Esta reportagem de Mônica Bérgamo foi publicada na segunda página do caderno Ilustrada, Folha de S. Paulo deste domingo, sob o título "O inimigo mora ao lado!". Ela descreve em detalhes a briga entre duas famílias de classe média alta, vizinhos de 30 anos no mesmo edifício do bairro Perdizes, São Paulo.
Eram amigos até que os roubos do PT enfezaram uma das famílias, a de um engenheiro-agrônomo, e colocaram a outra, a de uma professora petista da Unicamp, em situações que acabaram levando todo mundo até a delegacia. É divertíssimo o episódio no qual a professora vai se queixar numa DP dos xingamentos do engenheiro vizinho contra Dilma, ao que o inspetor interrompe para esclasrecer:
- A senhora me desculpe, mas a Dilma é mesmo uma filha da puta !.
A professora alega que é tudo ódio alimentado pela mídia, mas o engenheiro reclama que não se trata de "ódio" contra os petistas, mas raiva mesmo, tudo porque ainda tem gente capaz de apoiar os roubos do PT, o cinismo de Dilma e as cafajestadas inacreditáveis de Lula.
Há muita discussão sobre a lenga-lenga e a malemolência que o Bolsa Família produziu entre os brasileiros mais pobres, sem contar as denúncias sobre a conivência criminosa dos que ainda apóiam a organização criminosa em que se transformou o PT e o governo cleptocrático de Dilma.
Leia mais:
O desentendimento entre um casal de professores
universitários e um agrônomo em Perdizes que sempre se deram bem vai parar na
delegacia. Motivo: os dois votam no PT. E ele tem aversão ao PT
Walquíria Leão Rego tem 70 anos e mora há três décadas no
mesmo edifício, numa rua pacata do bairro de Perdizes. A socióloga, que dá
aulas de teoria da cidadania na Unicamp, vive no 4º andar e sempre se deu bem
com seus vizinhos de baixo: o engenheiro agrônomo José Luiz Garcia, 67, a
mulher dele, Marília, e a filha do casal, Ana Luisa. A jovem já deu aulas de
inglês para Walquíria. A professora recebeu Marília para comer bolo e tomar
chá.
Walquíria já foi filiada ao PT. Hoje é "o que se
pode chamar de eleitora fiel". O vizinho nunca gostou da legenda. Mas a
diferença não era um problema. "Jamais nos desrespeitaram", diz ela.
O clima de boa vizinhança começou a mudar há cerca de um
ano, na época das eleições. Walquíria e o marido, Rubem Leão do Rego, colocaram
um adesivo de Dilma no carro, um New Fiesta vermelho. Garcia, que guarda o
automóvel na garagem justamente ao lado, colocou o seu: "Fora, Dilma. E
leva o PT junto". "Esse adesivo já é um sinal de selvageria. Achei
sintomático", diz ela.
Dilma foi reeleita e o ambiente no prédio de Perdizes
azedou de vez. O engenheiro, inconformado com o resultado das eleições, que
acredita terem sido fraudadas, começou a escrever dizeres contra o PT em
cartazes do elevador. Um deles, da Sabesp, alertava sobre a falta de água:
"A seca resiste". Garcia escreveu: "O PT também". No dia
seguinte, o troco de um morador: "Desinformado".
"Então escrevi: 'Lava Jato', diz o engenheiro.
"Aí eles ficaram loucos", segue, referindo-se ao casal petista.
Repreendido pela síndica, Garcia desistiu do elevador. "Criei um
jornalzinho. Todos os dias eu escrevia notícias numa folha de papel: 'José
Dirceu, herói do PT, preso pela segunda vez', 'Lula, lobista dos empreiteiros'.
Eles [os vizinhos] tinham que ler. Foram ficando tiriricas. Mas não podiam
dizer nada porque o papel estava colado dentro do meu carro."
A tensão foi aumentando. Em 8 de março, dia do primeiro
panelaço contra Dilma, o engenheiro "não se contentou em bater
panelas", diz Walquíria. "Ele passou minutos gritando, num grau de
agressividade, de ódio: 'Petistas filhos da puta, ladrões, corruptos'",
conta Walquíria. "O que eu fiz foi gritar como todo mundo", diz
Garcia.
Em 16 de agosto, o engenheiro estava com febre e não foi
à passeata contra o governo na avenida Paulista. Viu tudo pela TV e só saiu de
casa para comprar remédio. Voltou da farmácia "com aquela
adrenalina", diz. "E entrei no prédio gritando: 'Fora PT! Fora
PT!'." O elevador abriu e dele saiu Rubem, que disse: "O senhor me
respeite". Garcia diz que respondeu: "Respeito é para quem merece. O
PT não merece".
Walquíria diz que ele, na verdade, gritava: "Eu não
respeito petista ladrão, corrupto, filho da puta". "Meu marido ficou
lívido", afirma.
Há duas semanas, a filha dela, Daniela, foi visitar os
pais e se encontrou com Garcia na garagem do prédio. "Ela tem muito medo
dele. E ficou olhando na tentativa de prever algum gesto. Ele vira e diz: 'O
que está olhando, sua filha da puta?'. E mostra o dedo [médio] para ela. A
Daniela pega o celular, anda na direção dele e diz: 'Faz de novo que eu quero
te fotografar!'. Ele dá ré com o carro, ela tem que recuar."
A briga foi parar na delegacia. Daniela prestou queixa
dizendo que teve que "se deslocar para uma pilastra para evitar que José
Luiz a atropelasse". No fim do depoimento, um investigador, Arnaldo, se
aproximou. Armado, disse: "Vocês vão me desculpar. Mas o PT é mesmo o
partido mais corrupto da República". Walquíria reagiu: "O senhor é um
agente do Estado". E ele: "E qual é o problema de eu achar que a
Dilma é uma filha da puta?".
Garcia também foi ao 23º DP, no mesmo dia que Daniela,
para dar a sua versão dos fatos. E diz que o casal agora vai ter que provar as
acusações que fez. "Disseram até que eu quis matar a filha deles. Pegam um
'negocinho' e transformam num 'negocião'. É o modus operandi do PT." Ele
mostra à coluna um vídeo com imagens da garagem e afirma que não colocou a vida
de Daniela em risco.
Relatado em blogs, o desentendimento despertou
solidariedade de professores e até do Ministério do Desenvolvimento Social ao
casal –Walquíria é autora de um livro sobre o impacto do Bolsa Família na vida
das mulheres que recebem o benefício.
"Ele não sabe nada de nossas vidas. Nunca se
preocupou em saber por que votamos no PT, por que 54 milhões de pessoas votam
no partido", diz Walquíria, que afirma se identificar com o projeto social
da legenda, de redução das desigualdades. "Na cabeça dele, as pessoas são
ignorantes ou ladras e por isso votam no PT."
"Quando um vizinho defende um governo cleptocrata e
fobiocrata, ou ele faz parte da cleptocracia ou ele é um idiota total", diz
Garcia. "Não tem acordo. Eu vou passar por ele todos os dias e dizer: 'Bom
dia, seu petista'?. Acabou o diálogo. Não temos outra opção, não temos como
reagir. A maioria silenciosa não aguenta mais. Só que agora não é mais
silenciosa."
Ele acredita que a Operação Lava Jato deveria convencer
qualquer eleitor a não votar mais no PT. "Eu digo, poxa, será que isso não
é suficiente? São evidências, gente. Não são invencionices do [juiz Sergio]
Moro. Se o cara não se convenceu até agora, fica difícil. Aí eu já questiono o
discernimento dele."
O engenheiro diz que leu na internet a repercussão da
briga que protagoniza. "Dizem que é preciso dar um basta [no ódio
político]. Eu concordo. Agora, para que seja dado um basta, eles precisam parar
de roubar, né?"
Ele se formou em agronomia pela UFRRJ (Universidade
Federal Rural do RJ) e depois estudou nos EUA. Hoje, dá consultorias e cuida de
terras que tem em Minas Gerais. Defende a agricultura orgânica. Diz que foi de
esquerda na juventude.
"Se depois da queda do Muro de Berlim o cara não se
dá conta de que o esquerdismo é uma coisa furada, é burrice. Usar camiseta do
Che Guevara, você vai me desculpar! Com todos os livros mostrando que ele era
um assassino sanguinário?"
Acredita, no entanto, que a esquerda está mais forte do
que nunca. "Falam de recrudescimento da direita. Mas o que está havendo é
um recrudescimento do socialismo, com a China rivalizando, a Rússia. E na
América Latina tem esse pessoalzinho da Bolívia, da Venezuela."
Para ele, o Brasil não teve uma ditadura entre 1964 e
1985, e sim um "governo militar". "Nós aqui tivemos uma ditadura
tropical. Tinha até Congresso e partido político. A ditadura brasileira
avacalhou." Não defende, no entanto, a volta dos militares. "Mesmo
porque eles acabaram. Agora são um bando comandado por um devasso, o Jaques
Wagner [ministro da Defesa, de saída do cargo]. Na internet tem até fotografia
dele em baile de Carnaval com duas mulheres se beijando. Isso pra mim é
devassidão."
Ele viu a imagem de Wagner na internet. "Ela [a web]
possibilitou que as pessoas se informassem. Hoje você tem 'zilhões' de
informações para processar. Você vê as coisas acontecendo na televisão, na
internet. É evidente que isso aí gera reação."
"Essa raiva... Raiva, não, indignação.... Como é que
você separa indignação de raiva? Aí vamos entrar numa questão de
semântica", diz ele para explicar o que sente.
A "raiva" surgiu com o mensalão. "Ali foi
o começo." Antes disso, já era um crítico do programa Bolsa Família.
"Você já viajou pelo Brasil? Você não arruma ninguém mais para trabalhar.
Ninguém quer pegar no pesado. Essa não é a receita para um país que quer se
desenvolver –criar essa legião de pessoas que têm aversão ao trabalho. O Brasil
está ingovernável, numa situação pré-falimentar", diz ele, encerrando a
entrevista e pedindo para não ser fotografado.
Entusiasta do Bolsa Família, a professora Walquíria credita
à imprensa o fenômeno do que chama de "ódio político". "Este foi
o clima que a mídia criou no país."
Ela diz que, por isso, agora vive com medo do vizinho.
"Eu não sei o que uma pessoa com esse grau de ódio político é capaz de
fazer", afirma.
Há dez dias, a professora voltou ao 23º DP com o advogado
Marco Aurélio de Carvalho e o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) para pedir
investigação criminal. O policial que xingou Dilma Rousseff foi chamado por
seus chefes e obrigado a se desculpar.
Já o engenheiro Garcia permanece convicto de que suas
atitudes foram corretas. "Se eles querem que eu peça desculpas, eles não
vão conseguir. Eu não sou culpado. Eu jamais vou pedir desculpas, entendeu?
Jamais."