O artigo a seguir é do jornalista Carlos Newton, Tribuna da Imprensa. Se você acha que ele não tem razão, leia a íntegra das 85 páginas da denúncia protocolada pela PGR. -
CLIQUE AQUI para ler a primeira parte da denúncia.
CLIQUE AQUI para ler a segunda parte da denúncia.
O Brasil é um país que nos surpreende a cada momento.
Todos vivem reclamando do gigantismo e da incompetência da máquina estatal, mas
a generalização é uma enorme injustiça. Existem setores do funcionalismo
brasileiro que alcançam eficiência exemplar, de causar inveja aos países mais
desenvolvidos e ricos do mundo.
Entre essas corporações brasileiras de ponta que podem
ser citadas como referência mundial está a Procuradoria-Geral da República em
Brasília. Esta semana ficou demonstrado que a produtividade não tem similar no
mundo inteiro, e a eficácia de sua operação surpreendeu até o Ministério
Público Federal de Curitiba, que vinha sendo apontado como um exemplo
consagrador, devido à Operação Lava Jato.
Em comparação à equipe que está prestando serviços ao procurador-geral
Rodrigo Janot em Brasília, porém, a já famosa força-tarefa federal de Curitiba
é coisa de principiante e trabalha em passo de tartaruga, vejam como a gente se
engana facilmente.
O EXEMPLO DE CUNHA
E COLLOR
A maior comprovação do talento e da dedicação da equipe
de Janot foi a preparação simultânea da denúncias contra o deputado Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) e Fernando Collor (PTB-AL). A velocidade da investigação foi
mesmo absurda.
Como se sabe, a denúncia contra Cunha foi feita no dia 16
de julho, quando o empresário Júlio Camargo disse ter sido pressionado a pagar
U$ 10 milhões a Cunha, que ficaria com a metade do dinheiro. Pois apenas 35
dias depois, a Procuradoria já tinha colhido novas informações que aumentaram a
chantagem para US$ 15 milhões, já estava tudo investigado e consolidado em 85
páginas, a denúncia estava pronta, vejam como esses auxiliares de Janot
são eficientes, conseguiram saber mais do que a testemunha Camargo, que fez o
pagamento.
O FENÔMENO
JANOT
Na verdade, Janot é um fenômeno muito maior do que
Fabinho Lula da Silva. Nesses 35 dias, ele não só desmentiu o delator Camargo
(que deve ter embolsado os US$ 5 milhoes restantes), com também descobriu o dia em que
Cunha, o lobista Fernando Baiano e Camargo se encontraram, deu o endereço exato,
informou o modelo e a placa do carro que conduziu Cunha e Baiano ao local,
constatou que o veículo ficou estacionado das 19h14 às 20h03. Vejam que
precisão: só faltou registrar os centésimos de segundo, como na F-1.
O mais espetacular foi que Janot conseguiu uma gravação
da importante e sigilosa reunião. Na denúncia, transcreveu, entre aspas, os
diálogos ocorridos: “Júlio, em primeiro lugar eu quero dizer que não é nenhum
problema pessoal em relação a você. O problema que eu tenho é com o Fernando e
não com você. Acontece que o Fernando não me paga porque diz que você não o
paga. Como o Fernando não tem capacidade de me pagar, eu preciso que você me
pague”, disse Eduardo Cunha, conforme consta da denúncia assinada por Janot, da
qual não se pode duvidar, mas não se sabe quem gravou a reunião, se é que houve
gravação.
CONTRADIÇÃO
Nessa denúncia de Janot, uma obra praticamente perfeita,
há mais duas contradições, além do valor cobrado, que, segundo Camargo foi de
US$ 10 milhões, mas, segundo Janot, de repente subiu para US$ 15 milhões.
Uma dessas imperfeições é que constam da denúncia
pagamentos feitos por Camargo a Cunha, com depósitos numa conta do doleiro
Alberto Youssef em Nova Iorque, no banco Merrill Lynch. Mas acontece que
Youssef já deu depoimentos dizendo que nunca fez ou ordenou pagamentos de
propinas a Eduardo Cunha. E agora?
A terceira imperfeição é quanto à perícia nos
computadores da Câmara. Janot concluiu que o autor dos requerimentos da
chantagem foi Cunha, porque seu computador estava ligado no mesmo momento em
que a então deputada Solange Almeida (PMDB-RJ) enviou os requerimentos à Mesa
da Câmara. É claro que isso não configura prova material.
Mas é claro que se trata de detalhes bobos. Quem se
interessa pelo valor real da propina? Quem se interessa pela maneira de fazer
os pagamentos? E quem se interessa em saber se foi Cunha ou Solange que enviou
os requerimentos?
O IMPEACHMENT
VEM AÍ
A atuação sensacional do procurador Rodrigo Janot, em
apenas 35 dias, animou os setores oposicionistas, que passaram a achar que
agora o impeachment da presidente Dilma Rousseff vai sair.
O raciocínio deles é cartesiano. Se Janot empregar o
mesmo rigor para investigar as doações ilegais à campanha do PT, a partir das
denúncias do empresário Ricardo Pessoa e de outros depoentes, a presidente
Dilma estará rapidamente liquidada, seu impeachment passa a ser a coisa mais
certa de todas as coisas, como diz Caetano Veloso.
Portanto, de uma forma ou de outra, Janot está destinado
a entrar na História.