Capacidade de geração instantânea é o maior problema do
setor neste momento
Avaliação é de que o governo precisa incentivar o uso
racional de energia porque se as afluências se mantiveram no atual nível
poderemos ter problemas em futuro próximo
O Artigo é de Mauricio Godoi, da Agência CanalEnergia, de São Paulo
O sistema elétrico brasileiro está com o sinal de alerta
ligado. A ocorrência da terça-feira, 4 de fevereiro, que derrubou três linhas
de transmissão na interligação entre o Norte e o Sudeste do país escancarou um
problema mais sério do que uma sobrecarga na transmissão: a redução da margem
de reserva entre a carga demandada e a capacidade de geração instantânea
disponível. A necessidade em ajustar a carga em 11 estados e que levou até
cerca de duas horas para ser restabelecida a frequência do sistema interligado
decorreu da falta de capacidade de geração no Sudeste para atender a demanda
instantânea.
Esse alerta é feito pelo presidente do Conselho de
Administração da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica,
Carlos Ribeiro. O executivo, que atua no segmento de transmissão, afirmou que
diferentemente do que se especulou depois do episódio de desligamentos, não há
sobrecarga. Nas linhas que caíram esta semana havia espaço para transmitir mais
energia. Ele explicou que como houve uma ocorrência dupla, o terceiro circuito
não conseguiu enviar a energia da UHE Tucuruí (PA-8.370 MW) para o Sudeste por
ultrapassar um pouco sua capacidade individual.
Ribeiro apontou que o principal problema do setor
elétrico atual e que não está sendo debatido é a falta da capacidade de o
parque gerador atender a carga. Esse fator se deve à conjuntura que alia
reservatórios em baixa e temperaturas no sentido inverso, que estão levando a
recordes sucessivos de consumo no Brasil.
"Não existe sobrecarga, o que está havendo é que a
margem de geração está cada vez menor e isto leva a uma maior vulnerabilidade
do sistema", afirmou ele em entrevista à Agência CanalEnergia. "Como
o período úmido ainda vai se estender, é possível que os reservatórios possam
se recuperar, mas o momento é de prudência e já passou da hora de o governo
começar a incentivar o uso racional da energia para evitarmos a possibilidade
de racionamento no futuro", destacou ele.
Tomando como base os dados do Operador Nacional do
Sistema Elétrico, Ribeiro lembra que a demanda no país na comparação com o ano
de 2013 está cerca de 6 mil MW médios mais elevada. Ao mesmo tempo, depois da
estiagem que região Sudeste vem enfrentando desde janeiro, a perspectiva de
reservatórios para este mês é pior do que no ano passado. Ele alerta que não há
como saber como serão as chuvas de março. "Pode ser que tenhamos chuvas e
a recomposição dos reservatórios ou a situação de seca continue. Por isso é
preciso usar a energia de forma mais responsável", ressaltou.
Pelo lado dos consumidores, o presidente da Associação
Nacional dos Consumidores de Energia, Carlos Farias, avaliou que o setor
elétrico está sob pressão apesar do relativo equilíbrio entre a carga e a
geração. Ele corrobora o que afirmou Ribeiro, da ABCE, de que os reservatórios
baixos acabam reduzindo a potência nominal das UHEs porque as quedas d'água
estão menores.
Contudo, ele levanta outro ponto para o atual momento que
é a falta de definição de regras que a Medida Provisória 579 trouxe ao mercado
e que levou a atrasos na manutenção e modernização dos ativos existentes.
"O pior de tudo é que o governo continua sinalizando que está tudo bem.
Não pede ajuda ao consumidor para controlar a demanda, estamos em uma situação
crítica com custo elevado e que será bancado pelo contribuinte", disparou
o executivo, que concorda que este momento é de rever o uso da energia. Aliás,
disse que a entidade já tem procurado incentivar seus associados a fazer um
esforço para reduzir o consumo.