Na sua coluna deste domingo do jornal Zero Hora, escreveu o jornalista Flávio Tavares, um homem sabidamente de esquerda (a esquerda democrática anticorrupção):
Há, também, recuos afrontosos, que agridem até a quem
recua, seja pessoa ou organismo. É o caso do Supremo Tribunal Federal ao
revogar o que havia decidido, anos atrás, sobre a prisão após condenação em
segunda instância. Nos últimos tempos, voltamos a confiar na Justiça e nos
tribunais. Figurões até então intocáveis foram presos. O crime bilionário dos
que detêm o controle político ou econômico passou a ser visto como crime mesmo,
não como salvo-conduto dos poderosos. Um ex-presidente da República e dezenas de grandes
empresários (ou seus asseclas) foram presos, condenados em duas instâncias após
minuciosas investigações. É difícil (ou impossível) que a instância final do
processo os declare "inocentes". De fato, o Supremo Tribunal julga,
apenas, se o processo seguiu o rito constitucional. A essência do crime já foi julgada antes, por duas vezes.
As mais lúcidas figuras do STF, como os ministros Edson
Fachin, Luís Barroso e Carmen Lúcia, optaram por manter a prisão, em votos
memoráveis. O "voto de minerva" do presidente da Corte, porém,
decidiu pelo absurdo, num recuo desastroso.
É isto.