O Código Odebrecht é corrosivo, revelador e altamente comprometedor. A montagem ao lado é do site www.brasil247.com.br
O amigão de Lula ainda não contou tudo, mas já contaram muito sobre ele. -
A reportagem que o editor disponibiliza a seguir foi
publicada na edição de hoje do jornal O Estado de S. Paulo. É da maior
relevância e deve ser lida com extremas atenção. O relatório de 64 páginas da
Polícia Federal serviu de base para que o juiz Sérgio Moro mantivesse preso o
dono do maior grupo empresarial do País, Marcelo Odebrecht, proprietário da
Odebrecht e da Braskem, esta dona do Pólo Petroquímico de Triunfo. Ele
continuará na cadeia, junto com seu ex-diretor, Alexandrino Alencar.
A reportagem revela que a PF tem provas de que Marcelo Odebrecht tentou usar a chamada "banda podre" da própria Polícia Federal, além da OAB, para desmontar a Operação Petrolão.
Leia tudo com atenção:
A Polícia Federal sustenta ter encontrado indícios de que
o presidente da maior empreiteira do País, Marcelo Bahia Odebrecht lançou mão
de uma estratégia de confrontar as investigações da Operação Lava Jato,
buscando criar "obstáculos" e "cortinas de fumaça", que
contaria com "policiais federais dissidentes", dupla postura perante
a opinião pública, apoio estratégico de integrantes da OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil) e ataques às apurações internas da Petrobras.
"O material trazido aos autos aponta para o seu
conhecimento e participação direta nas condutas atribuídas aos demais
investigados, tendo buscado, segundo se depreende, obstaculizar as
investigações", informa o delegado da polícia federal Eduardo Mauat da
Silva, um dos coordenadores da equipe da Lava Jato.
Nas 64 páginas do relatório ainda pendente de dados sob
análise, a PF traça um panorama a partir das anotações feitas pelo próprio
Marcelo Odebrecht em seu telefone celular, a partir dos e-mails e materiais
apreendidos, para apontar tal conduta do indiciado.
"Cabe ainda examinar qual teria sido a postura de
Marcelo Odebrecht acerca do que envolve a participação da empresa nos ilícitos
investigados na Operação Lava Jato", registra a PF no documento em que
pede a manutenção da prisão preventiva do empreiteiro por desvios nos contratos
da Petrobras. Odebrecht está preso desde 19 de junho, junto com outros cinco
executivos e ex-executivos do grupo, em Curitiba.
"O dirigente Marcelo Odebtrecht ainda desce a
detalhes quanto a sua postura acerca das irregularidades apontadas, o que
certamente contrasta com a imagem que se buscou transmitir ao público",
registra o relatório. O documento é base para a denúncia formal que será
apresentada pelo Ministério Público Federal, ainda esta semana.
"Verifica-se ainda as ideias do dirigente acerca da Operação Lava Jato, o
que demonstra que o mesmo não apenas tinha pleno conhecimento das
irregularidades que envolviam o Grupo Odebrecht como pretendia adotar uma
postura de confronto em face a apuração."
Dissidentes
Um dos pontos mais graves da conduta atribuída a
Odebrecht para tentar neutralizar as investigações seria a "utilização de
'dissidentes' da Policia Federal. No Relatório de Análise 417/2015, da PF no
Paraná, consta: "Marcelo ainda elenca outros passos que devem ser tomados
identificando-os como 'ações B', tido aqui como uma espécie de plano
alternativo ao principal".
"Dentre tais ações estão 'parar apuração interna',
'expor grandes', 'desbloqueio OOG' (Odebrecht Óleo e Gás), 'blindar Tau' e
'trabalhar para anular (dissidentes PF…'. Chama a atenção esta última
alternativa, cuja intenção explícita de Marcelo Odebrecht, conforme suas
próprias palavras, é para/anular a Operação Lava Jato."
Em outro ponto das anotações do empreiteiro analisadas
pela PF, foi identificada a menção a "dissidentes PF…".
"Uma referência clara à Polícia Federal, ou pelo
menos a alguns de seus servidores, ora, ao que parece pela leitura do todo
(anotações), Marcelo teria a intenção de usar os 'dissidentes' para de alguma
forma atrapalhar o andamento das investigações, e se levarmos em consideração
as matérias (grampo na cela, descoberta de escuta, vazamento de gás, dossiês)
veiculadas nos vários meios de comunicação, nos últimos meses, que versam sobre
uma possível crise dentro do Departamento de Polícia Federal, poder-se-ia,
hipoteticamente, concluir que tal plano já estaria em andamento."
Apurações internas
Fechar Outro ponto que seria atacado por essa
suposta estratégia da empreiteira de confrontar as investigações seria em
relação às comissões internas de apurações da Petrobras.
"Chama a atenção também a preocupação de Marcelo em
relação as CIAS (Comissão Interna de Apuração) da Petrobras estarem sendo
conduzidas por ‘xiitas’ e, nas palavras dele, com seguinte linha de pensamento:
temos que encontrar 'culpado' caso contrário vamos ser acusados de
'incompetentes e/ou coniventes!'", registra a PF.
As comissões internas da estatal passaram a ser abertas
após a confissão de dois principais delatores da Lava Jato, o ex-diretor de
Abastecimento Paulo Roberto Costa e o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco. A
maior parte das já concluídas tem apontado irregularidades e indícios de
fraudes em contratos.
"Entretanto, diante da possibilidade de que as
informações produzidas pelas CIAs não fossem fidedignas seria de esperar um
esclarecimento idôneo por parte da Odebrecht, ao contrário da negativa rasa ou
a estratégia de 'cortina de fumaça' que tem sido aplicada a cada novo indício de
ilicitude que surge em relação ao Grupo Odebrecht", informa o delegado
Eduardo Mauat da Silva.
O delegado representou "pela manutenção da prisão
preventiva dos investigados" Marcelo Odebrecht e dos executivos e
ex-executivos Rogério Araújo, Márcio Faria, Alexandrino Alencar e Cesar Rocha.
"Face a necessária garantia da ordem pública e por conveniência da
instrução criminal tanto em face a potencial continuidade delitiva como pela
influência negativa que soltos poderiam promover quanto às apurações ainda em
curso."
Depoimento
Os investigados foram ouvidos e optaram pelo silêncio.
"Com exceção de Marcelo Odebrecht, que solicitou fosse consignado em seu
termo: '(…)QUE , perguntado se gostaria de dizer algo em seu favor, respondeu
que sempre esteve à disposição da Justiça, prestou depoimento anterior em
Brasília, acreditando que não seria necessário o cerceamento de sua liberdade;
QUE, continua confiando nos seus companheiros, ou seja, nos executivos que
foram detidos, acreditando na presunção de inocência dos mesmos"."
Para a PF, a partir dessa fala e diante dos elementos
contidos até aqui nas apurações, "Odebrecht aderiu de forma inconteste às
condutas imputadas aos demais investigados, considerando que delas detinha
pleno conhecimento".
O relatório aponta ainda que membros da OAB possam estar
"manipulados" dentro da suposta estratégia da Odebrecht. "A
própria OAB faria parte da estratégia de Marcelo Odebrecht, sendo certo que
nunca se observou uma atuação tão agressiva da respeitável entidade como
durante a fase 14 (Operação Erga Omnes), malgrado até o presente momento não
tenha havido qualquer evidência concreta de ofensa a prerrogativas de advogados
no exercício dessa atividade", afirma o delegado da Lava Jato.
Nota da Odebrecht
Por meio de nota, a Construtora Norberto Odebrecht
informou:
"Embora sem fundamento sólido, o indiciamento do
executivo e ex-executivos da Odebrecht já era esperado. As defesas aguardarão a
oportunidade de exercer plenamente o contraditório e o direito de defesa.
Em relação a Marcelo Odebrecht, o relatório da Polícia
Federal traz novamente interpretações distorcidas, descontextualizadas e sem
nenhuma lógica temporal de suas anotações pessoais. A mais grave é a tentativa
de atribuir a Marcelo Odebrecht a responsabilidade pelos ilícitos gravíssimos
que estão sendo apurados e envolveriam a cúpula da Polícia Federal do Paraná,
como a questão da instalação de escutas em celas dentre outras."