O autor é procurador da República e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato. Ele tem apenas 35 anos.
Não acreditamos que vá ocorrer com a Lava Jato o que houve
no caso do propinoduto, que mais de dez anos depois não teve julgamento
definitivo.
Em 2003, a Justiça da Suíça bloqueou US$ 33,4 milhões que
fiscais estaduais do Rio de Janeiro mantinham ocultos naquele país, por
suspeita de serem oriundos de práticas corruptas. O fato foi comunicado às
autoridades brasileiras, que investigaram e processaram esses servidores, no
que veio a ser conhecido como o escândalo do propinoduto.
Depois de tantos anos, seria de imaginar que esses
valores já teriam sido devolvidos aos cofres fluminenses e que os responsáveis
tivessem cumprido, ou estivessem cumprindo, suas penas. Infelizmente, a verdade
é bem diferente. Por que, então, devemos lembrar desse escândalo? Entendendo o
passado, podemos evitar erros no presente.
É verdade que a Operação Lava Jato trouxe uma chama de
esperança. Ainda que essa chama em si não altere a extrema injustiça de nosso
sistema de Justiça penal, sua luz abre uma janela de oportunidade para essa
mudança.
No caso do propinoduto, o Ministério Público Federal, em
2003, acusou criminalmente dezenas de investigados, que foram condenados em
outubro do mesmo ano. Embora o julgamento tenha sido rápido, essa era apenas a
primeira de quatro etapas da Justiça criminal.
No Brasil, há três tribunais que reveem a decisão do juiz
criminal, o que torna o processo extremamente demorado. Cada corte tem suas
próprias dificuldades para atender à duração razoável do processo que seria, na
teoria, uma garantia constitucional. Uma das principais causas da lentidão é a
amplitude das possibilidades de recursos.
A apelação no caso propinoduto foi julgada pelo primeiro
tribunal revisor em 19 de setembro de 2007, cerca de quatro anos após o
primeiro julgamento. A terceira instância, o Superior Tribunal de Justiça,
proferiu julgamento em 2 de dezembro de 2014, porém ainda cabem novos recursos
dentro da mesma corte.
Só após esses novos recursos, então, o Supremo Tribunal
Federal –que julga 100 mil processos por ano– apreciará o caso. Estamos longe
de uma decisão final. Se o caso ficar no STF o mesmo tempo que passou até agora
no STJ, demorará cerca de 20 anos desde a acusação e 24 anos desde os crimes.
Só depois os criminosos poderão ser presos, se não houver prescrição.
No Brasil, os sistemas recursal e prescricional conjugados
são uma máquina de impunidade. No caso do propinoduto, os crimes de corrupção,
sonegação e evasão de divisas foram declarados prescritos pelo STJ no fim de
2014. Em 2013, noticiou-se que, em razão da demora da Justiça brasileira em
julgar definitivamente o caso, a Suíça considerava devolver aos réus as dezenas
de milhões de dólares bloqueados.
O sistema de Justiça penal brasileiro tem muitas mazelas
que livram os corruptos, e essa é só uma delas. As várias "brechas da
lei" permitem que criminosos de colarinho branco escapem impunes e que o
dinheiro desviado jamais seja recuperado.
Para que essas brechas sejam fechadas, o Ministério
Público Federal –instituição defensora da sociedade, da democracia e dos
direitos fundamentais– propôs um pacote de reformas na legislação chamado Dez
Medidas Contra a Corrupção. Nele estão medidas para impedir que a corrupção
ocorra, para punir e recuperar o dinheiro usurpado e para acabar com a
impunidade.
Estamos colhendo assinaturas para que as dez medidas
possam ser apresentadas como projeto de iniciativa popular. O juiz Sergio Moro
foi o primeiro a assiná-la com procuradores da República e policiais federais
que atuam na Lava Jato. Foi criado o site www.10medidas.mpf.mp.br para quem
quiser conhecer melhor ou apoiar a iniciativa.
Não acreditamos que a Lava Jato terá o mesmo fim –ou a
ausência de um fim– do propinoduto. A dimensão e a importância do esquema
descoberto, que faz da Lava Jato um ponto fora da curva, traz a perspectiva de
sua priorização na Justiça, o que pode resultar num julgamento bastante rápido.
Contudo, não podemos perder a perspectiva: se
queremos combater a impunidade e a corrupção de forma eficiente, é necessário
mudar o sistema. A Lava Jato cria um ambiente propício para essas mudanças, a
fim de evitar que outros grandes casos de corrupção arrastem-se na Justiça por
décadas até a impunidade de crimes gravíssimos (Deltan Dallagnol, procurador da
República, é coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato.
3 comentários:
Alguem imahina que haver,'a fim diferente?
Ouso indicar uma sugestão para processos penais em que a "res furtiva" seja pública. Tenha preferência na tramitação do processo, responsabilizando o Juiz pela demora (de verdade) nos moldes estabelecidos na Ação Popular.
POLÍBIO
CLIQUEI NO LINK DA MATÉRIA (http://www.dezmedidas.mpf.mp.br/).
APÓS CLIQUEI NO LINK "APOIE COM SUA ASSINATURA" E EM SEGUIDA CLIQUEI EM OUTRO LINK: "APOIADORES". NESTE ÚLTIMO LINK CONSTATEI QUE O RIO GRANDE DO SUL É O ESTADO BRASILEIRO QUE TEM O MENOR NÚMERO DE ENTIDADES APOIANDO A INICIATIVA.
QUE VERGONHA PARA O NOSSO ESTADO.
VAMOS TODOS LÁ (http://www.dezmedidas.mpf.mp.br/) APOIAR ESTA INICIATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.
É SIMPLES E, SE APROVADO, VAI AJUDAR A COMBATER A CORRUPÇÃO.
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