José Fernando Schlosser, o autor do memorando absurdo
As informações que o editor passou em primeira mão na manhã desta quinta-feira sobre o caso da UFSM já repercute no exterior e no Brasil com grande força. O jornalista Reinaldo Azevedo, Veja, aborda hoje o assunto, num artigo intitulado: "Atenção, judeus e humanistas de todas as origens ! Um ato explícito de antissemitismo na Universidade Federal de Santa Maria. E aí ? Vai ficar por isso mesmo ?
Leia tudo.
Quando a gente acha que eles já chegaram ao limite até do
intolerável, estejam certos, dão mais um passo e mergulham na abjeção mais
explícita, mais descarada, mais asquerosa. Algo de muito grave aconteceu na
Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), no Rio Grande do Sul. Trata-se de um ato explícito, acho eu, de
antissemitismo — e não adianta dourar a pílula —, que agride o Artigo 5º da
Constituição e a Lei 7.716, atualizada pela 9.459, que pune o crime de racismo.
O que aconteceu? O inimaginável.
José Fernando Schlosser, pró-reitor de pós-graduação da
UFSM, enviou um memorando a todos os chefes do programa cobrando uma relação de
alunos e professores oriundos de Israel. Ele deixou claro de quem era a
solicitação: Diretório Central de Estudantes (DCE), Seção Sindical dos Docentes
da UFSM (Sedufsm), Associação dos Servidores da UFSM (Assufsm) e Comitê
Santamariense de Solidariedade ao Povo Palestino. Vejam.
Para
quê? Com que propósito? O memorando não explicita, mas todos sabem o que todos
sabem: o objetivo era propor boicote a esses cursos e, na prática, hostilizar
os alunos e professores israelenses porque… israelenses. Talvez o tal Comitê
Santamariense de Solidariedade ao Povo Palestino tenha explicação melhor.
É claro
que se trata de uma manifestação arreganhada de antissemitismo. Ah, não? Não
tem nada a ver com o fato de serem judeus? Serve, então, uma acusação de
“anti-israelismo” — como se fosse coisa muito distinta? Por que o tal Comitê
Santamariense de Solidariedade ao Povo Palestino quer saber onde estão os
israelenses? Por que o DCE quer a lista? E as entidades de caráter sindical?
Essa
gente toda tem de ser processada. É claro que José Fernando Schlosser, com sua
espantosa irresponsabilidade, tem de encabeçar a lista. O segundo pode ser o
reitor da instituição, o senhor Paulo Burmann. Por quê? Explico. Vejam isto.
Burmann
confirma que o pedido foi mesmo feito, mas nega que o documento tenha sido
emitido com as palavras de ordem apostas ao texto “Freedom for Palestine” e
“Boycott Israel”. Em nota, afirma o seguinte:
“Diante
do fato, o reitor da UFSM, Paulo Afonso Burmann, reitera que o documento é
‘inverídico e fraudulento’ e que os responsáveis pela fraude e disseminação
serão identificados. Complementa ainda que, encaminhando o documento original,
a Instituição apenas cumpriu a Lei de Acesso à Informação.”
Uma ova,
doutor! A Lei de Acesso à Informação não serve a esse propósito. Em que a lista
de estudantes e professores judeus pode
ser útil às entidades que o solicitaram? Quer dizer que Burmann acha
grave que alguém escreva num documento “liberdade para a Palestina” e “boicote
a Israel”, mas acha normal que se encaminhe uma solicitação como aquela? O
grave, meu senhor, não está contido naquela imagem, mas no texto em si e na
iniciativa.
No
jornal Zero Hora, leio a seguinte desculpa esfarrapada:
“A
Sedufsm também nega qualquer tipo de discriminação e alega que havia pedido
informações sobre um possível convênio entre UFSM e a empresa israelense Elbit,
que fabrica armamentos e aeronaves. A justificativa para o pedido de
informações é que a Sedufsm é contra a participação da UFSM em convênio que
possa resultar em armas a serem usadas contra os palestinos, que estão em
conflito com Israel.”
Ah, não
me diga! E se for um convênio com Venezuela, Cuba, Angola, Bolívia ou Equador?
As
universidades federais, com exceções raras, tornaram-se antros da militância
ideológica mais obtusa, mais obscurantista, mais cretina e, parece-me,
potencialmente violenta. Vejo na justificativa da Sedufsm uma espécie de
confissão: ainda que o tal convênio existisse, por que alunos e professores
israelenses deveriam responder por ele?
Leio no
blog do jornalista Políbio Braga que “o professor da Ufrgs, também jornalista,
Luís Milmann, protocolou uma notícia-crime contra Schlosser no Ministério
Público Federal. Denunciou ainda a prática discriminatória à Polícia Federal, à
reitoria da UFSM, ao Ministério da Educação, à Presidência da República, à
embaixada de Israel no Brasil, ao presidente da Federação Israelita do Rio
Grande do Sul e ao Movimento Justiça e Direitos Humanos.
É o
certo. O que se deu é muito grave. Esse tipo de delinquência política,
intelectual e moral não pode mais ter lugar nas universidades brasileiras,
muito especialmente nas públicas, assaltadas por grupelhos de extrema esquerda
que se querem os intendentes de uma ordem que afronta as instituições e a
Constituição do Brasil.
Se o ato
do tal professor é asqueroso, não é menos deletéria a reação do reitor, que se
incomoda com o menos e tenta justificar o mais. A reitoria diz ainda que jamais
forneceria os respectivos nomes de alunos e professores, mas apenas a
existência ou não dessas pessoas. Ainda que fosse assim, com que propósito?
O que querem as entidades que pediram a informação? O que
quer o professor? O que quer o reitor? Que os judeus passem a circular no
campus com uniformes listrados e uma estrela amarela no peito?