Picciani, líder do PMDB na Câmara, e seu pai, Jorge Picciani, presidente da
Assembleia fluminense.
A reportagem é dos repórteres da Época de hoje, Hudson Correa e Raphael Gomide. Leia tudo:
No final da manhã de 28 de setembro de 2012, os donos da
Tamoio Mineração se reuniram na sede da empresa em Jacarepaguá, no Rio de
Janeiro. Avaliada em R$ 70 milhões, a pedreira fornece brita para empreiteiras
que fazem obras públicas de infraestrutura. Segundo a ata da reunião, o
acionista Joaquim Vivas Caravellas compareceu à Assembleia Extraordinária.
Vendeu as 100 ações que tinha aos outros dois sócios e assinou um documento
selando o negócio. Caravellas, porém, estava morto havia um ano e cinco meses.
Morrera em 21 de abril de 2011, aos 87 anos. O negócio feito pelo defunto
beneficiou um poderoso clã político do PMDB, em ascensão no cenário nacional.
O patriarca é o presidente da Assembleia Legislativa do
Rio de Janeiro, Jorge Picciani. Um de seus filhos, Leonardo Picciani, é o líder
do partido na Câmara dos Deputados. Outros dois filhos são sócios numa empresa
da família, a Agrobilara: Rafael, deputado estadual e secretário municipal de
Transportes do Rio, e Felipe, que fica à frente dos negócios da família. Os
acionistas que compraram as ações do defunto foram a Agrobilara, empresa dos
Piccianis, e Carlos Cesar da Costa Pereira, o Carlinhos, empresário do ramo de
tubos de concreto.
A assinatura de Felipe Picciani aparece no documento de
aquisição das ações abaixo da firma do falecido. Carlinhos, o outro comprador,
disse a ÉPOCA ser amigo de infância de Felipe e que, por isso, o convidou para
o negócio. Também estava presente o economista Jorge Luiz Ribeiro, amigo de
Jorge Picciani. A Agrobilara e o empresário Carlinhos revenderam a Ribeiro,
imediatamente, 8% das ações da pedreira. Ribeiro nega ter “sociedade específica
com Picciani”. “Sou sócio junto, faço parte da mesma empresa”, diz.
Os Piccianis confirmam a operação, mas culpam o contador
da família Caravellas por uma confusão. “O contador dos vendedores foi quem
preparou os documentos da transferência. Se alguém cometeu um equívoco, por ele
(contador) deve ser sanado”, afirma Jorge Picciani, em nota. O contador não
respondeu aos pedidos de contato de ÉPOCA. Reinaldo, filho de Caravellas, não
soube explicar como a assinatura do pai aparece em documentos firmados após sua
morte. O outro sócio na pedreira, Carlinhos, tampouco tem uma resposta.
Uma das grandes forças políticas do Rio de Janeiro, Jorge
Picciani preside o PMDB fluminense desde 2011. Atua de forma discreta, mas
vigorosa, nos bastidores. Nenhuma costura política ou eleitoral envolvendo o
PMDB no Rio vinga sem a anuência do deputado, eleito presidente da Assembleia
Legislativa pela quinta vez. O governador Luiz Fernando Pezão evita
confrontá-lo. Picciani costuma ajudar prefeitos, vereadores e deputados em
campanha, em troca de retribuição eleitoral. À frente do PMDB fluminense, geriu
doações de R$ 55 milhões na corrida estadual de 2014, decidindo quais
candidatos receberiam os recursos, e foi o líder do movimento “Aezão” – no qual
prefeitos e deputados do Rio apoiavam a candidatura de Aécio Neves a presidente
sem abandonar Pezão, que concorria ao governo do Rio em aliança com o PT.
Depois de comprar ações de um homem morto, Picciani culpa
o contador
Na vida privada, a família Picciani se dedica à pecuária
desde 1984, quando comprou a primeira fazenda. Hoje são quatro propriedades em
Rio das Flores, no Rio, e outras em Uberaba, Minas Gerais, e São Félix do
Araguaia, Mato Grosso. É um dos maiores criadores de gado nelore do Brasil.
Adversários políticos o chamam de “rei do gado”. Se a atuação dos Piccianis na pecuária
era conhecida, os negócios em mineração são novidade. Depois de entrar na
sociedade na pedreira Tamoio, em setembro de 2011, os irmãos Leonardo e Rafael
multiplicaram o patrimônio por cinco.
Até a sua morte, Caravellas era dono de pelo menos três quartos
da Tamoio. Ele começou a assombrar a Junta Comercial em 29 de junho de 2011,
dois meses depois de morrer. Naquele dia, por volta das 13h30, alguém usando
seu nome e assinando por ele apareceu na Junta para registrar os balanços
financeiros de 2008 a 2010. A pedreira precisava colocar os papéis em dia,
porque havia compradores interessados. Em setembro, a empresa dos Piccianis
comprou 49,99% das ações da pedreira. O clã político tornava-se sócio do morto.
A assinatura no documento de venda, atribuída ao morto,
não guarda nenhuma semelhança com outra firmada por Caravellas em um documento
de 2000. Na original, o nome é ilegível e a escrita é contínua. Na assinatura
post mortem, podem-se ler seus três nomes: Joaquim Vivas Caravellas. A
assinatura suspeita é também a única no documento sem reconhecimento de firma.
Para advogados especialistas em Direito Civil, consultados por ÉPOCA, um
documento assinado em nome de uma pessoa morta é “inexistente”. O documento não
tem efeito. Assim, a venda da pedreira à empresa dos Piccianis e a Carlinhos é
um enredo de ficção – o que não o torna menos lucrativo.
3 comentários:
Com tanto malfeitor no Brasil, esta é apenas mais uma. Aqui é um país, como já dizia o Presidente Francçes Charles de Goulle, "Brasil não é um país sério". Não tem Lei de prisão perpétua ou de fuzilamento, se tivesse seria diferente, mas quem faz as LEIS é o legislativo que está contaminado por "espertos".
assinatura psicografada.. isso pode arnaldo?
DEFUNTO faz delação premiada?
DILMA não se contentará, irá chamar um baiano, amigo do Rena pra ver se exorciza o defunto de seu líder pmdbista. Pode?
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