
FOLHA - Como foi a sua expulsão?
JOSÉ MIGUEL VIVANCO - Na quinta, fomos jantar num restaurante italiano, Daniel Wilkinson e eu. Eram cerca de 22h15 quando voltamos ao hotel. Subimos até o 14º andar, e, quando saímos do elevador, nos deparamos com uns 20 agentes diante das portas dos nossos quartos.
Uns estavam fardados com roupa militar, outros estavam à paisana, com armas à cintura. O chefe nos leu uma declaração informando que estávamos intimados a deixar o país imediatamente, sob acusação de termos insultado o governo. Argumentei que aquilo não era verdade, em vão. Tentei mandar um torpedo ao embaixador do Chile, mas um dos capangas me arrancou brutalmente o Blackberry das mãos.
O aparelho me foi devolvido sem bateria, e o do Daniel foi destruído pelos agentes. Pedi então para fazer as malas, e me disseram que os agentes já haviam entrado no quarto e empacotado nossas coisas. Nos colocaram em jipes, e fomos levados a toda velocidade até o aeroporto num comboio de motos e carros com sirene.
FOLHA - Vocês sabiam aonde iam?
VIVANCO - Perguntamos várias vezes, mas não responderam. O comboio entrou diretamente na pista, sem passar pela alfândega ou balcão de embarque, e só entendemos qual seria nosso destino depois de sermos desembarcados na frente de um avião da Varig.
FOLHA - O avião ficou esperando?
VIVANCO - Sim, os passageiros já estavam havia duas horas a bordo do avião. As pessoas estavam irritadas e achavam que éramos VIPs ou amigos de Chávez que se davam ao luxo de parar um vôo comercial à sua espera. O comandante sabia que o governo havia comprado duas passagens para que pudéssemos ser expulsos do país.
FOLHA - Ao chegarem a Caracas, na quarta-feira, havia algum sinal de tensão?
VIVANCO - Quando chegamos, as autoridades confiscaram duas caixas com cópias do nosso relatório. Foi um sinal de que a coisa estava complicada.
FOLHA - O que responde às acusações de que a HRW recebe dinheiro do governo americano?
VIVANCO - Não temos vínculo algum com o governo americano. Basta entrar no nosso site para ver as críticas que fazemos aos EUA por causa de Guantánamo [base militar em Cuba aonde são levados os prisioneiros da guerra ao terror]. Somos uma instituição totalmente independente, financiada 100% por doações privadas.
FOLHA - Entre as numerosas críticas a Chávez, qual é a mais grave?
VIVANCO - A ausência de um Poder Judiciário independente. A Justiça venezuelana é um apêndice do Poder Executivo. Nosso relatório mostra que a Corte Suprema aceita a idéia de que quem não abraça o projeto bolivariano é um golpista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário