Renato Duque, homem do PT, indicado e mantido no cargo pelo mensaleiro Zé Dirceu, está preso no Paraná. Pela sua mão saíu dinheiro sujo para o Partido dos Trabalhadores.
Leia tudo (ao lado, ilustração também da Folha):
Como o local parecia um bunker e havia obras de artistas
em tese valiosos, como Miró, Chagall e Guignard, a coleção foi associada a
milhões.
Uma escultura do artista Franz Krajcberg, 93, comprada em
2012 por R$ 212,5 mil pelo empresário Milton Pascowitch, foi encontrada no
último dia 16 na casa de Duque junto com outras 130 obras. Pascowitch é
investigado na Operação Lava Jato sob suspeita de repassar propina na diretoria
que Duque ocupou entre 2003 e 2012.
A escultura, avaliada em R$ 250 mil hoje, só não foi
levada para o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, junto com outras porque havia
risco de danificá-la.
A PF também achou a nota fiscal de uma tela de Alfredo
Volpi (1896-1988), comprada por R$ 400 mil por um outro suspeito de intermediar
suborno na Petrobras cujo nome é mantido em sigilo. A obra de Volpi, porém, não
foi achada.
A PF instaurou um inquérito para investigar a suspeita de
que as 131 obras foram usadas para lavar dinheiro, de acordo com o delegado
Márcio Anselmo.
Duque foi preso pela segunda vez no dia 16, acusado de
transferir cerca de R$ 70 milhões de uma conta atribuída a ele na Suíça para
Mônaco. Os recursos foram bloqueados no Principado.
FALSIFICAÇÕES
As 131 obras estavam espalhadas pela casa de Duque, na
Barra (zona sul do Rio). Algumas estavam num cômodo secreto, construído atrás
de um armário embutido, só aberto com controle remoto.
Pura bobagem, na avaliação de quatro dos principais
leiloeiros de arte do país –Evandro Carneiro, James Lisboa, Jonas Bergamin e
Soraia Cals. Os trabalhos de Miró e Chagall são gravuras e podem ser compradas
por R$ 20 mil, de acordo com eles.
Fora a escultura de Krajcberg, um polonês naturalizado
brasileiro, as 130 obras de Duque valem de R$ 200 mil a R$ 250 mil, estimam
Lisboa e Bergamin, que as avaliaram a partir de fotos obtidas pela Folha. O
conjunto valeria no máximo R$ 500 mil, não os R$ 80 mil declarados no Imposto
de Renda por Duque.
Soraia, que não quis avaliar as telas de Rubens Gerchmann
sem ver as obras apreendidas, estima o resto do conjunto em R$ 50 mil.
"Essa coleção é um rebotalho. São quadros de feira,
de terceira. Não deveriam estar num museu. O conjunto não vale R$ 200 mil porque
tem muita falsificação e reprodução", diz Bergamin.
Por causa do baixo valor, segundo ele, não faz sentido
falar em lavagem de dinheiro. Esse crime ocorre quando uma obra de alto valor é
comprada para dar aparência legal a recursos ilícitos, o que pode ter ocorrido
com o Krajcberg.
As obras que seriam as mais valiosas do conjunto, os 11
trabalhos de Guignard, têm todos os indícios de que são falsas, segundo James
Lisboa.
A química Claudina Moresi, que durante dez anos pesquisou
obras de Guignard em um projeto da Escola de Belas Artes da Universidade
Federal de Minas, diz: "A maioria das obras me causou estranhamento porque
não parece Guignard. O traço é grosseiro, falta leveza na composição. Mas para
dizer que é falso teria de analisar a obra".
A forma como Duque comprou a maioria das obras, leilões
na internet, reforça a suspeita. É um meio repleto de falsários, dizem os
leiloeiros.
OUTRO LADO
O advogado de Duque, Alexandre Lopes, refuta a suspeita
de que a escultura de Krajcberg foi propina. "Ele não recebeu valores
indevidos em forma de arte. Isso será explicado no momento certo". Lopes diz que há muitas "réplicas" na coleção.
"Qualquer cidadão de classe média poderia comprar essas obras. Não tem
nada de milhões". O leiloeiro Aloisio Cravo diz que Pascowitch é seu
cliente e que a escultura de Krajcberg foi vendida com nota e atestado de
autenticidade. Pascowitch não foi encontrado.
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