A revista uruguaia “Búsqueda”, onde trabalham os
jornalistas Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz, publicou na edição que chegou às
bancas na quinta-feira uma resenha do livro “Una oveja negra al poder”, que foi
escrito pela dupla e narra uma “confissão” que o ex-presidente José Mujica
teria ouvido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, ao falar sobre
o escândalo do mensalão. Intitulado “Lula: el mensalão era la única forma de
gobernar Brasil”, o texto traz alguns trechos da obra que foi lançada nesta
semana. Entre eles, está aquele em que Mujica lembra que, ao falar sobre o
esquema de compra de apoio parlamentar descoberto em 2005, Lula teria lhe
contado que teve que “lidar com muitas coisas imorais, chantagens” e teria
justificado o mensalão afirmando, textualmente:
- Essa era a única forma de
governar o Brasil.
A reportagem a seguir é do jornal O Globo deste sábado:
Em entrevista concedida ao GLOBO, por telefone, na tarde
de quinta-feira, Danza contou que Mujica sempre viu em Lula um exemplo e que
não o considera corrupto, como o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Também
disse que a frase que publicou em seu livro, usando aspas oriundas de cerca de
cem horas de entrevista com Mujica, foi dita pelo brasileiro ao colega uruguaio
num encontro em que os dois conversaram sobre o escândalo do mensalão. No
livro, os jornalistas chegam a afirmar que “Lula sentiu a necessidade de
esclarecer a situação”, no encontro realizado em Brasília.
INSTITUTO LULA
DIVULGA NOTA
Nesta sexta-feira, em entrevista ao site G1, Danza voltou
atrás. Negou que a frase publicada em seu livro e usada no título da resenha
feita pela revista que ele edita se relacionasse ao escândalo do mensalão. Logo em seguida, o Instituto Lula divulgou uma nota dando
destaque à segunda entrevista concedida por Danza e lamentando “que, uma vez
mais, a imprensa brasileira se utilize de imprecisões para gerar interpretações
equivocadas e divulgar mentiras”. Procurado na quinta-feira para comentar a
reportagem do GLOBO, o instituto informou que não teria tempo para se
posicionar sobre o assunto.
Agora, ao lado e abaixo, o GLOBO divulga tanto o trecho do livro,
que foi enviado pelo autor ao jornal, quanto o trecho da resenha de sua
revista. “Una oveja negra al poder”, publicada pela editora Sudamericana
(Penguin Random House no Uruguai), ainda não tem data para chegar ao Brasil.
TRECHO DO LIVRO (tradução livre):
“Una oveja negra ao poder”
“Lula teve que enfrentar um dos maiores escândalos da
História recente do Brasil: o mensalão, uma mensalidade paga a alguns
parlamentares para que aprovassem os projetos mais importantes do Poder Executivo.
Compra de votos, um dos mecanismos mais velhos da política. Até José Dirceu, um
dos principais assessores de Lula, acabou sendo processado pelo caso.
‘Lula não é um corrupto como Collor de Mello e outros
ex-presidentes brasileiros', disse-nos Mujica, ao falar do caso. Ele contou,
além disso, que Lula viveu todo esse episódio com angústia e com um pouco de
culpa. 'Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens',
disse Lula, aflito, a Mujica e Astori, semanas antes de eles assumirem o governo
do Uruguai. 'Essa era a única forma de governar o Brasil', se justificou. Os
dois tinham ido visitá-lo em Brasília, e Lula sentiu a necessidade de
esclarecer a situação."
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TRECHO DA RESENHA DA REVISTA “BÚSQUEDA” (tradução livre):
“Lula: o mensalão era a única forma de governar”
“O ex-presidente também escutou uma confissão de seu
amigo Lula sobre a corrupção no Brasil e, especialmente, sobre o chamado
mensalão, um esquema de pagamento de propina a congressistas montados pelo
Partido dos Trabalhadores (PT), que acabou com vários de seus principais
dirigentes entre as grades. Um deles foi José Dirceu, braço-direito de Lula
durante seu governo.
‘Lula não é um corrupto como Collor de Mello e outros
ex-presidentes brasileiros’, disse Mujica. Mas, em seguida, narrou como Lula,
aflito, disse a Mujica e a Astori pouco antes do dia 1 de março de 2010 que
tinha tido que ‘lidar com muitas coisas imorais, chantagens’. Lula chegou a
justificar o mensalão: ‘Essa era a única forma de governar o Brasil’.”