Collares, maio de 2004: "Ninguém acredita mais no Lula e no PT"

O próprio ex-prefeito José Fogaça tratou na semana passada de sublinhar a incoerência e a parlapatanice do ex-governador Alceu Collares, que o chamou de incompetente pela mídia, justificando seu apoio a Tarso Genro. Eis o que disse Fogaça:
- Collares me apoiou nas eleições de 2004 e 2008 para prefeito de Porto Alegre.

. A incoerência política incomoda mais do que a parlapatanice, mas quando ambas caminham juntas, o resultado é doloroso.

. O leitor Allison Leivas veio em socorro do editor neste final de semana, porque vasculhou os anais da Câmara dos Deputados e recolheu pérolas jogadas aos porcos numa das sessões mais movimentadas de maio de 2004. Na imagem ao lado, você lerá o discurso na íntegra, mas o editor anotou e destaca estes pesados ataques que ele desfechou contra os seus atuais aliados – há apenas seis anos:

Sobre a escolha de Henrique Meirelles para presidente do Banco Central
- Tenho me perguntado de onde o Lula tirou o Henrique Meirelles. Será que ele era da juuventude do PT. Lula terá que explicar como é que põe no coração da economia brasileira alguém comprometido com o capital financeiro internacional.
Sobre a enorme dívida externa brasileira:
- Não vamos fazer moratória, não vamos dar calote, mas queremos uma renegociação dessa monumental dívida, que nos levará a uma situação de caos social e talvez até de explosão social.
Sobre o Fome Zero
- Com a fome não se brinca ! Lula prometeu dez milhões de empregos, sem o menor conhecimento da economia. E prometeu dup-licar o valor do salário mínimo, sem qualquer preparo para o exercício da presidência.
Sobre o PT
- Ninguém acredita mais no PT e nem no Lula. É uma pena... Mas o pior é que a bandeira branca da ética foi jogada no lamaçal da corrupção nacional. Aí está o Waldomiro... Ele estava no quarto andar do Palácio do Planalto... auxiliando o ministro José Dirceu... ao lado do gabinete de Lula.

Crime & Negócios: o amor de Lula pelos ditadores.

No artigo a seguir, o jornalista e escritor Flávio Tavares relata o mais novo amor de Lula, no caso ao ditador africano Obiang Magsobo, um facínora que como os Castro governa há quase meio século a Guiné Equatorial. "São negócios; e negócios são negócios", explicou-se o chanceler Amorim, como lembra Tavares, que aplica o caso a outro episódio infame desta semana, o assassinato de Elisa, a mando do goleiro Bruno: ""São negócios; e negócios são negócios". Essa postura aética, imoral, politicamente incorreta, desmoralizou Lula no final desta semana, porque de nada adiantou derramar-se em cenas de puxa-saquismo explícito sobre os Castro, acusando os "presos comuns" de Cuba, porque os mesmos Castros acabam de considerá-los "presos políticos", libertando-los para o exílio, porque Cuba só abriga seus próprios invertebrados ou cidadãos silenciosos. Aliás, Lula voltou do seu mais novo périplo africano desvestido da possibilidade de almejar sequer a vaga de motoboy da ONU ou do FMI, segundo declarações que deu. Nobel da Paz, então, nem pensar. Leia o artigo completo de Flávio Tavares, mas preste bem atenção ao período final.

CLIPPING
Jornal Zero Hora, domingo.

ARTIGOS
Crime & negócios, por Flávio Tavares*
Estamos todos perplexos, país afora, pelo tom macabro do assassinato de Eliza Samudio, até aqui anônima amante de Bruno das Dores, goleiro do Flamengo, do Rio, com quem teve um filho de poucos meses. Ele armou a cilada que levou ao sequestro em que a estrangularam – e o crime seria brutal se concluísse aí. Mas, depois, o ex-policial pago para estrangulá-la, esquartejou o corpo, desossou-o como rês em açougue, juntou os ossos num saco e deu a carne a famintos cães rottweiler.Que crime é esse? Nem o mais perverso autor de folhetim policial ousaria inventá-lo, juntando tanta atrocidade!Astro do futebol, Bruno ganha uns R$ 400 mil ao mês (entre salário e patrocínios) e, preso, confessou sua dor: a de não jogar na Seleção na Copa de 2014... Não fosse o tormento de consciência de um cúmplice adolescente (que revelou o horror), todos nós iríamos aplaudir o mandante do crime quando a maré da Copa invadir o Brasil, daqui a quatro anos.Nada disto é tão grave, porém, quanto outro crime cujo andamento o país acompanhou passo a passo: o novo Código Florestal, aprovado por comissão especial da Câmara dos Deputados, que entrega bosques e florestas à sanha do desmatamento.Sim, pois este foi um crime pensado e debatido ao longo de meses. Não foi um crime passional, em que paixão e ódio se misturam em estímulos mútuos, e a irritação pode desencadear crueldades como as do goleiro Bruno.A Câmara Federal perpetrou algo ainda mais tresloucado, conduzida pela chamada “bancada ruralista” e sob comando do deputado Aldo Rebelo, do PC do B paulista, relator do projeto de reforma ao Código Florestal! A opinião de cientistas e técnicos não foi ouvida nem prevaleceu o bom senso. Predominou o interesse mesquinho de lucro a curto prazo. Nunca a vida nem o futuro. O deputado-relator sequer se lembrou de que o grande guia do seu partido chamou-se João Amazonas, cujo nome leva automaticamente à floresta.De que valem os alertas sobre a fragilidade do planeta, sobre a necessidade de preservar rios e florestas para manter a própria vida na Terra? Agora, foram abolidos praticamente todos os obstáculos à devastação contidos no código atual.Para coroar o crime insano (e talvez insanável), serão perdoadas as multas aplicadas a quem desmatou até julho de 2008, sob pretexto de “regularizar sua situação”. As multas – mais de R$ 8 bilhões – seriam usadas em políticas de reflorestamento. Mais terrível do que isso, porém, é o precedente de que a lei fixe data para legalizar o crime de desmatar!O delito está em todas as partes. Ou não é crime prestigiar a um criminoso, aplaudi-lo, abraçá-lo como irmão?O que foi a visita do presidente do Brasil ao facínora Obiang Mbasogo, que há 30 anos governa pelo terror a Guiné Equatorial, torturado rincão da África? Lula da Silva comprometeu-se até com o pedido do ditador de incorporar a Guiné à Comunidade de Países de Língua Portuguesa, ainda que lá ninguém fale português.“Negócios são negócios”, disse o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, justificando o gesto e em alusão ao petróleo.O mesmo dirá o ex-policial Neném, que estrangulou Eliza, esquartejou e desossou o cadáver e, depois, o deu de comer aos cães. Afinal, “matador” é o seu ofício e “negócios são negócios”. Ou não?
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