A entrevista a seguir foi concedida pelo prefeito José Fortunati ao repórter Guilherme Kolling, Jornal do Comércio. O prefeito completou 5 anos, 3 meses e 1 semana à
frente do Paço Municipal. JOÃO
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A agenda desta sexta-feira do prefeito de Porto Alegre
prevê compromissos comuns: inicia o expediente às 8h30min, participa da reunião
semanal da coordenação da saúde e segue em atividades até a noite - a última,
às 19h, é um evento esportivo na comunidade da Bom Jesus.
Entretanto, esse é um dia especial para José Fortunati.
Marca o momento em que ele se torna o chefe do Executivo da Capital com mais
tempo de mandato desde a redemocratização: já são 5 anos, 3 meses e 1 semana ?
ele assumiu o Paço Municipal, em 30 de março de 2010. Com isso, ultrapassa
Tarso Genro (PT) e José Fogaça (PMDB), ex-prefeitos que, eleitos duas vezes
para o cargo, ficaram 5 anos e 3 meses no comando da cidade - ambos renunciaram
para concorrer ao governo do Estado.
Aliás, foi quando Fogaça deixou o Executivo que
Fortunati, vice na época, realizou o sonho de ser prefeito, algo que
ambicionava há tempos. Nos anos 1990, era deputado federal, líder da bancada do
PT na Câmara, e foi escolhido para formar chapa com Raul Pont (PT) em 1996 e
ser candidato a vice-prefeito da Capital. "Renunciei ao meu mandato para
ser vice-prefeito e me preparar para ser o próximo prefeito", lembra. A
prática do PT era indicar o vice como cabeça de chapa na eleição seguinte,
então, Fortunati seria o candidato natural em 2000. Não foi, Tarso venceu a
disputa interna no partido e se elegeu.
Fortunati esperaria 10 anos para chegar ao Paço
Municipal, filiado ao PDT, partido em que ingressou em 2001 e do qual está
licenciado. Já no comando da administração municipal, Fortunati venceu no
primeiro turno a eleição de 2012 e garantiu mais quatro anos. Se ficar no cargo
até o final do mandato, serão 6 anos e 9 meses como prefeito.
Questionado sobre ter se tornado o prefeito com mais
tempo de mandato, Fortunati, hoje com 59 anos, esboça um sorriso e revela
surpresa. "Nunca tinha olhado o tempo de mandato dos meus antecessores.
Não comparo meu mandato com o dos outros. Falta um ano e meio e tenho um dever
comigo mesmo: entregar a melhor cidade possível para os porto-alegrenses."
O caminho natural seguido pela maioria dos prefeitos de
Porto Alegre é tentar a eleição ao governo do Estado. Alguns até renunciaram
para isso. José Fortunati pode concluir seu mandato no final de 2016 e, dois
anos depois, buscar o Executivo estadual. Mas revela: "Não tenho qualquer
pretensão de concorrer ao Palácio Piratini em 2018".
Apesar das dificuldades com o cronograma das obras da
Copa - o atraso rendeu muitas críticas - Fortunati é otimista e acredita que
terá concluído quase todas as intervenções no ano que vem. As exceções são as
avenidas Tronco e Severo Dullius e a passagem de nível na Plínio Brasil Milano
com Terceira Perimetral.
Também planeja finalizar, ainda no seu mandato, a
primeira fase da revitalização da orla do Guaíba, ter despoluído a praia de
Ipanema e iniciado o metrô. "Serei o prefeito com mais obras na história
de Porto Alegre", projeta.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, concedida no Paço
Municipal, na quarta-feira à tarde, Fortunati ainda fala da sua licença do PDT
e do processo de sucessão na prefeitura. Diz que não ficará neutro e lembra que
o projeto atual teve início com o prefeito José Fogaça (hoje PMDB) em 2005.
Para bom entendedor, pode ser interpretado como um apoio ao seu vice, Sebastião
Melo (PMDB), em 2016. Mas Fortunati desconversa: "No momento adequado,
faremos as articulações".
Jornal do Comércio - O senhor já é o prefeito com mais
tempo no Paço Municipal. O que pensa em deixar como legado?
José Fortunati - Uma gestão voltada a melhorar a cidade,
principalmente aos que mais precisam das políticas públicas. Que, terminado o
meu mandato, compreendam que, neste período, procurei uma modernização voltada
à qualidade de vida das pessoas.
JC - Quais suas ambições políticas para o futuro?
Fortunati - Entregar a cidade da melhor forma possível.
Sair da prefeitura no dia 31 de dezembro de 2016 de cabeça erguida, orgulhoso
do trabalho que fizemos conjuntamente. Essa é minha pretensão.
JC - E em 2018?
Fortunati - Não tenho qualquer pretensão de ser candidato
ao Palácio Piratini em 2018.
JC - Nem ao Senado?
Fortunati - É só isso... (a comentar sobre 2018, a frase
anterior).
JC - Foi uma surpresa sua licença do PDT, de maneira
irrevogável...
Fortunati - Até o final do mandato. Não estou desfiliado
do PDT, apenas licenciado. E fiz isso de forma consciente. A bancada do PDT (na
Câmara Municipal) estava votando de forma não compromissada com o Executivo, e
isso estava contaminando a base do governo. O Executivo vinha sendo derrotado
em várias votações na Câmara. Eu me licenciei dizendo que não aceito esse tipo
de postura. Se está no Executivo, tem que assumir também o ônus, não somente o
bônus. A partir do meu licenciamento do PDT, fizemos uma nova reflexão, e a
relação com a base tem se dado de maneira muito positiva.
JC - Só no final de 2016 vai pensar no seu novo partido?
Fortunati - Não descarto permanecer no PDT, como não
descarto qualquer outra alternativa, está tudo em aberto. Mas estou filiado ao
PDT.
JC - E o que vai pesar na sua decisão para escolher o
partido? Espaço na legenda, como a sigla vai lhe receber?
Fortunati - Não, não... Em relação ao PDT, tenho uma
relação muito forte, principalmente com o PDT do Interior do Estado, o pessoal
me recebe com muito carinho. Os problemas se referem à relação com a bancada na
Câmara de Vereadores. Temos o processo eleitoral no ano que vem, e permaneço
(no PDT) além do processo eleitoral.
JC - O senhor vai ficar neutro em sua sucessão à
prefeitura?
Fortunati - Não pretendo. Primeiro, não é meu estilo,
sempre tenho posições, faço política e obviamente temos um projeto de governo
que se inicia em 2005 com o prefeito José Fogaça (na época PPS, hoje PMDB), que
a gente deu continuidade. Então, no mínimo, tenho que olhar para o futuro para
que este projeto possa continuar existindo. Pretendo estar presente no
processo. No momento adequado, faremos as articulações.
JC - Na gestão da cidade, um grande projeto é o metrô. A
crise que afeta União e governo do Estado inviabiliza a obra?
Fortunati - O metrô não está descartado. É decisão da
presidenta Dilma (Rousseff, PT) viabilizá-lo. Temos que concluir a Proposta de
Manifestação de Interesse (PMI), apresentar o resultado até o final de julho,
dando o escopo técnico da obra. E conversar com o governo federal, grande
parceiro, e com o governo do Estado, para chegar à equação financeira que
permita realizar a licitação do metrô. Eu não joguei a toalha, e tenho a
convicção de que nem o governador José Ivo Sartori (PMDB) e muito menos a
presidenta Dilma jogaram.
JC - O senhor espera começar a obra na sua gestão?
Fortunati - Vou me sentir realizado se conseguir
viabilizar o início da obra. Aí o próximo prefeito pode dar continuidade. O
problema é não iniciar a obra, assume o novo prefeito, novas negociações serão
feitas, e fico temeroso de que a continuidade não aconteça. Nem que seja em
novembro de 2016, espero começar essa obra.
JC - Outro grande projeto é o Socioambiental, que pode
despoluir parte do Guaíba. Quando a cidade vai chegar aos 80% de esgoto
tratado? Haverá outra praia balneável além de Lami e Belém Novo?
Fortunati - Chegaremos ao final de 2016 muito próximos
aos 80% do tratamento de esgoto cloacal. A questão é convencer as pessoas a
fazer a ligação do esgoto domiciliar até a rede. E, de cada sete dias, em três
o Guaíba fica balneável lá na Praia de Ipanema. Assim que concluirmos a coleta
de esgoto cloacal, vamos devolver a balneabilidade àquela região.
JC - Há muitas críticas em relação às obras da Copa,
especialmente pelo prazo...
Fortunati - Ouço muito "ah, não deveriam fazer tanta
obra ao mesmo tempo". Mas aproveitamos o PAC Copa do Mundo. Sem isso, as
obras não aconteceriam. Se tivéssemos que pensar em obras para a Copa, só faria
a duplicação da Beira-Rio e o viaduto Abdias do Nascimento (na av. Pinheiro
Borda). Mas aproveitamos aquele momento em que os recursos eram oferecidos.
JC - A Copa foi um pretexto.
Fortunati - Era uma oportunidade única, hoje não consigo
buscar recursos para nenhuma nova obra pela situação em que o País se encontra.
Outra coisa importante: cada obra tem a sua história, e isso não depende da
minha vontade. Tem desapropriações, áreas tombadas pelo patrimônio histórico,
pendência judicial, faltou areia com a proibição da extração, são coisas da
vida real que temos que lidar. Para quem olha de fora, é fácil dizer que o
prazo não foi cumprido. Mas há motivos para isso.
JC - Faltou dinheiro alguma vez para as obras?
Fortunati - Faltou. Como temos contrapartida, fomos
bancando, já que o governo federal não liberava os recursos em 2013, foi
repassar em março de 2014. As obras pararam por falta de pagamento. A vida real
não deixou que se cumprisse. Mas tenho convicção de que não sou apenas o
prefeito que mais tempo ficou na prefeitura, eu sou o prefeito que mais fez
obras na história de Porto Alegre, pode voltar no tempo e somar as obras feitas
na cidade.
JC - Mais do que o prefeito Loureiro da Silva?
Fortunati - Vamos terminar o mandato com mais obras do
que o Loureiro da Silva. Não estou aqui comparando o tipo, mas o número de
obras de grande impacto. E algumas não ficarão prontas até o final do mandato.
JC - Quais?
Fortunati - A da avenida Tronco, mas será concluída, o
dinheiro já está depositado na Caixa.
JC - Dinheiro é problema?
Fortunati - Por mais paradoxal que pareça em um ano de
crise como este, o dinheiro, em princípio, não é problema.
JC - Vai faltar então Tronco, viaduto da Plínio Brasil
Milano, Severo Dullius e duplicação da Voluntários da Pátria?
Fortunati - Na Voluntários, dependemos de prédios do
governo do Estado, na Secretaria de Segurança, mas acho que sai até o final de
2016. A avenida Tronco fica 80% pronta, corredores de ônibus BRT ficarão
prontos - não conseguiremos fazer as estações dos BRT. E talvez a Severo
Dullius fique pronta. E tenho uma expectativa positiva de que vou entregar a
primeira fase do projeto da orla. Vai ser o principal cartão postal.