A Lava-Jato só seria possível em Curitiba. Em São Paulo, ama-se muito o dinheiro para sediar uma operação desse tipo. No Rio, ama-se demais a malandragem. Em ambas as cidades, as investigações seriam interrompidas já no começo. Em São Paulo, pela força dura da grana. No Rio, pelo poder mole da delinquência afável.
Em Porto Alegre, a Lava-Jato também não vicejaria, porque a cidade, como nenhuma outra do país, vive atormentada pela ideologia. Porto Alegre é a capital do fundamentalismo. Qualquer fundamentalismo. Não há a suavização do pragmatismo paulista ou da tolerância carioca. Há uma estúpida nobreza de sentimentos que torna tudo rascante, tudo caso de confronto. O sujeito não é um idiota, mas age como um idiota porque acha que é o certo a fazer. O que, em geral, o transforma em um idiota. E emperra a cidade porque há oposição a tudo e, sempre, oposição incondicional.
Em Curitiba, há uma elite cultural parecida com a porto-alegrense, de boa formação cultural. Só que, em Curitiba, essa elite cultural está a salvo da tacanhice ideológica. Há, também, boa qualidade de vida, como em São Paulo, sem o exagero da riqueza obscena. E certa dose de cosmopolitismo, como no Rio, sem o contágio da doce parceria na contravenção.
Por estar longe demais das capitais, Curitiba teve tempo e ambiente para se transformar na matriz de uma nova casta de funcionários públicos que se formou no país.
CLIQUE AQUI para ler mais.