Cunha persistiu, não saiu da cadeira e garantiu o voto da maioria. O governo vacilou e perdeu de novo -
A Câmara dos Deputados aprovou nesta
quarta-feira à noite, por 324 votos a favor, 137 votos contrários e duas abstenções,
o texto principal do projeto de lei que regulamenta os contratos de
terceirização. Propostas de destaques (alterações do texto) ainda serão
discutidas pelo plenário na próxima semana. Depois de concluída a votação, o
texto seguirá para análise no Senado.
Criticada pelo PT e algumas centrais sindicais e
defendida por empresários, a proposta permite que empresas contratem
trabalhadores terceirizados para exercer qualquer função. Atualmente esse tipo
de contratação é permitida apenas para a chamada atividade-meio, e não
atividade-fim da empresa. Ou seja, uma universidade particular, por exemplo, pode
terceirizar serviços de limpeza e segurança, mas não contratar professores
terceirizados.
Pelo texto votado na Câmara, essa limitação não existirá
mais.
Além disso, o projeto prevê a forma de contratação tanto para empresas
privadas como públicas. O modelo só não se aplica à administração pública
direta, autárquica e fundacional.
Durante a sessão, o relator da proposta, deputado Arthur
de Oliveira Maia (SD-BA), disse que a regulamentação da terceirização traz
“segurança jurídica” aos contratos e afirmou que buscou uma “uma linha média
capaz de atender aos trabalhadores, empresários e à economia brasileira”.
Deputados do PT fizeram discursos contrários ao projeto,
argumentando que aumentará as terceirizações e que vai “precarizar” as
condições de trabalho. “A terceirização não permite que nenhum trabalhador de
qualquer setor possa pensar em ascensão futura, em cargos de comando”, declarou
o líder do PT, Sibá Machado (AC).
Apoiador da proposta, o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), criticou a posição do PT. “Quando o líder do governo encaminha
a votação em discordância de todos os partidos da base, mostra que atua em
dissonância com a base. Eu sou testemunha de que o relator acordou com a área
da Fazenda do governo os pontos que o Ministério da Fazenda entendeu que
deveriam estar no projeto”, disse.
Após a aprovação do texto pela Câmara, o ministro-chefe
da Secretaria-Geral, Miguel Rossetto, divulgou nota na qual criticou o texto e
o classificou de "ruim". Responsável pela interlocução do governo com
os movimentos sociais, Rossetto afirmou ainda na nota que as relações de
trabalho serão "precarizadas". “O projeto é ruim, pois permite que
toda a relação de trabalho seja terceirizada, portanto, precarizada. Reduz os
salários e os fundos de seguridade social. Não é bom para os trabalhadores. Não
é bom para o país”, declarou.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota
dizendo que a regulamentação da terceirização é necessária para que as empresas
brasileiras ganhem competitividade e se adaptem às exigências do mercado
global.
"A regulamentação da terceirização é passo
indispensável para a melhora do ambiente de negócios e uma das mais importantes
etapas para modernizar as relações do trabalho no Brasil. Dessa forma, a
aprovação do projeto representa um dos mais relevantes avanços para ampliar a
segurança nas relações do trabalho no país, contribuindo para a melhora da
competitividade da economia como um todo", afirmou a entidade.
Alterações
Até as 18h desta quarta, quando a sessão para discussão
do projeto já havia se iniciado, o relator ainda fazia alterações no texto,
acolhendo sugestões de parlamentares e do governo.
O secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, passou a
tarde na Câmara em conversas com Arthur Maia para solicitar modificações que
garantissem a arrecadação de impostos em contratos de terceirização.
Segundo o relator, o secretario Rachid queria que fosse
estendida a todas as empresas a obrigação de reter 11% da receita para
contribuições sociais. Atualmente, esse percentual é exigido apenas de empresas
que fazem cessão de mão-de-obra.
Ele negou essa solicitação por julgar que seria muito
oneroso a companhias que precisam de capital de giro para operar.
Arthur Maia já havia aceitado alterar, após reunião com o
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nesta terça, trecho do texto para passar
para a empresa contratante a responsabilidade pelos pagamentos de encargos
previdenciários e do imposto de renda relativos a empregados terceirizados.
Pelo projeto, a contratante deverá reter do valor do contrato com a
terceirizada o montante devido a título de tributos, para que o pagamento seja
feito na fonte.
“Nós tivemos toda a boa vontade em acatar as solicitações
trazidas aqui pelo Ministério da Fazenda, que em nome da responsabilidade
fiscal apresentou uma série de propostas de alteração ao texto. Essa postura
nossa de fazer modificações para não trazer prejuízos à arrecadação é que
provocou esse atraso na entrega do parecer”, justificou o relator, na tribuna
da Câmara.
A preocupação do governo era que as empresas
terceirizadas não cumprissem com o pagamento dos tributos. A avaliação é de que
é mais fácil controlar os pagamentos se forem feitos pela empresa que contrata
o serviço.
Pelo novo texto, devem ser retidos do valor do contrato
com a terceirizada percentuais relativos ao imposto de renda (alíquota de 1,5%)
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (alíquota de 1%), contribuição para o
PIS/Pasep (alíquota de 0,65%) e Cofins (alíquota de 3%). Já os pagamentos que
vão diretamente para o trabalhador continuarão sendo feitos pelas empresas
terceirizadas, entre os quais salário, férias e 13º.
Apesar das alterações feitas a pedido de Levy, o líder do
governo, José Guimarães (CE), recomendou que os partidos da base aliada
votassem contra a proposta. “Nessa votação o governo vai ficar com os
trabalhadores, encaminha [a votação] contra o projeto”, disse.
Para obter o apoio de centrais sindicais, o relator
também aceitou incorporar ao projeto emenda do deputado Paulo Pereira da Silva
(SD-SP), ex-presidente da Força Sindical, que garante que o terceirizado será
representado pelo sindicato dos empregados da empresa contratante, quando a terceirização
for entre empresas com a mesma atividade econômica.
Segundo Paulo Pereira da Silva, essa emenda garante que o
trabalhador receba as correções salariais anuais da categoria. “Um terceirizado
tem todos os direitos da CLT, mas perdia a representação sindical, acabava
ficando sem os efeitos da convenção coletiva. Tivemos uma reunião das centrais
com o relator e, com a incorporação da emenda, vamos apoiar o texto."
Fiscalização
Para garantir o pagamento aos terceirizados, o projeto de
lei estabelece que a empresa que contrata os serviços deverá “fiscalizar” o
cumprimento das obrigações trabalhistas decorrentes do contrato.
Se as obrigações não estiverem sendo cumpridas, o projeto
prevê que a empresa contratante retenha o pagamento do serviço terceirizado,
até que a situação seja normalizada, e efetuar o pagamento de salários
diretamente aos trabalhadores terceirizados. Neste caso, o sindicato da
categoria será notificado pela contratante para acompanhar os pagamentos.
Pela proposta, se a empresa contratante não fiscalizar
corretamente a terceirizada, ela passará a ter responsabilidade solidária em
relação a todas as obrigações trabalhistas e previdenciárias que não forem
cumpridas, ou seja, poderá ser acionada na Justiça para pagar a integralidade
da dívida. Se comprovar a fiscalização, a responsabilidade será subsidiária, ou
seja, será apenas obrigada a complementar o que a contratada, que causou o dano
ou débito, não foi capaz de arcar sozinha.
Direitos
O projeto prevê também que os empregados terceirizados
tenham os mesmos direitos assegurados no local de trabalho aos funcionários da
empresa contratante: alimentação em refeitório, quando for ocaso; serviços de
transporte; atendimento médico ou ambulatorial nas dependências da empresa; e
treinamento adequado quando a atividade exigir.
A proposta estabelece a possibilidade da chamada
“quarteirização”, ou seja, de a empresa terceirizada subcontratar os serviços
de outra empresa. Este mecanismo só poderá ocorrer, porém, em serviços técnicos
especializados e se houver previsão no contrato original.
Além disso, a "quarteirização" deverá ser
comunicada aos sindicatos dos trabalhadores. O relator deverá ainda incorporar
ao texto uma outra garantia ao funcionário que esteja nesta condição – a de que
direitos trabalhistas e previdenciários também sejam responsabilidade da
empresa contratante primária, ou seja, de quem requisitou os serviços da
primeira terceirizada.
O projeto diz também que, na hipótese de contratação
sucessiva para a prestação dos mesmos serviços terceirizados, com admissão de
empregados da antiga contratada, a nova contratada deve assegurar a manutenção
do salário e demais direitos previstos no contrato anterior.
5 comentários:
Será que o Brasil dessa vez vai dar um passo para a frente??! É um festival de atrasos há tanto tempo que quase não dá para acreditar! Por isso o desespero desses pelegos da CUT para invadir as galerias da Câmara! É o medo de precisar trabalhar para viver!
Nunca agilizaram tão rápido projetos de lei... uma pena que não foi pensando no cidadão ...e sim no ego e na birra de contradiçoes políticas ... mas no fundo ... sem quererem... vai contribuir pra sociedade .
Ainda não sei certo se quem perdeu foi o governo ou os assalariados.
Só 324 votos a favor? Tem fogo amigo nessa história...
Essa lei não tem nexo: se uma empresa pode terceirizar sua atividade-fim, pra que ela precisa existir? Não passa de um CNPJ fantasma, um intermediador de serviços e recursos humanos!
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