Luchese denuncia que atendimento de cirurgias cardiovasculares entrou em colapso no Brasil e no RS

O colapso no atendimento cirúrgico cardiovascular atinge hospitais, profissionais e pacientes, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), que representa os cirurgiões cardiovasculares do Brasil. A entidade emitiu uma nota no final de abril, na qual alerta para o iminente risco de colapso no atendimento cirúrgico, em especial às crianças cardiopatas. Conforme o comunicado, nos últimos 5 (cinco) anos, ocorreu uma diminuição progressiva e acentuada no número de cirurgias cardiovasculares realizadas no País.

Ouvido pelo Portal Setor Saúde (www.setorsaude.com.br), o cirurgião-cardíaco e membro da SBCCV, Fernando Lucchese, ilustrou que no ano de 2014 chegou-se a um número total de 92 mil cirurgias cardiovasculares realizadas, enquanto que em 2010, foram realizadas 102 mil, um decréscimo em torno de 10 mil (computando procedimentos SUS, Particulares e Convênios). 

Ele denunciou:

- De 2010 pra cá [esta crise] só aumentou” reforçou Lucchese, que também é diretor do Hospital São Francisco, integrante do complexo da Santa Casa de Porto Alegre.

Leia toda a reportagem do site www.setorsaude.com.br:

Nascem no Brasil por ano, 24 mil crianças com problemas cardíacos, segundo o especialista. “É exatamente o dobro do número de novos casos de câncer infantil” comparou.

“Nós devíamos no primeiro ano de idade destas crianças operar ao menos a metade delas, já que muitas não chegam ao final de um ano de vida. Porém nunca conseguimos operar mais do que oito mil crianças”. Hoje, com a falta de verbas, o número de operações fica em torno de 5 mil cirurgias pediátricas, o que impacta, também, nos indicadores de mortalidade infantil, denuncia Lucchese.

Quando uma criança nasce, identificada a doença cardíaca, ela deve ir diretamente para a UTI pediátrica, podendo ficar meses internada. “As UTI’s, disponibilizadas 90% pelo SUS, são extremamente mal pagas”, reforçou o cirurgião.

Lucchese explica que a defasagem nas tabelas de remuneração dos procedimentos pelo SUS, causaram ao longo dos anos, o fechamento de unidades e a diminuição das cirurgias cardíacas pediátricas. “A cada R$ 1 real gasto pelos hospitais em cirurgias cardiovasculares, por exemplo, a instituição é remunerada em R$ 0,72. Ou seja, temos um déficit de 28% atualmente, uma conta que não tem como fechar”.

Na nota da SBCCV, assinada pelo seu presidente, Dr. Marcelo Matos Cascudo, todo sistema de atendimento em cirurgia cardiovascular, compreendendo hospitais, profissionais de saúde e a Indústria de equipamentos biomédicos, passa por dificuldades que podem se tornar insuperáveis se não tiverem a imediata ação devida dos órgãos competentes. Lucchese reforça dizendo que as principais empresas que fornecem materiais para as cirurgias estão quebrando. “Nós tínhamos cinco grandes indústrias no Brasil, que fabricavam oxigenadores, válvulas, entre outros. Elas foram fechando progressivamente. A última delas, anunciou concordata dias atrás. Isto ocorre porque os hospitais não dispõem de verbas para pagar os fornecedores. As empresas foram penalizadas e hoje sentimos a falta de materiais”.

Além disto, a ausência de dois medicamentos preocupa Lucchese. “Nós temos duas drogas que se não tivermos no armário, não ocorre a cirurgia”. Uma delas é o Sulfato de Protamina, que tem efeito coagulante estancando hemorragias. “Não encontramos esta droga no Brasil, escutamos desculpas pífias e com o mercado desabastecido, aumenta-se ainda mais o problema da diminuição de cirurgias”. Já o Dobutamina, medicamento que aumenta a força das contrações cardíacas e melhora o fluxo sanguíneo, também tem tido problemas de abastecimento nos hospitais.

Em consequência de todo este cenário, Lucchese diz que já é possível ver um menor número de residentes se interessando pela especialidade, o que “criará um caos total, pois nenhum médico cirurgião vai querer ficar receitando somente remédios. Falta materiais, próteses, impossibilitando cirurgias” diz.

A partir do engajamento da SBCCV nacional e de suas regionais, audiências públicas estão sendo marcadas para discutir, junto com a sociedade, soluções para o grave problema. O deputado federal, Osmar Terra, e senadores como Ana Amélia Lemos e Paulo Paim, receberam a nota escrita pela entidade. Segundo Lucchese, o presidente do Senado Federal Renan Calheiros, tem mantido contato com lideranças do setor para tratar o tema. Além destas ações, a entidade vem buscando interlocução com representantes do Ministério da Saúde, que por sua vez, ainda não se posicionou.

A senadora Ana Amélia Lemos leu a nota da SBCCV na tribuna do Senado no dia 27, e alertou seus colegas. “Essa crise é muito grave, porque esta é a área que mais mata homens e mulheres em nosso País. Precisamos que as autoridades da saúde prestem atenção, sob pena de causar um grave prejuízo à população brasileira”, finalizou a parlamentar gaúcha.

2 comentários:

Anônimo disse...

Se for aposentado deixa morrer um a menos para previdência pagar.
gestão Petista ou PT no volante perigo constante.

Anônimo disse...

E da Operação PAVLOVA, o Luchese não falou nada ?

Quais serão os desdobramentos dela ........

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