Eis Aí o Brasil, mais uma vez, diante de mais
uma dessas situações em que não dá para saber, realmente, como seria possível encontrar
soluções quando o responsável pelo encontro dessas soluções acha que não há
problemas — ou, se porventura houver algum, atribui sua existência a causas
imaginárias.
É a velha história do cidadão que perdeu o relógio no
jardim e procura por ele no quintal, ou nem sabe que perdeu alguma coisa. Tanto
faz: em qualquer dos casos é certo que não vai encontrar nada. O presente
governo da presidente Dilma Rousseff, que já há bom tempo se transformou
num ex-governo, meteu o país nesse impasse permanente, e não dá nenhum sinal de
que tenha capacidade de sair dele.
Como sair do beco se o governo não reconhece que está num
beco? A última palavra oficial sobre a questão, que é a mesma de ontem e de
anteontem, foi dada dias atrás pela presidente, pelo ex-presidente Lula e pelo
PT, no programa de propaganda dos partidos políticos que a população é
obrigada, de tanto em tanto tempo, a ouvir no rádio e ver na televisão, em
cadeia nacional.
Ali, no meio da barulheira de panelas e buzinas que
ressoou por todo o Brasil em sinal de protesto, como vem acontecendo cada vez
que o governo abre a boca, nossas mais altas autoridades garantiram a todos que
estão cuidando muito bem de tudo. Vá lá, disseram — talvez não estejamos
fazendo exatamente o ideal, mas estamos fazendo melhor do que qualquer governo
que veio antes de nós.
Se há uma ou outra dificuldade, a culpa é da “crise
internacional”, não nossa, e se ninguém sabe que crise é essa — bem, paciência.
Daqui a pouco vai estar tudo beleza de novo. Parem de nos incomodar; Lula já
está de “saco cheio”. Não existe nos registros da ciência terapia conhecida
para o tratamento desse tipo de patologia.
Alguma saída vai acabar aparecendo, mais cedo ou mais
tarde; já aconteceu antes, como na patética comédia do governo Fernando Collor,
e vai acontecer de novo. Enquanto isso, o que se tem é o convívio com a
provação. O ponto que mais chama a atenção, no momento, não é exatamente o
boletim que anota a cada dia as misérias do atual desempenho da economia.
É sempre mais do mesmo. A inflação, em sete meses de
2015, já estourou a meta do ano inteiro. (Por falar nisso: talvez não exista
meta, mas, quando for atingida essa meta que não existe, o governo vai dobrar a
meta. É o que reza a atual filosofia da presidente Dilma.) O dólar sobe em ritmo
de república bananeira, quando a população é capaz de acreditar em tudo, menos
na seriedade da moeda que tem no bolso.
Estima-se que mais de 100 000 empregos estejam
desaparecendo a cada mês — e por aí segue a procissão. O fato que realmente
incomoda, neste momento, é a falência política em volta das derrotas
econômicas. Essa bancarrota se expressa, sobretudo, na pura e simples
incapacidade de governar por parte dos que foram eleitos para cumprir essa
obrigação.
O governo de Dilma, Lula e PT deixou de governar o Brasil
em algum momento da campanha eleitoral do ano passado, quando renunciou a todas
as suas responsabilidades para alcançar o objetivo único de se reeleger por
mais um período. De lá para cá, não voltou a dar sinais de vida. O resultado
disso, como comprovado mais uma vez no último programa oficial que levou ao ar,
é umgoverno que se declara em estado de hostilidade contra os 70% da
população que o condena — os piores índices já registrados na história nacional
das pesquisas de opinião.
Não foi capaz, do primeiro ao último minuto do programa,
de propor uma única ideia coerente para lidar com nenhum dos problemas urgentes
que estão aí. Empenhou-se, sombriamente, em ameaçar os brasileiros com
“consequências trágicas” caso não se conformem com a crise que ele próprio
criou e mantém.
Continua em guerra contra as investigações judiciais que
apuram a corrupção sem limites da máquina do Estado. Considera inimigos os
cidadãos que forem para as manifestações de rua deste dia 16 de agosto.
Vai piorar antes de melhorar.