CPI dos Cartões acaba e revela mais um falso homem "bomba"

O encerramento da CPI dos Cartões nesta semana, com um relatório que poupa a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, não sugere nenhum indiciamento e joga toda a responsabilidade pelo dossiê com gastos exóticos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre José Aparecido Nunes Pires - o ex-secretário de Controle Interno que disse ter deixado vazar o documento por engano - é mais um episódio que retrata o fenômeno dos falsos homens-bomba do PT.

. Aparecido, Waldomiro Diniz, Delúbio Soares, Silvinho Pereira, Jorge Lorenzetti, Freud Godoy e muitos outros emergiram no cenário da política tratada como polícia, todos foram personagens centrais em escândalos e todos foram cercados com operações-abafa que os levaram a proteger o governo e a serem protegidos por ele.

. Olhando Aparecido na TV do Senado, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) - o único homem-bomba do governo Lula - deu um diagnóstico irônico. "Como todas as outras, essa bomba já chegou ao Congresso desativada", disse Jefferson ao Estado , referindo-se ao fato de Aparecido ser a peça-chave no vazamento do dossiê com as despesas de Fernando Henrique, mas se negar a entregar a operação deflagrada na Casa Civil sob promessa de que será poupado na sindicância interna e no inquérito da Polícia Federal, o que facilita a retomada do emprego efetivo que tem, como funcionário de carreira, no Tribunal de Contas da União (TCU).

. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), ex-petista, destaca não só a "capacidade de cooptação do governo", mas também a saída recorrente que todos os falsos homens-bomba usam: "Em tom pós-socrático, eles repetem à exaustão o ?só sei que nada sei?." Nesses termos, conclui o deputado, as bombas petistas vão sendo convertidas em "foguetórios de má qualidade, que dão chabu o tempo todo".

. Alencar aposta que, dentro em breve, o ex-funcionário da Casa Civil vai voltar para o TCU. "Será mais um ?Zé desaparecido? que confirma a trágica profecia de Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT que caiu no escândalo do mensalão), para quem um dia todos vão considerar tudo isso uma piada de salão." O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), avalia que o potencial explosivo da extensa lista de petistas era real, embora nenhum deles tenha provocado grandes estragos. "Muitas vezes a denúncia é uma autocondenação, mas a gente percebe que essas pessoas todas não se calam à toa", observa. Para o senador, no caso específico de Aparecido, ele optou pela carreira no TCU. "Uma condenação de dois anos põe em risco a carreira, pois o servidor perde o cargo."Aparecido vai ser tratado como se tivesse cometido apenas uma infração administrativa. "Por um descuido", ele disse à CPI, anexou o dossiê a um e-mail enviado a André Fernandes, assessor do senador tucano Álvaro Dias (PR). Virgílio conclui que o silêncio tem sido "muito bem amparado por um Estado coronelista, que não deixa homem-bomba algum em dificuldade".

. A lista dos falsos homens-bomba foi aberta, em 2004, pelo assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, flagrado, em imagens gravadas por um circuito interno de TV, pedindo propina a um bicheiro. Protagonista do escândalo do mensalão, Roberto Jefferson, presidente do PTB, foi o único a detonar seu potencial explosivo. Não implicou diretamente o presidente Lula no escândalo, mas provocou a mais grave crise de seu governo. E, se por um lado teve seu mandato cassado, por outro arrastou consigo o ex-ministro José Dirceu - na época o petista mais poderoso da Esplanada dos Ministérios - e também líderes e dirigentes dos partidos da base aliada.Além de Dirceu, as denúncias de Jefferson derrubaram o então presidente do PT, José Genoino, e toda a cúpula petista. A assessoria de Dirceu na Casa Civil foi dizimada. Além disso, só em Furnas Centrais Elétricas três diretores caíram, acusados de desviar recursos da empresa para campanhas petistas. Em meio à série de suspeitos de receber e pagar mesada de cerca de R$ 30 mil, o presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), acabou cassado pela Câmara por quebra de decoro. Aos deputados que temiam o forte risco de degola no julgamento em plenário, como o então líder do PL (hoje PR), Valdemar Costa Neto (SP), sobrou a alternativa da renúncia.

. As bombas petistas, que faziam política com Jefferson, não detonaram. Todas foram sucessivamente desativadas pelo Planalto, numa política que se mantém ativa nestes cinco anos e meio de governo. "A mim me propuseram o silêncio com algumas garantias", recorda Jefferson.

. Aparecido prova que, do caso Jefferson para cá, o governo não errou mais. Tanto é assim que correram em paralelo a notícia de que uma perícia inquestionável provava que Aparecido fora responsável pelo vazamento do dossiê e a informação de que ele já havia fechado um acordo com o Planalto para ser poupado do ponto de vista administrativo e voltar tranqüilo ao TCU.

. As informações acima são do Estadão.

Nenhum comentário:

https://api.clevernt.com/e46a5348-350f-11ee-9cb4-cabfa2a5a2de/https://api.clevernt.com/e46a5348-350f-11ee-9cb4-cabfa2a5a2de/