Dia 29, o dia em que o Grêmio e o Inter salvarão Porto Alegre


Artigo: Dia 29, o dia em que o Grêmio e o Inter salvaram Porto Alegre.

Roque Callage Neto *

O raciocínio é o seguinte: sem estas duas organizações, a cidade demoraria mais vinte anos para aprovar qualquer coisa que se relacionasse com a atualização (não digo arrojo, mas atualização) à contemporaneidade do mundo.O projeto do Pontal foi um ensaio, mas foi necessário que Grêmio e Internacional se movimentassem, pressionados também por um fator externo como a Copa do Mundo de 2014, para que a cidade acordasse, e a Câmara dos Vereadores percebesse que Porto Alegre está terrivelmente defasada no seu plano viário, seu plano diretor, no licenciamento de obras, e se pusesse ao trabalho.

. Este depoimento é trivial, mas encerra um ensinamento sociologico da maior importância e espero que o secretário Fortunatti o esteja lendo: tomei um táxi domingo à noite, como toda a pessoa que gosta de beber sem se preocupar, e fui ao encontro de amigos e amigas no Boteco Natalício - que ao contrário do que o nome possa sugerir, não é local sujo e atirado , mas justamente um dos bares mais bonitos e agradáveis de Porto Alegre, reunindo muita gente bonita, inteligente e de bom humor. No caminho da avenida Perimetral, comentei com o motorista o quanto aquela avenida ficaria linda se estivesse plena bares e casas noturnas e como isto poderia ser feito com acordos com a Prefeitura , que isto nunca se realiza em Porto Alegre, que exemplos como este existem no Rio, SP, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Aqui, bons projetos como este e do Pontal levam 20 anos para se concretizarem, assim como o Cais do Porto.

. Que não se atraem turistas, investimentos, corredores turísticos, hoteleiros, gastronômicos, de eventos, que a cidade está sem foco, sem rumo, autárquica. O motorista me disse que para atrair gente é primeiro preciso saber tratar bem, que ele era carioca e foi muito mal tratado por aqui quando revelou sua origem. Que a primeira coisa que os gaúchos perguntam é "o que você está fazendo aqui; por que veio para cá?", ao invés de lhe aceitarem, perguntarem das novas, e receberem bem. Que nem os táxis sabem tratar turistas em Porto Alegre, nem os hotéis estão preparados, nem o poder público sabe informar qualquer coisa, nem os restaurantes e casas sabem entender turistas e que há anos os táxis só levam turistas em casas de promiscuidade sexual, quando estes pedem um show ou espetáculo.

. O motorista carioca tem toda a razão: Porto Alegre é um local perdido como Galápagos. Não há curiosidade construtiva porque a cidade não é rota de nada há mais de 30 anos, desde quando o modelo econômico se tornou autárquico. Não recebendo quase ninguém comprador, e tendo suas indústrias e parque industrial modificados ao se tornar produtor de insumos , matérias primas e intermediários, o Estado e a cidade deixaram de ser ponto de referência. Não sendo ponto de passagem de ligação de negócios ampliados para o Prata e o Chile, mas apenas dormitório, quando é, e apenas rota indireta para a Serra - que está ligada a São Paulo e ao Exterior, mas não ao RS, Porto Alegre e o resto do estado são autarquias, e é por isto que resistem tanto ao que vem de fora. Resta saber até quando vão resistir mais. Ainda bem que existem o Grêmio e o Internacional, que estão ligados ao que acontece lá fora, senão a passagem de avião já teria sido de mão única para Galápagos, com apoio de todos os movimentos autárquicos retrógados. Que são muitos e muito mais bem articulados do que se supõe no senso comum. Enquanto Buenos Aires, por causa do Puerto Madero, já desenvolve o movimento estético do "tango pós-piazzolístico", ou seja, já foi para além de Piazzola, nós aqui ainda não tivemos inspiração urbana suficiente para criar e ampliar estéticamente sobre o movimento "gaudério", integrando-o com as melhores tendências mundiais. Está na hora de a prefeitura trabalhar duro para rever urgentemente esta tendência de mãos dadas com o governo do Estado.

* Roque Callage Neto é doutor em Ciências Sociais e Relações Americanas e professor de Relações Internacionais.

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