No seu livro de memórias, o jurista paulista Saulo Ramos
conta na página 131 que foi o presidente José Sarney quem nomeou José Celso de
Mello Filho para ministro do Supremo Tribunal Federal.Em “Código da Vida”, 467 páginas, editora Planeta, ele
conta desta forma o episódio:
- Na Consultoria (Saulo foi Consultor Geral da República
no governo Sarney) eu contava com a colaboração do secretário-geral, o jovem
promotor público de São Paulo, José Celso de Mello Filho, requisitado para
prestar serviços à Presidência. Talento inegável. Eis que surgiu mais uma vaga
no STF.Sarney já havia nomeado Carlos Madeira, Sepúlveda Pertence e Paulo
Brossard. Indiquei Celso de Mello, mas o ministro Oscar Correia queria Carlos
Velloso. Eu venci.
. Mais adiante, na página 169, Saulo Ramos conta que tão
logo Sarney saiu da presidência, decidiu mudar o domicílio eleitoral para o
Amapá e o caso foi parar no STF. A Corte estava naquele momento em recesso.
Leia o que conta o ex-chefe do ministro Celso de Mello e seu padrinho político
na indicação para o Supremo:
. O ministro Celso de Mello, meu ex-secretário na
Consultoria Geral da República, me telefonou:
- O processo do presidente será distribuído amanhã. Em
Brasília só estamos eu e o marco Aurélio, primo de Collor. Não sei como ele
votará.
. Celso de Mello concordou com a tese de que era
indiscutível a matéria de fato, isto é, a transferência do domicílio eleitoral
no prazo da lei. Até porque não se pode confundir domicílio civil e domicílio
eleitoral.
.
O caso foi distribuído para Marco Aurélio, que liminarmente beneficiou Sarney. No livro, o
desfecho é contado deste modo:
. Veio o dia do julgamento do mérito pelo plenário,
Sarney ganhou, mas o último a votar foi o ministro Celso de Mello, que votou
pela cassação da candidatura do Sarney.
. De qualquer modo, Celso de Mello foi voto vencido, mas
Saulo Ramos demonstrou perplexidade:
- Ele não teve sequer a gentileza, ou habilidade, de
dar-se por impedido. Votou contra o presidente que o nomeara, depois de ter
demonstrado grande preocupação com a hipótese de Marco Aurélio ser o relator.
. A partir daqui, vai o que consta da página 170:
Apressou-se ele mesmo a me telefonar, explicando:
- Doutor Saul, o senhor deve ter estranhado o meu voto.
- Claro ! O que deu em você ?
- É que a Folha de S. Paulo, na véspera da votação,
noticiou que o presidente tinha os votos dos ministros e enumerou vários nomes,
inclusive o meu. Quando chegou a minha vez, notei que ele já tinha vencido e
votei para desmentir a Folha de S. Paulo. Mas fique tranquilo, poque se meu voto fosse decidisivo, eu teria
votado a favor do presidente.
- Espere um pouco,. Deixe-me ver se compreendi bem. Você
votou contra o Sarney porque a Folha noticiou que você votaria a favor ?
- Sim.
- E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou a
sua vez de vogtar, você, nesse caso, votaria a favor dele ?
- Exatamente. O senhor entendeu ?
- Entendi. Entebndi que você é um juiz cde merda !
Bati o telefone e nunca mais falei com ele.