Um marco na estreita e fluida coordenação que assinala as
relações entre China e Brasil. Assim pode ser definida a visita do
primeiro-ministro da República Popular da China, Li Keqiang, ao Brasil, ocasião
em que firmou, com a presidenta Dilma Rousseff, um Plano de Ação Conjunta entre
os dois países no período de 2015 a 2021. A foto ao lado é de Dilma com Li Keqiang, hoje.
As informações foram passadas pelo governo ao editor. O texto a seguir é desta tarde. Vai na íntegra.
Durante a visita da comitiva chinesa, nesta terça-feira
(19), foram assinados um total de 35 acordos que abrangem os segmentos de
infraestrutura, manufaturas, comércio, planejamento estratégico,
infraestrutura, transporte, agricultura, energia, mineração, ciência e
tecnologia, comércio, entre outros. Além disso, foram celebradas declarações
conjuntas sobre os resultados da visita do primeiro-ministro e sobre mudanças
climáticas.
"O Plano de Ação Conjunta 2015-2021, que assinei com
o primeiro-ministro, inaugura uma etapa superior em nosso relacionamento. Está
expresso nos vários acordos, nos múltiplos acordos governamentais e
empresariais firmados hoje, em especial nas áreas de investimentos e
comércio", afirmou a presidenta Dilma Rousseff.
O primeiro-ministro da República Popular da China, Li
Keqiang, chegou na noite de 18 de maio, acompanhado por cerca de 120
empresários chineses, e foi recebido no Palácio do Planalto com honras de chefe
de Estado. "Teremos a oportunidade de dialogar com o empresariado dos dois
países sobre o importante papel que exercem nesse processo de
aproximação", destacou a presidenta.
Brasil e China mantêm importantes fluxos de investimentos
bilaterais. As trocas comerciais entre os dois países alcançaram US$ 77,9 bilhões
em 2014, com superávit brasileiro de US$ 3,3 bilhões. Do lado brasileiro,
destacam-se os setores aeronáutico, bancário, de máquinas, autopartes e
agronegócio. Tem-se observado, também, diversificação dos investimentos
chineses no Brasil para setores de energia, eletrônicos, automotivo e bancário.
De acordo com José Alfredo Graça Lima,
subsecretário-geral político do Itamaraty, "as relações bilaterais entre o
Brasil e a China apontam para um novo tipo de cooperação entre os dois países:
com muito mais foco em investimentos em aumento da capacidade produtiva, com
aporte chinês em matéria de tecnologia para diferentes áreas".
Durante sua estada no País, o primeiro-ministro chinês
deve se encontrar com os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados. Na quarta-feira
(20), a comitiva segue para o Rio de Janeiro.
Ferrovia Transcontinental
Durante a visita do primeiro-ministro Li Keqiang, a
presidenta Dilma Rousseff também recebeu o presidente do Peru, Ollanta Humala.
Os três países iniciaram juntos estudos de viabilidade para a Ferrovia
Transcontinental, que vai cruzar o continente sulamericano, ligando o oceano
Atlântico ao Pacífico.
"Um novo caminho para a Ásia se abrirá para o
Brasil, reduzindo distâncias e custos. Um caminho que nos levará diretamente, pelo
oceano Pacífico, até os portos do Peru e da China", afirmou a presidenta
Dilma Rousseff, durante declaração feita à imprensa após a assinatura de atos
entre os dois países.
"Convidamos as empresas chinesas a participarem
dessa grande obra, que sairá de Campinorte, no TO, lá na Ferrovia Norte Sul,
passará por Lucas do Rio Verde no MT, atingirá o Acre e atravessará os Andes
até chegar ao porto no Peru", explicou a presidenta.
Carne brasileira
Outros acordos
Acordo sanitário entre os dois países também colocou na
fila mais nove frigoríficos brasileiros, a princípio, para exportar carne à
China. "A partir deste acordo sanitário cria-se uma nova forma de
relacionamento entre as autoridades chinesas, autoridades sanitárias
brasileiras e o Ministério da Agricultura", disse a presidenta Dilma
Rousseff.
Histórico de boa relação
As relações comerciais entre Brasil e China foram
estabelecidas em 1979 e, desde então, têm evoluído ano a ano. A partir de 2009,
o país asiático se transformou no maior parceiro comercial brasileiro. A cooperação
com a China também vem se constituindo numa das principais fontes de
investimento diretos no País, tendo entre os destaques os setores de energia e
mineração, siderurgia e agronegócio.
A cooperação entre Brasil e China tem o olhar atento dos
demais países do mundo, em especial aqueles em desenvolvimento. Para o
secretário-geral das Relações Exteriores, embaixador Sérgio Danese, chama
especialmente a atenção a vocação inovadora e a capacidade de renovação desse
relacionamento.
"Quando demos início ao programa CBERS [Programa
China Brasil Earth Resource Satellite], em 1988 – o primeiro entre países em
desenvolvimento no campo da alta tecnologia – poucos acreditavam na sua
continuidade. Menos ainda na nossa capacidade de avançar conjuntamente no desenvolvimento
de novas tecnologias. Mostramos a todos que isso é plenamente possível",
afirmou o embaixador brasileiro, durante reunião da reunião da Comissão
Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), há cerca de
um mês.
Para ele, o mesmo pode ser dito em relação à parceria
estratégica, instituída em 1993 – a primeira estabelecida pela China.
"Hoje temos uma parceria genuinamente global. Somos parceiros no BRICS, no
BASIC e no G-20. Criamos o Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS e o Arranjo
Contingente de Reservas. E agora o Brasil se une à China na formação do Banco
Asiático de Investimento e Infraestrutura. Todas essas são áreas inovadoras das
relações internacionais contemporâneas, nas quais temos podido desenvolver uma
proveitosa ação comum e coordenada", afirmou.
Cosban
Criada no ano de 2004, a Comissão Sino-Brasileira de Alto
Nível de Concertação e Cooperação (Cosban) é considerada o principal mecanismo
institucional das relações dos dois países. Por meio de subcomissões e Grupos
de Trabalho, a COSBAN cumpre papel fundamental na avaliação, planejamento e
implementação de nossa ampla agenda de cooperação. Sua terceira e mais recente
reunião ocorreu em Cantão, no último semestre de 2013.
Banco de Investimentos
Recentemente o governo brasileiro aceitou o convite da
República Popular da China para participar como membro-fundador do Asian
Infrastructure Investiment Bank (AIIB). A proposta do país asiático, que tem o
objetivo de tirar do papel aproximadamente US$ 8 de trilhões em financiamentos,
já mobilizou mais de 50 nações interessadas.
Confira alguns outros marcos das relações entre os dois
países no infográfico a seguir.