No pior momento de seu governo, a presidente Dilma
Rousseff afirmou em entrevista à edição desta terça-feira do jornal Folha
de S. Paulo que 'não vai cair'. Dilma rechaçou a possibilidade de renunciar.
"Eu não sou culpada. Se tivesse culpa no cartório, me sentiria muito mal.
Eu não tenho nenhuma."
Ameaçada em diversas frentes pela crise política, a
presidente afirmou que vai cumprir o seu mandato até o fim: "Eu não vou
cair. Eu não vou, eu não vou. Isso é moleza, isso é luta política". Dilma
chamou os setores da oposição que defendem o seu impeachment de 'um tanto
quanto golpistas' e disse que não existe 'base real' para o afastamento.
A entrevista completa vai a seguir e é obra dos jornalistas Maria Cristina Frias, Valdo Cruz e Natuza Nery, todos da Folha. Leia:
Folha - O ex-presidente Lula disse que ele e a sra.
estavam no volume morto. Estão?
Dilma Rousseff - Respeito muito o presidente Lula. Ele
tem todo o direito de dizer onde ele está e onde acha que eu estou. Mas não me
sinto no volume morto não. Estou lutando incansavelmente para superar um
momento bastante difícil na vida do país.
Lula disse que ajuste fiscal é coisa de tucano, mas a
sra. fez.
Querido, podem querer, mas não faço crítica ao Lula. Não
preciso. Deixa ele falar. O presidente Lula tem direito de falar o que quiser.
A sra. passa uma imagem forte, mas enfrenta uma fase
difícil.
Outro dia postaram que eu tinha tentado suicídio, que
estava traumatizadíssima. Não aposta nisso, gente. Foi cem mil vezes pior ser
presa e torturada. Vivemos numa democracia. Não dá para achar que isso aqui
seja uma tortura. Não é. É uma luta para construir um país. Eu não quis me
suicidar na hora em que eles estavam querendo me matar! A troco de quê vou
querer me suicidar agora? É absolutamente desproporcional. Não é da minha vida.
Renúncia também?
Também. Eu não sou culpada. Se tivesse culpa no cartório,
me sentiria muito mal. Eu não tenho nenhuma. Nem do ponto de vista moral, nem
do ponto de vista político.
A sra. fala que não tem relação com o petrolão, mas está
pagando a conta?
Falam coisas do arco da velha de mim. Óbvio que não
[tenho nada a ver com o petrolão]. Mas não estou falando que paguei conta
nenhuma também. O Brasil merece que a gente apure coisas irregulares. Não vejo
isso como pagar conta. É outro approach. Muda o país para melhor. Ponto.
Agora excesso, não [aceito]. Comprometer o Estado
democrático de direito, não. Foi muito difícil conquistar. Garantir direito de
defesa para as pessoas, sim. Impedir que as pessoas sejam de alguma forma ou de
outra julgadas sem nenhum processo, também não [é possível].
O que acha da prisão dos presidentes da Odebrecht e
Andrade Gutierrez?
Olha, não costumo analisar ação do Judiciário. Agora,
acho estranho. Eu gostaria de maior fundamento para a prisão preventiva de
pessoas conhecidas. Acho estranho só.
Não gostei daquela parte [da decisão do juiz Sergio Moro]
que dizia que eles deveriam ser presos porque iriam participar no futuro do
programa de investimento e logística e, portanto, iriam praticar crime
continuado. Ora, o programa não tinha licitação. Não tinha nada.
A oposição prevê que a sra. não termina seu mandato.
Isso do ponto de vista de uma certa oposição um tanto
quanto golpista. Eu não vou terminar por quê? Para tirar um presidente da
República, tem que explicar por que vai tirar. Confundiram seus desejos com a
realidade, ou tem uma base real? Não acredito que tenha uma base real.
Não acho que toda a oposição que seja assim. Assim como
tem diferenças na base do governo, tem dentro da oposição. Alguns podem até
tentar, não tenho controle disso. Não é necessário apenas querer, é necessário
provar.
Delatores dizem que doações eleitorais tiveram como
origem propina na Petrobras.
Meu querido, é uma coisa estranha. Porque, para mim, no
mesmo dia em que eu recebo doação, em quase igual valor o candidato adversário
recebe também. O meu é propina e o dele não? Não sei o que perguntam. Eu
conheço interrogatórios. Sei do que se trata. Eu acreditava no que estava
fazendo e vi muita gente falar coisa que não queria nem devia. Não gosto de
delatores.
Mesmo que seja para elucidar um caso de corrupção?
Não gosto desse tipo de prática. Não gosto. Acho que a
pessoa, quando faz, faz fragilizadíssima. Eu vi gente muito fragilizada
[falar]. Eu não sei qual é a reação de uma pessoa que fica presa, longe dos
seus, e o que ela fala. E como ela fala. Todos nós temos limites. Nenhum de nós
é super-homem ou supermulher. Mas acho ruim a instituição, entendeu?
Transformar alguém em delator é fogo.
Tem gente no PMDB querendo tirar a sra. do cargo.
Quem quer me tirar não é o PMDB. Nã-nã-nã-não! De jeito
nenhum. Eu acho que o PMDB é ótimo. As derrotas que tivemos podem ser
revertidas. Aqui tudo vira crise.
Parece que está todo mundo querendo derrubar a sra.
O que você quer que eu faça? Eu não vou cair. Eu não vou,
eu não vou. Isso é moleza, isso é luta política. As pessoas caem quando estão
dispostas a cair. Não estou. Não tem base para eu cair. E venha tentar, venha
tentar. Se tem uma coisa que eu não tenho medo é disso. Não conte que eu vou
ficar nervosa, com medo. Não me aterrorizam.
E se mexerem na sua biografia.
Ô, querida, e vão mexer como? Vão reescrever? Vão provar
que algum dia peguei um tostão? Vão? Quero ver algum deles provar. Todo mundo
neste país sabe que não. Quando eles corrompem, eles sabem quem é corrompido.