A nação brasileira está colocada diante do mais grave
desafio da história da República. Precisamos definir rapidamente, diante do
processo em curso de acelerada degradação nacional e de desagregação social, no
bojo da nossa maior crise econômica do século, se o Brasil será uma nação
soberana, capaz de afirmar sua autonomia no contexto internacional, ou se nos
transformaremos definitivamente em servos de uma ordem global totalitária, que
nos recusa o direito de partilhar minimamente das conquistas civilizatórias da
humanidade.
O governo brasileiro já não dirige o país. Fernando
Henrique abdicou da responsabilidade constitucional de governar, transferindo-a
para os gestores dos organismos financeiros das grandes potências e para os
especuladores internacionais. Perdeu a autoridade e a credibilidade -interna e
externamente-, induzindo o país a uma situação de anomia cujo desfecho,
ironicamente, vem sendo adiado apenas pela regulação predatória imposta pelo
FMI, que organiza precariamente o caos para combinar seus dois objetivos
estratégicos: esgotar todas as possibilidades de expropriação da nação e
constituir mecanismos protetivos para minimizar os efeitos da
"quebra" do Brasil nas economias de países hegemônicos.
O desfecho dessa situação de ingovernabilidade poderá ser ainda mais grave: são visíveis os sinais de que a deterioração econômica contém a possibilidade concreta de uma crise institucional, que poderá comprometer a ordem constitucional já debilitada e, pela via autoritária -tão sedutora para as nossas elites-, impor à sociedade os "ajustes" preconizados pela ordem global. Mesmo que para tanto o "poder real" tenha que sufocar a reação legítima da sociedade civil e, no limite, reprimir seletiva ou ostensivamente os movimentos sociais.
A nação brasileira, diante de um presidente apático, inepto e irresponsável, precisa reagir com os instrumentos que a Constituição autoriza, mobilizando todas as energias da sociedade civil na perspectiva da construção de um novo contrato social.
CLIQUE AQUI para ler tudo. O artigo de Tarso Genro foi escrito e publicado no dia 25 de janeiro de 1999 e referia-se ao governo FHC.