O mercado viveu em abril o que muitos especialistas vêm
atribuindo como um "otimismo temporário" impulsionado pela forte
entrada de capital estrangeiro, que fez a Bolsa disparar enquanto levou o dólar
a patamares pouco prováveis dentro dos cenários que vinham sendo traçados em
março, quando a moeda bateu R$ 3,2965 na venda, no maior valor desde 1° de
abril de 2003. No mês passado, contrariando a tendência de alta da moeda vista
desde o início do ano, o dólar caiu 5% e voltou ao patamar de R$ 2,9217, em um
movimento de correção que vem gerando dúvidas nos investidores sobre qual é a
real perspectiva para o câmbio.
A reportagem é da Infomoney. Leia tudo:
Para saber o que esperar da moeda, que
fechou na véspera, a R$ 3,0186 na compra e R$ 3,0195 na venda, o InfoMoney
consultou cinco economistas para comentar sobre as perspectivas para o dólar.
Todas as opiniões convergiram para um mesmo comentário: o dólar próximo de R$ 3
será uma realidade passageira. A rapidez dessa arrancada é que ainda gera
divergências, mas a leitura que se abre agora é que uma subida mais acentuada
deve ficar para o segundo semestre. Confira, a seguir, as opiniões dos
especialistas.
1°) Ítalo Abucater, gerente da mesa de câmbio da Icap
Para ele, a miopia do mundo está acabando. Com os juros
de longo prazo dos Estados Unidos disparando, cada vez mais se materializa um
cenário de apreciação do dólar globalmente. "Vai piorar muito ainda e o
dólar vai rumo a R$ 3,50, R$ 3,60, R$ 3,70. Sem dúvidas a euforia está
acabando, por mais que ainda alguns ainda insistam em resistir. O dólar próximo
a R$ 3 é uma realidade passageira", disse, citando o desaquecimento da
economia chinesa, Europa com sérios problemas e economia doméstica em um
momento bastante delicado. Segundo ele, o "carrego" da compra tem
machucado o investidor, que acaba vendo a venda como mais atrativa. Além disso,
analisando somente o fluxo cambial de abril, o índice ficou positivo em US$
13,1 bilhões – sendo que boa parte desse valor veio da emissão da Telefônica e
entre carry trade (operações feitas para aproveitar o diferencial entre os
juros no Brasil e exterior) e commodities por causa da safra recorde de soja.
Já nos meses seguintes prevalecerá o carry e possíveis captações que o governo
"tire da cartola", com o intuito de estancar a sangria do segundo
semestre, antevê Abucater. Para ele, pode não ser em maio, mas no segundo
semestre o cenário de dólar mais valorizado se materializará.
2°) Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da
NGO
Para Nehme, a queda recente do dólar não tem fundamento,
ou seja, não deve sustentar o valor da moeda próximo dos atuais R$ 3.
"Para justificar a valorização do real na semana passada foi utilizado o
argumento dos dados do 'payroll' como se fosse o único e o Brasil estive
'navegando por águas calmas', sendo que as dúvidas e incertezas estavam no
território norte americano", afirma ele. "Esses dados não seriam
relevantes a ponto de fomentar a ideia de mudança da política monetária
americana no curto prazo, e então, o nosso real repercutiu este fato e se
esqueceu de tudo o mais de expectativas incertas existentes internamente no
Brasil e se apreciou", continua o economista. Segundo Nehme, o preço de
equilíbrio é no patamar entre R$ 3,05 e R$ 3,10.
3°) Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset
Para Weeks, o dólar tem que ir a, pelo menos, R$ 3 para
começar um ajuste mais significativo da conta corrente para o ano que
vem. “Parece existir uma estratégia de política econômica que passa por
políticas fiscal e monetária mais restritivas e um câmbio mais depreciado, que
é reforçado pelo decisão do Banco Central de rolar menos os estoques de swap
com vencimento neste mês, o que poderia servir como válvula de escape para as
empresas em termos de atividade econômica, além de ajudar no necessário o
ajuste das contas externas, convergência do déficit em conta corrente para
níveis mais baixos”, explica.
4°) Marcelo Castello Branco, economista da Saga Capital
Branco trabalha com cenário de dólar próximo a R$ 3,50
este ano e na faixa de R$ 4 e R$ 4,20 em dezembro de 2016. Segundo ele, ao
contrário do que temos visto em quase todos os ciclos desinflacionários desde
2003, o câmbio não poderá ajudar dessa vez, já que essa variável precisa
auxiliar na redução dos déficits em conta corrente e aliviar o grau de
exposição a risco da economia brasileira diante de um mundo que caminha para
uma menor disponibilidade de liquidez. Ele comenta que o problema dessa
trajetória é que traz mais pressão inflacionária, que está sendo endereçada com
elevações da Selic e que, invariavelmente, impactará negativamente o
crescimento econômico e o resultado fiscal na medida em que as receitas devem
ser frustradas.
5º) José Faria Júnior, diretor técnico da Wagner
Investimentos
Para Faria Júnior, a tendência primária é de alta, mas
não é possível definir a velocidade da retomada do preço. "No momento, o
dólar cai contra a maioria das moedas no mundo e por este fator acreditamos que
a tendência de médio prazo (secundária) permaneça ainda de queda, com um
gatilho de reversão em R$ 3,12", afirma. Apesar disso, ele vê a chance da
divisa voltar até R$ 2,90 no médio prazo. "A subida rápida ocorrerá
basicamente por três fatores: política interna, 'Grexit' [neologismo que se
refere à retirada da Grécia da Zona Euro] ou renovação da aposta do Fed subir
juros antes de setembro", argumenta Júnior. "Estimar o fundo e o
tempo de duração dessa tendência de baixa é algo impossível. Mas estimamos que
o quadro de dólar mais baixo pode sobreviver por mais uns dois meses. Nossa
recomendação para os nossos clientes é aproveitar esta faixa mais baixa e
elevar a proteção cambial (hedge de compra) com objetivo de preço médio",
completa o diretor técnico da Wagner Investimentos.