Até há pouco, Gleise era a queridinha de Dilma, de quem foi chefe da Casa Civil. Na foto, elas mandam coraçõezinhos para os companheiros. -
Nesta repotagem de Márcio Falcão e Rubens Valente, o jornal Folha de S. Paulo de hoje revela que em despacho enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal), o
juiz federal Sergio Moro, do Paraná, afirmou que as investigações da Operação
Lava Jato identificaram "indícios de que a senadora Gleisi Hoffmann
(PT-PR) seria beneficiária de valores de possível natureza criminosa",
recebendo "pagamentos sem causa".
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De acordo com o documento, a senadora teria sido
beneficiária do chamado "Fundo Consist", empresa que teria atuado no
desvio de recursos de empréstimos consignados do Ministério do Planejamento
–que era comandado pelo marido da senadora, o ex-ministro Paulo Bernardo.
Pelo menos R$ 50 mil desse fundo em pagamentos do esquema
teriam sido repassados também em favor da congressista e de pessoas ligadas a ela,
além do ex-ministro.
As apurações mostram que os desvios envolviam os
escritórios do advogado Guilherme Gonçalves, responsáveis pela coordenação
jurídica das campanhas da petista, e o pagamento de propina ligado à atuação da
empresa de tecnologia Consist no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
e ainda o uso de empresas de fechada.
Ex-ministra da Casa Civil do governo Dilma, Gleisi já é
alvo de inquérito no STF que apura sua suposta ligação com o esquema de
corrupção na Petrobras.
"Na busca e apreensão realizada no escritório de
Gonçalves, foram colhidos documentos que indicam que os valores recebidos da
Consist teriam sido em parte utilizados para efetuar pagamentos em favor da
senadora", diz Moro.
De acordo com os investigadores, "parte expressiva
da remuneração da Consist, cerca de 9,6% do faturamento líquido, foi repassada,
a Gonçalves, em Curitiba, que, por sua vez, utilizou esses mesmos recursos para
pagamentos associados à senadora Gleisi Hoffmann".
Entre as despesas pagas com esses recursos estariam um
débito de R$ 1.344,51, a título de pagamento de multa relacionada ao nome da
própria senadora, e débitos relacionados a Zeno Minuzzo e Hernany Bruno
Mascarenhas, pessoas ligadas a ela, segundo a autoridade policial.
Em um dos lançamentos de débito junto ao nome de Hernany
consta a anotação "salário motorista - cheque 828", enquanto no
outro, "Diversos PT, PB, Gleisi".
Para a Polícia Federal, Mascarenhas prestaria serviços de
motorista à senadora, enquanto Zeno Minuzzo teria sido secretário de finanças
do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores.
Para acobertar os repasses, o escritório teria prestado
um ou outro serviço à Consist, mas aparentemente incompatíveis com a
remuneração de cerca de R$ 7 milhões.
OPERADORES
Também foram identificados pagamentos da Consist para
Milton Pascowitch –que intermediou pagamento de propina ao PT– de cerca de R$
12 milhões, e ao advogado e ex-vereador do PT Alexandre Romano, que teria
recebido R$ 37 milhões da empresa.
"Não foi até o momento identificada causa lícita
para os pagamentos da Consist Software para Milton Pascowitch e para Alexandre
Romano, tendo o primeiro, aliás, já admitido que inexistia motivo lícito e que
os contratos de consultoria celebrados eram mero disfarce para repasse de
propina."
Foram rastreados pagamentos pelas empresas do Grupo
Consist de parte desses valores a dezenas de empresas de fachada ligadas a
Romano ou a terceiros. Há ainda indícios de repasses a servidores do próprio
Ministério do Planejamento que teria sido feito mediante pagamento a empresas
de fachada.
Aos investigadores, Guilherme Gonçalves alegou que
utilizava recursos recebidos a título de honorários advocatícios da Consist
para pagar despesas de clientes do escritório, como da senadora ou de pessoas
ligadas a ela.
O advogado também afirmou que os débitos seriam relativos
a "despesas urgentes" dos clientes –sem esclarecer quais eram–, que
posteriormente eram ressarcidas.
O juiz Moro pediu que o STF avalie o desmembramento do
processo, uma vez que Gleisi tem foro privilegiado e só pode ser alvo de
investigação no Supremo. Ele justificou que não investigou a senadora, se
antecipando a eventuais acusações de que usurpou atribuições do STF.
"Importa destacar que os fatos foram descobertos em
desdobramento natural das investigações na assim denominada Operação Lava jato
e há possíveis ligações com outros fatos apurados no âmbito da referida
investigação, pois, como bem apontado pelo MPF, o escritório de Alexandre
Romano também recebeu depósitos vultosos das empreiteiras investigadas no
âmbito da Operação Lava Jato, assim como o próprio Milton Pascowitch",
escreveu.
OUTRO LADO
Em nota, a senadora afirmou que "todo o trabalho do
Guilherme Gonçalves consta nas minhas prestações de contas, aprovadas pela
Justiça Eleitoral." A petista disse ainda que desconhece relações
contratuais que Gonçalves mantém com outros clientes, "assim como qualquer
doação ou repasse de recursos da empresa Consist a minha campanha".
A senadora sustentou que, em relação a 2014, "ainda
existe débito com seu escritório, o que está a cargo do PT", e que a sua
"campanha foi atendida pelo dr. Luiz Fernando Pereira".
A petista destacou que tem uma relação antiga com
Gonçalves