Esta reportagem de capa da revistra Veja, assinada por Rodrigo Rangel e Adriano Ceolin, denuncia que um dos grandes pecuaristas do país, José Carlos Bumlai administra até os negócios do Instituto Lula, de Lula e da família, além de negócios sujos da Petrobrás. Leia tudo: José Carlos Bomlai conta que visualizou em sonho sua aproximação com Luiz Inácio Lula da Silva,
quando ele era apenas aspirante à Presidência. Com a ajuda de um amigo comum,
Bumlai conheceu o petista e o sonho se realizou. O pecuarista tornou-se íntimo
de Lula. O sonho embutia uma profecia que ele só confidenciou a poucos: a
aproximação renderia excelentes resultados para ambos. Assim foi. Lula chegou
ao Planalto, e Bumlai, bom de negócios, bem-sucedido e rico, tornou-se fiel
seguidor do presidente, resolvedor de problemas de toda espécie e, claro,
receptador de dividendos que uma ligação tão estreita com o poder sempre
proporciona. No governo, só duas pessoas entravam no gabinete presidencial sem
bater na porta. Bumlai era uma delas. A outra, Marisa Letícia, mulher de Lula.
O acesso livre foi formalizado em agosto de 2008. Certo
dia, Bumlai chegou ao Planalto sem avisar. A equipe de segurança, seguindo o
protocolo, barrou sua entrada. Foram-lhe exigidas cópia de sua carteira de
identidade e informações mais precisas sobre o motivo da visita. O nome dele
não constava da lista de pessoas que Lula receberia em audiência naquele dia.
Bumlai foi impedido de entrar. Quando Lula soube do episódio, determinou ao
Gabinete de Segurança Institucional que mandasse fazer um cartaz com foto, a
ser mantido permanentemente na recepção, contendo um aviso incomum: "O sr.
José Carlos Bumlai deverá ter prioridade de atendimento (...) em qualquer tempo
e qualquer circunstância". Nenhum ministro, nenhum assessor, nenhum
parente de Lula mereceu tal deferência.
Discreto e eficiente no cumprimento das tarefas que
recebia, o pecuarista foi ocupando espaços. A derrocada dos mensaleiros fez
dele interlocutor direto do presidente com diversos setores no mundo
empresarial. Bumlai foi encarregado de missões complexas — a montagem do
consórcio de empresas que construiriam a usina de Belo Monte, uma obra orçada
em 25 bilhões de reais, foi trabalho dele. Cumpriu-as com destreza. Sua
influência cresceu a ponto de ele ser mais procurado para intermediar
interesses no governo que a maioria dos ministros. O pecuarista, que nunca teve
nenhuma função oficial, montou um gabinete num quarto de hotel a 2 quilômetros
do Planalto, onde recebia empresários e lobistas que se enfileiravam para
vê-lo. Em paralelo, exercia outra tarefa igualmente sensível: virou tutor dos
negócios dos filhos do então presidente, em especial de Fábio Luís, o Lulinha.
Desde 2005, sabia-se em Brasília que Bumlai também tinha
delegação para tratar de interesses que envolvessem a Petrobras. Foi ele, por
exemplo, um dos responsáveis por chancelar o nome do hoje notório Nestor
Cerveró, um desconhecido funcionário da estatal, para o posto de diretor
internacional da empresa. Em sua missão de conjugar interesses públicos e
privados, Bumlai tinha seus parceiros diletos, aos quais dedicava atenção
especial. Não demorou para que começassem a chegar ao governo queixas de
empresários descontentes com "privilégios incompreensíveis"
concedidos aos amigos do amigo do presidente.
Uma das reclamações mais frequentes envolvia justamente a
Petrobras e uma empreiteira pouco conhecida até então, a UTC, que de repente
passou a assinar contratos milionários com a estatal, ao mesmo tempo em que
surgia como uma grande doadora de campanhas, principalmente as do PT. Gigantes
da construção civil apontavam Bumlai como responsável pelos
"privilégios" que a UTC estava recebendo da Petrobras. Hoje, a
escalada dos negócios da UTC é uma peça importante da Operação Lava-Jato, que
está desvendando o ultrajante esquema de corrupção montado no coração da
estatal para abastecer as contas bancárias de políticos e partidos. A cada
depoimento, a cada busca, a cada prova que se encontra, aos poucos as peças vão
se encaixando. A última revelação pode ser a chave do quebra-cabeça. Bumlai, o
amigo íntimo do ex-presidente que tinha entrada livre ao Palácio do Planalto,
está envolvido até o pescoço no escândalo de corrupção montado na Petrobras
durante o governo petista.
Bumlai, soube-se agora, ajudou a compor a teia de
corrupção na estatal. As investigações da Polícia Federal o colocam como um dos
responsáveis pelo acesso que o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano,
desfrutava na Petrobras. Preso desde novembro, Baiano é mencionado como um dos
principais operadores do esquema de propina na estatal. Era ele o responsável
por distribuir a parte que cabia ao PMDB.,partido que, junto com o PT e o PP,
formava a trinca governista que assaltava os cofres da empresa. Em um dos
depoimentos à Justiça, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa revela o
papel de relevo que Baiano exercia no esquema — a ponto de atuar dentro da
própria Petrobras, viabilizando acordos e estabelecendo condições de negócios,
mesmo sem nenhum vínculo funcional com a companhia.
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