A ilustração ao lado é do editor. Nesse livro, o editor e mais um grupo de outros jornalistas gaúchos, denunciamos a sanha autoritária e atrasada da chamada esquerda do PT. -
Há algum exagero na acusação de que o
governo transformou o Enem numa prova doutrinária, que só aprova candidatos com
bons conhecimentos de marxismo-leninismo. Deve-se reconhecer, porém, que o
exame, notadamente a parte de ciências humanas, dá generoso espaço a tópicos e
autores caros à esquerda.
Fora o tema da redação, que foi a violência contra a
mulher, eu contei, usando critérios bem frouxos, 14 perguntas capazes de
disparar, ainda que levemente, conexões neuronais esquerdistas nos candidatos.
Detalhe importante, a maioria delas não exige que o estudante concorde com a
tese para acertar o exercício. São assuntos como globalização, movimentos
sociais, feminismo, defesa do meio ambiente. Entre os autores, destacam-se
nomes como Simone de Beauvoir, Karl Mannheim, Slavoj Zizek, Agostinho Neto e
Paulo Freire. Esse "pot-pourri" representa 31% da prova de ciências
humanas –o que não é pouco-, mas mais modestos 7,8%, se considerarmos todas as
180 questões do teste.
Admitindo um toque de cinismo, eu diria até que o viés
ideológico da prova é útil para os candidatos, já que, em caso de emergência,
podem recorrer a cálculos mentais de segunda ordem: na dúvida entre duas
alternativas, opte sempre pela que tem a resposta mais "esquerdista",
pois é maior a chance de que seja essa a que consta como correta no gabarito.
Seria muito melhor, porém, que o Inep, o instituto que
elabora a prova, buscasse ativamente uma certa neutralidade ideológica no
conjunto das questões. Por mais pantanoso e traiçoeiro que seja esse terreno –a
rigor, a neutralidade é menos do que uma quimera–, vale a pena procurar um
equilíbrio no "pedigree" dos autores citados justamente para que o
exame não seja acusado de ser uma peça de propaganda. O compromisso do Inep não
deve ser com correntes de pensamento, mas sim com a qualidade e a reputação da
prova.