O jornalista Ronald de Carvalho disse neste domingo ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, que o ex-governador Synval Guazelli colaborou em segredo com a ditadura militar para amordaçar a oposição nas eleições de 1976, sendo o autor oculto da famigerada Lei Falcão. A lei foi promulgada com a assinatura do então ministro da Justiça, Armando Falcão, levou seu nome, mas o autor foi o governador doRS, Synval Guazelli. O jornalista Ronald de Carvalho ajudou a escrever as memórias do ministro Armando Falcão, soube da informação por ele e examinou com os próprios olhos as anotações redigidas por Guazelli e entregues na época ao general Ernesto Geisel (Falcão ficou com as cópias, entregues a ele por Geisel). Zero Hora voltou ao assunto, porque as primeiras revelações sobre a colaboração de Guazelli com a ditadura militar, feitas pelo jornalista Luiz Claudio Cunha, foram contestadas por vários políticos gaúchos, entre os quais Paulo Brossard, José Bisol e Ibsen Pinheiro, que inclusive preparam um ato de desagravo post-mortem a Guazelli. O caso é rumoroso, também porque Guazelli sempre foi tido como um político de formação democrática e que teria "colaborado" com a ditadura como mal menor, embora nunca se soubesse de ações de tanta intimidade com os generais.
LEIA a seguir o texto preparado pelo jornalista Moisés Mendes e publicado por Zero Hora:
As confidências na biblioteca.
O jornalista Ronald de Carvalho fala das conversas que teve com Armando Falcão:
‘‘Eu conversava com Armando Falcão, para escrever seu livro de memórias, na biblioteca da sua casa, uma biblioteca com prateleiras da madeira com portas de vidro. Foi entre 1987 e 1988, todas as terças e quintas, das 8h às 10h. Ele ocupava uma mesa de madeira trabalhada de jacarandá, vestia bermudas, geralmente uma camiseta pólo e sandálias de couro. Sua filha Beatriz ouvia depois as fitas e datilografava os depoimentos. Eu ia lendo e reescrevendo o que ela copiava. Um dia, quando perguntei ao ex-ministro sobre a Lei Falcão, ele falou da reunião com Geisel e Guazzelli (sem indicar exatamente a data). Disse que Guazzelli era o autor da idéia. Perguntei:
– Guazzelli ditou as idéias para o senhor?
Ele respondeu:
– Não, ele trouxe um rascunho.
Levantou-se e buscou na biblioteca duas folhas de papel com o esboço do que seria depois a Lei Falcão. Lembro que havia o timbre do governo do Rio Grande do Sul. Eram tópicos mal-datilografados. Não era um texto de secretária, eram anotações datilografadas. Descreviam em linhas gerais como seria a propaganda na TV, no rádio, no jornal. Decidi abandonar o projeto do livro quando Armando Falcão me disse:
– Há coisas demais aqui que podem causar embaraços a pessoas vivas. Os personagens vivos eu vou poupar. Não vou deixar ninguém mal.
Eu respondi:
– A única coisa minha com a qual o senhor pode ficar é o título do livro, Tudo a Declarar. O resto é seu.
Nunca mais (depois de 1988) falei com o ex-ministro. Tudo a Declarar (uma ironia com o ‘‘nada a declarar’’ consagrado por Falcão) foi publicado (em 1990) com este título que eu havia sugerido, mas sem nenhuma interferência minha. É um livro muito ruim na forma e no conteúdo. O que me interessa é o que eu ouvi de Armando Falcão. Aquela reunião existiu.’’
Um comentário:
O relato em relação à ação de fortes ventos se assemelha aos dos efeitos de um furacão aos quais se associam chuvas de extrema intensidade. O que não fecha com um furacão é a duração das chuvas, três dias, porém, apesar de não ser meteorologista, creio que poderia haver dois eventos sobrepostos, mas a curiosidade do relato histórico é bastante interessante.
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