A nova crise que ameaça se abater sobre o governo gaúcho em função da decisão da governadora Yeda Crusius de extinguir o seu Conselho de Comunicação Social, começou nesta quinta-feira ao final da apresentação de Luciano Deos, diretor-presidente do GAD – maior consultoria de branding e design do Brasil – no Centro de Treinamento da Procergs, na zona Sul de Porto Alegre. O dia foi dedicado pelo governo gaúcho à chamada "imersão". Participaram o 1º e 2º escalões, mais os chefes de gabinete e coordenadores das assessorias de imprensa do governo Yeda.
. GAD’ e o próprio Luciano Deos nunca se meteram com governo e sobretudo com o chamado marketing político. Não é o negócio deles. O que propuseram foram conceitos novos para o governo, que não tem problema de conceito, mas de comunicação, que precisa de centralização. Yeda tem errado muito na área, a começar por submeter tudo à secretaria Geral do governo, que não tem nada a ver com a história e nem teve e não tem titulares cuja expertise comprove conhecimento na área. Lula passou por equívos semelhantes, até criar um ministério para o jornalista Franklin Martins, dando-lhe autoridade única e poderes para agir.
. Depois de palestras repetitivas sobre ajuste fiscal e números relacionados à gestão promovida pelo governo Yeda, com intervalo para um cafezinho, Luciano Deos conduziu uma ginástica laboral, distensionando os nervos de todos para a sua apresentação da "nova marca" do governo gaúcho. "Marca", aqui, não se trata de uma nova logomarca ou slogan do governo (o atual é "Coragem pra fazer"). A sua empresa preparou um estudo sobre a "identidade" do governo Yeda. Por 40 minutos, Deos falou sobre as características que identificam a administração Yeda, que estaria fazendo um governo ousado, visionário e realizador, tendo como personalidade a transparência, a responsabilidade e a determinação.
. Em síntese, Deos defendeu a idéia de que a essência do governo Yeda é ser um governo "diferente".
- Como diferente é o Rio Grande do Sul e o povo gaúcho, que gosta de propagar isto aos quatro ventos, e diferente como é o mundo atualmente. Da essência de ser "diferente", nasce a "identidade" do governo Yeda e a sua missão administrativa na seguinte frase:
- Um governo que faz diferente, mais e melhor.
. Esta seria a marca do governo Yeda. Não se trata de um novo slogan nem uma nova logomarca do governo. Este conceito é a marca simbólica, o DNA, que deve orientar toda a equipe do governo. Segundo Deos, esta marca deve inspirar e mobilizar todos os integrantes do governo. Para finalizar, o consultor deixou uma espécie de "carta-compromisso" no telão, um texto-base que refletia este novo posicionamento do governo Yeda. O auditório repleto aplaudiu.
. Sem entusiasmo. Luciano Deos parecia ter falado como um executivo de marketing fala para um grupo que nada tem a ver com business.
Crusius desconstrói tese e ações propostas pelo GAD’
O secretário geral de Governo, Eric Camarano, que também comanda área de Comunicação, abriu o microfone para o público. Carlos Crusius foi o primeiro a se inscrever para falar. O "professor", como é chamado internamente no governo, pegou o microfone e começou uma fala sizuda e ácida, características incomuns de sua personalidade, sempre tido como pessoa afável, bem-humorada e conciliadora.
. A sua tese fundamental é de que tinha dúvidas sobre a conveniência deste novo posicionamento do governo Yeda. Sua fala foi curta e devastadoramente consistente:
- Há dois grandes perigos nesta mudança de rota. O primeiro é que a palavra "diferente" normalmente exclui e não inclui, como é o objetivo deste governo. Ser diferente é se colocar em outro patamar, talvez até num patamar arrogante, criando um distanciamento entre o governo e as pessoas. O segundo é que o novo posicionamento é inferior ao atual, não exprime o DNA deste governo, que, em suma, tem como maior mérito o fato de ter coragem para fazer. Somos diferentes como todos os outros governos foram. O Olívio foi diferente. O Britto. O Rigotto. Ser diferente não nos explica. A coragem para fazer, sim. Esta marca – a coragem de fazer – só está sendo percebida e assimilada pela população gaúcha agora, num processo crescente nos últimos 60 dias.
. O auditório silenciou. Quando voltou para a platéia, pelo corredor central, Carlos Crusius recebeu inúmeros cumprimentos, alguns entusiasmados, com abraço em pé, saudações de mãos e tudo o que caracteriza a aprovação ao que foi dito.
. O novo posicionamento encomendado pelo governo e feito pela consultoria GAD sofrera um golpe mortal.
. A intenção da governadora em sair da "imersão" e comunicar em entrevista coletiva o novo posicionamento do governo, caiu por terra, mas o governo teve coragem de colocar o assunto em discussão, aceitou o contraditório e soube recuar diante dos melhores argumentos.
Daniel e Eric confrontam Crusius, mas não convencem.
Rogério Porto, secretário de Irrigação, que foi o segundo a se inscrever, subiu ao palco e disse: "Depois de tudo que ouvi, não tenho mais nada a falar; só a pensar". E desceu.
. A reação contrária ao discurso do professor veio com o secretário Daniel Andrade, amigo de Deos e um dos responsáveis pela sua contratação, assim como Eric Camarano. Ele falou que discordaria pela primeira vez do "professor". E fez uma defesa apaixonada – e arrogante – do conceito "diferente".
- Somos diferentes de todos os outros governos sim, porque, para citar um exemplo, retomamos 120 obras de recuperação das estradas gaúchas, mas de um jeito diferente, sem atender os pedidos e as pressões de prefeitos e vereadores, enfim, sem fazer politicagem.
. Num auditório composto por 80% de políticos, seu pronunciamento acabou por reforçar ainda mais os questionamentos de Carlos Crusius. "É desta arrogância do diferente (a de Andrade e Eric), de se achar melhor do que os outros, que o professor se referia", comentou um chefe de gabinete de uma secretaria estadual.
. A polêmica se instalou. Vários secretários levantaram as mãos, pedindo espaço para falar. Quem subiu ao palco na sequência foi nada mais nada menos do que a filha da governadora, Tarcila Crusius. Em tom forte, contrariou a tese do seu pai e defendeu o posicionamento da GAD. Carlos Crusius saiu do fundo do auditório e pediu réplica. A governadora disse que ele não poderia falar mais.
- Vamos parar com isso, virou uma questão familiar, isso aqui tá parecendo nossos churrascos de domingo, em que os vizinhos acham que a gente vai se matar", interveio, provocando risadas na platéia. Carlos Crusius sentou na frente, com cara de poucos amigos.
. O chefe da Casa Civil, José Alberto Wenzel, que estava ao lado de Yeda na primeira fila, pegou o microfone. "Eu tenho uma sugestão, porque não passamos a dizer que somos um governo que tem coragem pra fazer diferente?", perguntou. A proposta conciliadora recebeu apoio maciço de todos.
. Antes que a polêmica continuasse, a governadora interrompeu.:
- Agora chega ! A discussão continua lá em casa. Agora, quem vai falar sou eu.
6 comentários:
A Governadora Yeda Crusius carrega o mesmo pecado de outros governadores: lê a realidade com as lentes da sua formação acadêmica original, da sua experiência profissional, mas atua segundo a perspectiva da "política" e não da Administração.
Mesmo orientada pela imprescindível "visão de estadista" deixa transparecer a ausência da indispensável postura do Administrador, a despeito da excelência dos resultados já alcançados.
Falta-lhe a capacidade de transformar a lógica interna da Política, da Economia, do Magistério, da sua experiência pública e profissional na lógica interna da Administração, expressa em variáveis (administrativas, organizacionais e de atuação) “empíricas”, concretas, viáveis, mensuráveis, administráveis e executáveis, por meio das quais é alcançada e transformada, positivamente, a vida das pessoas.
Isso fica evidente na discussão sobre do “DNA” do tempo restante do mandato. É perceptível que os “slogans” situam-se no campo da Política. Tanto a expressão “Coragem pra fazer” quanto “Um governo que faz diferente, mais e melhor” utilizam termos de conotação mais política do que administrativa.
Um Administrador adotaria um slogan tipo: “Competência para fazer”!
As palavras são em si relacionais e sempre dirigidas ao outro. Além disso, contém um referência opositiva ao outro, ao concorrente, no caso, aos antecessores. Fazer “diferente” é termo ambíguo, vago, polissêmico, daí a necessidade de “complementar” com “mais e melhor”, ainda assim, deixando espaço para inserção de interpretações negativas.
“Competência” é um conceito abrangente de gestão que contém a idéia de efetividade (eficácia externa – competitividade – na escolha de objetivos/ou fins mais eficiência interna – produtividade - no uso dos recursos/meios, incluindo as noções de liderança, diagnóstico, análise, decisão, planejamento, organização, implementação, execução/ação e controle) buscada inutilmente nos termos “mais e melhor”.
Volta, Britto! Pelo amor de Deus!
Ás vezes, dona Yeda devia ouvir o marido, pois há nele muito mais bom senso do que todo aquele que se encontra no governo... O amiguinho do Daniel de Andrade, o tal de Deos, falou um monte de bobagens,imaginando que estava criando estratégias para vender papel-higiênico para quem usa sabugo de milho, que nesse caso é diferente mesmo!
Por favor, "um governo diferente" é um dos conceitos mais insossos que já foi proposto a um governante brasileiro. Vazio, vazio, um nada, um zero à esquerda. Nem conheço esse seu Deo, mas valha-me Nossa Senhora, podia ter queimado um pouco mais a mufa.
Caros leitores,
O detalhe de uma nova marca de governo, não está no conceito de novo, velho ou qualquer coisa assim. Está no altíssimo custo que isso gera aos cofres públicos, pois o valor cobrado por está agência é algo descomunal, e depois vem a troca de todo e qualquer material de divulgação do governo, como folders, out-doors, e principalmente fachadas, que em geral e curiosamente são feitas sempre pelas mesmas montadoras. O custo disso para o boldo do povo é maior que a compra de uma meia duzia de aviões.
Na verdade o interesse de Deos e do Gad é a conta do Banrisul, joia da coroa para as empresas de branding.
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